18 de Novembro de 2036

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18 de Novembro de 2036

Se passaram quase dez dias desde a minha última entrada no diário Girafinha. Eu me sinto alguns anos mais velho, não dias. Percy se foi. Harald continua vivo e agora tem aliados. Acaua aparentemente tem uma nova paixão e você uma nova amiga. E eu perdi tudo isso, da mesma forma que perdi a sua adolescência.

Eu quase morri, Marie. Estou tendo muito tempo para reavaliar minha vida, principalmente em relação a você. Quando aceitei o projeto, que você nunca soube o que era mas já deve ter deduzido por agora se tratar de armas nucleares, defendi com unhas e dentes o fato de que era para você. Para o seu futuro. Em parte realmente era isso. Mas a verdade é que eu adorei. Tive uma liberdade para experimentar com tecnologias que jamais poderia de outra forma.

Me senti importante quando me deram o controle do projeto. Eu tinha uma equipe de quinze pessoas que me admirava, e estavam felizes em me seguir.  Não eram apenas armas Marie, eram tecnologias que poderiam mudar o rumo da humanidade! Mas é claro que vão apenas lembrar das armas...

Eu descobri que uma parte do urânio estava sendo desviada da nossa operação. Uma parte pequena, mas mesmo assim. Eu comecei a investigar o que estava acontecendo antes de contactar meus empregadores e descobri coordenadas para onde o urânio deveria ser levado. As entregas eram feitas por avião, com caixas soltas em paraquedas. Não havia informações sobre quem o coletaria nem para onde seria levado.

Alguém descobriu o que eu estava fazendo e forçou um acidente no meu laboratório. Eles não queriam apenas me matar, mas toda a minha equipe. Quando eu não apareci no dia do acidente, eles o culparam em mim. Como se eu fosse o criador do laboratório e do projeto. Eles limparam todos os traços deles e de urânio antes, e criaram uma fachada. 

Eles estavam pagando policiais para me matar ao invés de me prender. Eu fiz a única coisa que poderia na minha situação. Vim em busca do urânio...

Eu estive procurando por traços dele desde que cheguei. Não registrei nada no diário porque não queria te colocar em perigo. Eu ainda não quero, mas mentir para você é algo que eu não posso mais fazer, Marie. Tudo isso que aconteceu me cobrou um preço maior do que posso pagar. Nada é mais importante na minha vida do que você.

Não encontrei traços do urânio ou de quem possa tê-lo recebido aqui. Tenho certeza de que foi levado pela aldeia. Se eu tivesse os documentos de entrega poderia cruzar as datas, mas não creio que seja necessário. Quem recebeu o urânio o levou para o futuro ou para o passado.

Vou cruzar minhas informações com Kiara e Villa, e ver se chegamos a alguma conclusão. Acho que isso é tudo. Sem mais segredos com você Girafinha. Tudo que eu pude pensar no meu período de recuperação, é no quanto eu quero te ver de novo. Quero te ver crescer como não me permiti, quero ver sua carreira começar e estourar, sentar e tomar um vinho discutindo livros e arqueologia, segurar meu primeiro neto no colo...

Se não puder fazer nada disso, ao menos vou garantir que o mundo fique no caminho certo para que você possa fazer essas coisas, ou as coisas que escolher. Eu estive sem propósito por muito tempo, Marie. Não mais.  Vou resolver essa situação um padre louco por vez.

Te amo filha.

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora