04 de Novembro de 1925

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04 de Novembro de 1925

Fui despertado pelo jovem Acaua esta manhã. Trazia algo em sua mão e estava muito excitado para mostrar-me. Marie, ele tentou fazer uma girafa com gravetos e cipó, e devo admitir que não ficou muito ruim.  Ele queria que eu avaliasse sua escultura e lhe corrigisse os erros, apontando o que precisaria ser melhorado.

Ficou maravilhado quando lhe disse que o pescoço precisava ser ainda maior do que havia feito. Me questionou sobre onde poderia encontrar esse animal, mas eu não tenho o coração de lhe dizer que seria praticamente impossível para ele. Eu não sei nem se já existem girafas no Brasil esse ano. Suponho que sim, mas não tenho como ter certeza. E mesmo que existam, que prospectiva tem o jovem Acaua de visitar um zoológico no Rio ou em São Paulo?

Acabei por lhe dizer que elas estavam longe, e talvez um dia as conseguisse alcançar. Não me sinto culpado por deixar o menino seguir com um sonho. Que sei eu?

A manhã está se acabando e sigo sem sinal do meu visitante misterioso. Vou trocar histórias com Acaua agora à tarde. Volto a escrever logo.


04 de Novembro de 1925 - Parte II

Acaua me contou a história de uma mulher muito bela, que deixavaa todos que a viam perdidamente apaixonados, e que à noite virava algum tipo de peixe. Estou certo de já ter ouvido essa história ou alguma variação dela.

Nessa história de Acaua, a mulher se apaixona por um jovem guerreiro (são sempre jovens guerreiros nessas histórias, não? Pescadores e marceneiros não se apaixonam também?), mas eles não podem viver esse amor. Ela sobrevive fora da água e ele não pode segui-la para o fundo.

E aqui a história ficou interessante. O guerreiro juntou duas canoas e construiu uma pequena plataforma aonde todo os dias dormia de braços trançados com a amada. Ele na plataforma e ela na água. O restante da tribo condenou o romance por motivos que não compreendi, e lhe disseram que se voltasse à plataforma elas a queimariam.

O jovem guerreiro desafiou a todos e retornou para a plataforma. A sua tribo, como prometido, queimou a plataforma com ele em cima. O jovem virou fumaça e subiu aos céus, se afastando de vez da sua amada.

A mulher pediu ajuda a alguma entidade dos céus, e essa entidade se compadeceu do seu sofrimento. Ela permitiu que o jovem voltasse para os braços da amada pela chuva. Agora todos sabem que quando chove demais, ela está reclamando sua saudade aos céus.

Foi uma história bonita, que revelou um pouco dos sentimentos desse povo. Eu não devia, mas estou me afeiçoando ao jovem Acaua.

Contei-lhe uma história que você adorava, Marie. Aladdin e o gênio da lâmpada. Ele gostou da história e do Aladdin, mas para a minha surpresa não gostou nem um pouco do gênio! Comparou-o a um demônio ou espírito mal que tentava o garoto com desejos. Achei que me encheria de perguntas sobre o gênio, mas aparentemente teve uma visão bem diferenciada da história.

Já caminhamos para o fim da tarde e ainda nada do visitante.


  04 de Novembro de 1925 - Parte III

Há uma grande comoção acontecendo na aldeia agora. Consegui ver alguns índios chegando feridos carregados por companheiros. Vi um homem velho de relance, branco e de cabelos grisalhos. Não consegui distinguir muitos detalhes porque meus guardas impediram minha visão, mas estou certo de não ser meu amigo inglês.

Guardas me mandaram parar de escrever.


04 de Novembro de 1925 - Parte IV

Recebi uma rápida visita do visitante misterioso. Ele está cuidando dos feridos nesse momento, mas quer muito conversar comigo. Ele também está ferido, mas não creio que algo grave. Foram atacados por outra tribo no caminho para cá.

Seu sotaque é alemão, e creio que o diário em alemão que encontrei lhe pertença. Não mencionarei isso a menos que precise ou possa ganhar algo com a informação.

Ele não me revelou nada, e acho que fico por aqui também. Espero uma conversa muito, muito interessante amanhã.

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora