02 de Novembro de 1925
Estive tentando conversar com os meus guardas, mas obtive pouco sucesso. Eles não demonstraram interesse em se comunicar comigo de nenhuma forma. Foi assim desde que cheguei aqui. Hoje um dos guardas foi trocado por algum motivo, e o seu substituto aos poucos se abriu para interagir comigo. Lhe ensinei algumas palavras em português, que o deixaram muito feliz, e aprendi algumas do seu idioma indígena.
Me parece um jovem curioso, inteligente e bastante interessado nas coisas que digo, mesmo sem me compreender muito. Vou reproduzir seu nome da melhor forma que o meu entendimento permitiu. Creio que o seu nome seja Acaua, e não tenho a mais remota ideia de como seria a sua grafia. Espero ao menos estar próximo.
Com o jovem Acaua descobri poucas informações, mas já me deram algumas peças do quebra-cabeça a mais. A primeira é que eles têm conhecimento da aldeia que me trouxe a esse quando. Não sei até que ponto, mas estou certo de que sabem que a aldeia é diferente. Ele demonstrou medo ao falar sobre ela e um pouco de hesitação, quase como se mencioná-la atraísse algum mal.
A segunda informação que obtive com Acaua é a de que estão esperando alguém. Uma pessoa que deve chegar em breve e falar comigo. Não entendi de quem se tratava, mas me parece ser algo externo à sua tribo. Talvez de algum grupo amigo.
02 de Novembro de 1925 – Parte II
Acaua tentou me contar alguma história que acredito ser sobre um herói de seu povo. Não pude compreender muito do conteúdo, pelo impedimento do idioma, mas aprendi um pouco mais sobre o garoto.
A história tratava de algum guerreiro enfrentando um desafio que não tenho ideia do que seja, mas aparentava ser muito difícil. Os olhos dele brilhavam ao contar a história, e fazia movimentos como uma criança enfrentando um monstro imaginário. O herói enfrentou algo e se feriu. Já não podia utilizar a sua lança, pois seu braço estava quebrado, e não dispunha de outras armas. O herói então teve que utilizar da sua inteligência e perspicácia para enfrentar seu inimigo. Prendeu a sua lança em uma árvore e fez com o que o seu atacante se lançasse sobre ela.
Foi uma história inteligente, e confesso que gostei bastante dela. Creio que a minha oportunidade de fazer um aliado aqui se dê por meio de histórias. Quando terminou a sua, Acaua ficou um tempo me observando em silêncio, como se esperasse algo de mim. Sinalizou-me com as mãos e compreendi que esperava que eu lhe contasse uma história também.
Contei-lhe sobre a nossa primeira visita ao zoológico municipal, Marie. E fiz o meu melhor para descrever os animais com movimentos.
O jovem ficou encantado com todos os animais, mas quando lhe contei sobre a girafa ele ficou espantado e encheu-me de perguntas sobre ela. Como comia com um pescoço tão grande? De que forma corria um animal daqueles?
Como a vida é estranha, não é Marie? Atravessei o tempo, me meti no ponto mais obscuro e perdido da floresta amazônica, e ali encontrei alguém que teve a mesma fascinação infantil e sonhadora pela girafa que você.
Esse pequeno fato iluminou o meu dia, e me lembrou do porquê preciso sobreviver e sair daqui. Você Marie.
Vou encontrar alguma forma de convencer o garoto a me ajudar a escapar para aldeia. Ele sabe onde ela está, e eu já não me importo se encontrarei o meu quando ali. Monto acampamento e tento todos os dias se necessário for. Eu vou retornar ao meu tempo, e vou expor aqueles malditos que tentaram me matar e agora destroem o meu nome.
Você me dá forças girafinha. Durma bem.
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O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)
Science Fiction1975 Igor Jankov fugiu para o meio da floresta amazônica em busca de pistas que possam livrar o seu nome de um acidente, e o reaproximar de sua filha Marie. Ele vai descobrir uma aldeia que esconde perigosos segredos, e terá que lutar para sobrevive...