31 de Outubro de 1925

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31 de Outubro de 1925

Marie, quando despertei hoje pela manhã o velho estava sentado na minha oca aguardando. Ele não quis me revelar a sua identidade, mas fala com pesado sotaque britânico. Agora que me sinto um pouco melhor e estava em uma situação mais calma, pude observá-lo melhor. Ele está beirando os sessenta anos, se já não os tem, mas possui uma excelente forma física para a sua idade, o que me faz pensar que seja algum explorador ou militar. Tem a barba longa, mas não bem cuidada. Possui uma deformidade ou ferimento na perna, mas parece bem defensivo sobre, não tive coragem de perguntar-lhe algo, pois não o quero irritar.

Eu consegui tirar algumas informações importantes com ele aqui. Vou tentar reproduzir o nosso diálogo da melhor forma que a minha memória permitir.

– Não pode ficar aqui hoje. Pegue tudo que não quer perder e venha comigo.

– Não posso por quê? – Eu lhe perguntei.

– Por que estão me procurando aqui, e se encontrarem você...

– E quem é você?

Nesse ponto ele saiu da minha oca e me aguardou do lado de fora. Juntei minhas coisas e escondi o que não pude carregar da melhor forma possível. Assim que saí me conduziu para fora da aldeia sem engajar em conversação. Com um pouco de esforço consegui arrancar dele que estamos em algum ponto de 1925, que existe uma tribo selvagem o perseguindo nesse quando, e tenho quase certeza de que essa é a sua linha temporal original, mesmo ele não me tendo dado essa confirmação explícita.

Escondemos-nos em uma caverna, que eu tenho quase certeza ser aquela que presenciei a preguiça gigante escavando. Aqui dentro (escrevo o relato na caverna) existem algumas pinturas que deixariam arqueólogos malucos. Homens atirando com metralhadoras contra nativos, algo que parece um avião, mas um pouco diferente do que conheço. Talvez algo futuro, ou sua representação foi influenciada por medo.

Não sei se os nativos foram para o futuro ou os homens armados para o passado. Me parece ser a última, mas se sim, como trouxeram um avião para o passado? A aldeia não me parece uma boa pista de decolagem.

Meu amigo se recusa a se identificar, e não vou insistir. Creio que todos temos direito a privacidade e segredos. Reproduzo um pouco mais da conversa que acabamos de ter.

– Por que está aqui? – Ele me perguntou.

– Estou procurando por algo.

– Sim, todos estamos. Uma cidade, uma fonte, uma vila, uma tribo perdida, uma aldeia, um artefato... Qual é a sua?

– Uma operação ilegal.

– Ah! – Ele me disse um pouco surpreso – Essa é nova para mim. Que tipo de operação?

– O tipo que não se revela antes de ter certeza de que pode confiar no ouvinte.

– Fair enough. – Ele me disse em inglês. – Segredos custam caro. De quando você veio?

– De 1975.

– Ora! O ano central. Não suponho que possua informações do porque a aldeia anda pelo tempo?

– Na verdade esperava encontrar respostas com você...

– Não nesse quesito, infelizmente. Começo a pensar que ninguém saiba.

Marie, alguém está do lado de fora da caverna. Continuo depois.


31 de Outubro de 1925 – Parte II

Marie... Fui capturado. Meu amigo inglês se perdeu na mata com índios o perseguindo. Ouvi tiros e gritos, mas não sei o que se passou. Estou em uma oca com dois guardas me observando. Não é uma aldeia como a minha. Existem pilhas de crânios e ossos espalhadas por aqui, e todos me olham com raiva. Os índios, não os crânios. 

Desculpe, acho que faço piadas quando estou nervoso. É um hábito que preciso perder.

Quando me trouxeram vi um deles realizando algum ritual com um corpo. Cantava algo e brandia um tipo de vegetação soltando fumaça. Um de seus ajudantes estava desmembrando o corpo.

Acho que são canibais, Marie. Vou parar porque meus guardas já me olham de forma estranha. Se for possível volto a escrever-lhe amanhã.

Saudades Girafinha.

O Diário de Igor Jankov (Pausado temporariamente)Onde histórias criam vida. Descubra agora