Capítulo 20

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Capítulo 20, Archie e Ivy.

Archie.

— Legal, qual é o seu plano? — pergunto a Alec, logo após Joseph sair.

— Como assim?

— Não vá me dizer que fez isso à toa, alguma coisa você deve ter conseguido. Que galpão é esse?

Alexis decidi nos deixar sozinhos. Ou não queria ouvir sobre o assunto ou estava preocupada demais com ele, pois foi até a cozinha.

— É o galpão da guarda real. Usávamos para fazer reuniões e normalmente era onde davam os comunicados.

— E que papo foi esse de "como em muitas outras cidades"?

— Achou o que? Que tentaríamos acabar com a monarquia tendo apenas o povo de Allegra? — ironiza.

— Houveram mais explosões então? — concluo.

— Querem espalhar as tropas, assim conseguirão tirar o foco na busca da princesa desaparecida. Eles não têm como controlar diferentes partes de um reino inteiro e se preocuparem com o sumiço de alguém, que pode estar até morto, ao mesmo tempo.

Era uma ótima estratégia, precisava admitir.

— Não sabe de nada que possamos fazer? Não quero ficar parado.

— Mas era o que estava fazendo nessas últimas horas — ele rebate.

— Eu pensei que ainda tivéssemos tempo.

Ele fica mais compreensível.

— Será mais difícil tentarmos escapar agora, mas ao mesmo tempo não precisa se preocupar tanto... sairemos daqui mais cedo do que imagina. Vão invadir aquele palácio até o final da semana. A única coisa que precisavam para começar era uma garantia... Uma garantia de vitória tão grande quanto Alexis.

— Que droga! — acabo resmungando com o estresse.

Alec recosta a cabeça na parede e Alexis entra novamente na sala. Viro-me, deixando que me ocupe apenas com os pensamentos relevantes. Nosso tempo de conversa civilizada tinha acabado.

{...}

Ivy.

Não aguento mais ficar aqui. Rafaela já dormiu, acordou, dormiu novamente, comeu, tomou banho, dormiu mais uma vez e acordou. Não poderia mais dar remédios para fazê-la adormecer, era apenas uma criança precisando de amparo.

Ela abre os olhinhos e se vira na cama na minha direção, estava sentada em uma poltrona perto dela. Fui obrigada a ficar supervisionando Rafaela durante o dia inteiro.

— Moça... Qual é o seu nome? — ela pergunta com a voz arrasta.

Levanto-me e vou me sentar ao seu lado na cama.

— Não sei se posso te dizer. Mas a senhorita gostaria muito de saber?

Ela concorda com a cabeça.

— É Ivy Coleman, só que isso é um segredinho nosso.

Rafaela sorri satisfeita com a descoberta e cochicha, tampando a boca com a mão — mesmo não tendo ninguém além de nós duas no quarto:

— Pode me chamar de Rafa.

Rio, tirando uma mecha de cabelo sobre o seu olho.

Aquela menininha sofreria tanto, ainda mais com a notícia que recebi no início da tarde. Não deixaram que a verdade fosse ao ar, queriam ter certeza... Todos esperávamos pelo impossível.

A rainha se trancou em seus aposentos, após ordenar que o comunicado dado no jornal seria de "um estado gravíssimo de saúde". Fui praticamente responsabilizada a ser quem acalmaria sua filha e teria de dar a notícia.

— Rafa, o que você acha que aconteceu com a princesa Nice?

Seu olhar se estreia e ela se senta ao meu lado.

— Ela morreu, ué.

— Sim — tento me explicar. — Mas o que significa isso?

Ela segura as mãos na frente do corpo pensativa.

— Nice e eu amávamos ir na estufa. As flores prediletas dela eram as rosas amarelas. Temos um espaço para cada uma das nossas flores. As minhas são violetas, da Alexis tulipas roxas, do papai orquídeas brancas e da mamãe são copos de leite marsala. Então sempre que vou lá e vejo as da Nice, lembro dela.

"Mamãe sempre diz que ela está no céu, que virou uma estrela. Mas quando eu olho pro céu, não consigo ver a Nice... Talvez ela não goste de brilhar tanto para mim."

"Eu acho que ela virou uma rosa amarela. Nice amaria ter virado uma rosa amarela e eu iria amar ser uma violeta. Eu poderia viver ao lado dela na estufa."

Passo um braço ao redor dos seus ombros, tentando me manter menos abalada o possível. Ela precisaria de mim agora.

— Rafinha... O seu papai se tornou uma orquídea branca.

As palavras saem embargadas da minha boca, imagino que não tenha entendido direito o que digo. Ela levanta o olhar aguado para mim.

— Eu sei — diz para a minha surpresa. — Eu escutei os comentários nos corredores. Fingi que estava dormindo para você não me dar de novo um copo desse leite.

Não sei o que dizer. Ela é uma menininha muito mais esperta e madura do que eu imaginava.

— Por que mamãe não veio falar comigo? — pergunta baixinho.

— Ela está muito triste e cheia de problemas.

Seu rostinho se contorce com o choro.

— Papai foi um egoísta.

— Por quê? — pergunto preocupada com o seu comentário.

— Ele foi ficar com Nice e Alexis, me deixou aqui sozinha com a mamãe.

— Mas a Alexis não morreu, meu amor.

— Ela deixou a gente também, Ivy — diz como se tentasse me explicar algo que eu não estava sendo capaz de entender. — Alexis não queria ser uma rainha.

"Por que eu vou ter que ser uma agora? Por que eu também não posso virar uma flor?"

Não consigo mais aguentar, sinto lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas. Como poderia ser capaz de explicá-la?

Digo mais nada a princípio. Abraço Rafaela, deixando que chore no meu colo por quanto tempo quisesse.

— A Alexis não te abandonou. Ela vai voltar, eu prometo — digo por fim, alisando os seus cabelos.

{...}

Archie.

Quando Maddox surgiu novamente na televisão em um plantão emergencial, foi nítido como o pior estava por vim. Já não bastava as constantes notícias de que inúmeros galpões, o anfiteatro real, estábulos da casa de veraneio da família Morgenstern e propriedades das famílias de linhagem estavam em chamas ou destruídos; a morte do rei Adam veio à tona.

Ele tinha morrido algumas horas antes. E com certeza a última coisa que deveria acontecer era isso, mas não estava mais nos domínios da rainha Scarlett manter tal ocorrido fora do alcance do público.

Eu tinha dado a minha palavra a ela, porém agora pensaria que eu também estava desaparecido junto de sua filha do meio. Além de ter perdido Nice e o marido em um período tão curto de tempo. Ninguém aguentaria se manter tão firme, não poderia julgá-la.

Todos os cacos que catei de Alexis se despedaçaram em muitos outros. Ela se fechou por completo. Não queria ter ninguém por perto, absolutamente ninguém. E por mais que eu quisesse ser capaz de poder livrá-la de todos esses horrores, precisei respeitar o seu espaço. Afinal, não podia curá-la... Eu estava longe de ser quem teria essa capacidade.

Alexis podia até me aceitar como o cara que iria dividir o resto da sua vida, no entanto estava bem longe de me amar.

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