Uma breve aventura

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Depois de três dias explorando os longos corredores da caverna de paredes negras, enfrentado a enorme serpente, Rufio conseguiu ver a luz do sol outra vez. Se livrar do cheiro de mofo misturado com bicho morto aliviava a alma.

Sair da caverna foi tão difícil quanto entrar. Quando exploraram os túneis já construídos pelos mineiros que trabalhavam ali, foi fácil. Mas, depois que chegaram nas cavernas naturais, tudo ficou muito difícil. A descida era complicada, a movimentação dificultada pela umidade do chão, respirar o fedor do ambiente, descansar naquele lugar assustador.

Na volta, tinham que carregar a cabeça do bicho que foram lá caçar. Era grande e pesada, com escamas que pareciam feitas de metal. Carregá-la caverna acima foi um fardo.

Do lado de fora e livre da tarefa, seguiram por mais alguns quilômetros até o ponto de encontro e esperaram por mais meio dia, quando a mulher de capuz surgiu.

— Pelo cheiro e volume dessa carga vocês já têm o que eu pedi — comentou a estranha. — Posso ver?

A loira que acompanhou Rufio na missão tirou a capa da cabeça e entregou algumas escamas, que não eram tão pesadas nem tão rígidas, mas também pareciam metal ou um couro tão duro quanto.

— Fantástico — disse a mulher de capuz. — Elas comem as pedras e sintetizam em seu corpo os minerais da rocha.

— Estranhamente cavam fundo — disse o arqueiro que também estava na expedição. — Sempre para baixo. Reparei que as escamas mais velhas eram marrons, as medianas, brancas, e as mais jovens, negras e mais fortes.

— Sim — respondeu a estranha atônita. — Ela sintetiza o que come, conforme o que está disponível. Essa deve ter sido mais durona por habitar um veio de metal ou sei lá o que é esse material negro. Como a mataram?

— Eletricidade — respondeu a loira com um sorriso.

— Sim. Faz sentido. Mas se ela não tivesse as escamas negras, poderia não ter funcionado. Aí talvez o fogo fosse a arma mais apropriada.

Rufio e o arqueiro se entreolharam, sem entender nada.

— O que você vai fazer com ela? — Perguntou Rufio para a mulher. — Se eu puder perguntar, é claro.

A estranha tirou o capuz revelando seus longos cabelos ruivos. Os olhos verdes brilharam com o reflexo do sol, ressaltando sua pele branca e seus lábios rosados.

— Catalogar — respondeu limpando o suor da testa. — Quando consigo uma amostra assim e ainda quando consigo descobrir o que comem. Mais dados para o catálogo.

— Você entende de química então?

— Um pouco. Só o suficiente. A caverna está limpa?

Os três abanaram a cabeça.

— Então peguem isso. — A ruiva entregou para eles uma caderneta onde estaria a promissória do pagamento. Ela pegou a cabeça da besta, colocou em uma carroça e subiu para partir.

A loira abriu a caderneta e verificou a validade do documento.

— Hei, cabelo de fogo — gritou para a mulher sobre a carroça. — Você trabalha para o Von Bougherberg?

— Ele tem algumas dívidas comigo. Aliás, meu nome é Ivy. Se quiserem mais trabalho, podem me encontrar no bar em frente à Torre de Pedra. Porto Seguro. Às vezes estou por lá.

E assim a ruiva desapareceu com a cabeça daquela fera que um diachamariam de Dragão de Pedra.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde histórias criam vida. Descubra agora