Capítulo VIII - Episódio 30

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Sabrina não perdeu a oportunidade de continuar com seus testes. Apesar de Ivy reclamar do que ela estava fazendo, Sabrina sentia uma curiosidade imensa, a ponto de ignorar qualquer coisa em sua volta.

Por que a Alma dos animais é tão diferente? Fraca. Inútil.

Na primeira vez em que analisou e desprezou a Alma de um animal, se sentiu mal. Entretanto, quanto mais experimentava, mais entendia. Eles são seres desalmados. E, talvez por ser uma Animante, entendia isso no âmbito da Alma. Não havia nada errado. A natureza era assim: não dava Alma para qualquer ser vivo.

Por outro lado, a Animancia é a arte que estuda a animação. E mesmo a pouca energia que estava ligada aos animais deveria significar algo. Era algo que os mantinha vivos.

Mas e nós, humanos? O que somos?

A pergunta vinha a todo momento à sua mente, mas a resposta era sempre o vazio e o silêncio.

Naquele dia, depois de a águia ter escapado e de

ter perdido a sua mesa de estudo, devido ao ataque de fúria de Ivy, Sabrina resolveu continuar os testes com uma galinha, que era menos agressiva e não tentava a ferir. Enquanto olhava para a galinha e manipulava a pouca energia que seu corpo possuía, Ivy entrou no quarto, abrindo a porta com força.

— Sabrina!

— Ivy — respondeu, com a voz baixa. Olhou para a amiga, mas sua visão estava um pouco turva.

— Veja isso! — Ivy gritou, com um enorme sorriso em seu rosto.

Aos poucos, a pele de Ivy, que era branca como a neve, foi se tornando vermelha, como se tivesse sido agredida pelo sol. Sua íris, verde-esmeralda, ia aos poucos tornando-se tão brilhante quanto o sol, tão intensa como uma tocha. Seus músculos retesaram e ficaram maiores do que Sabrina jamais havia visto.

Mas ali não era o corpo que precisava ser visto. Sabrina ativou seu olhar, aquele capaz de enxergar a Alma de uma pessoa. Aos poucos, o corpo de Ivy foi se transformando em um tom avermelhado, revelando o fogo correndo em suas veias.

Diferentemente da primeira vez, Sabrina entendeu uma coisa que antes não fora capaz de enxergar. Como a Túnica da Alma de Ivy era muito densa, não conseguia ver por dentro. Mas agora o que estava lá dentro era intenso e seu brilho atravessava a Túnica com facilidade.

Por dentro do corpo de Ivy, riscos atravessavam, circulando por todo o Receptáculo, como se o fluxo de fogo seguisse um caminho complexo. O mesmo fluxo não estava presente em Derris nem em Urak nem nos outros que Sabrina inspecionou no Antro das Almas.

A Alma de Ivy era a coisa mais estranha que já havia visto em todo seu estudo. Tão fechada, mas tão cheia de detalhes.

No meio da análise, reparou que a amiga a observava e esperava por algo, algum comentário. Se deu conta do progresso que vinha observando nela, de como a fúria tinha a ver com tudo isso.

Fúria! Fogo!

Sabrina sorriu, mas não foi capaz de andar. Estava fraca e nessa última análise utilizou toda a energia restante que possuía.

Antes de cair, Ivy avançou e, rápida como um tigre, a segurou. Sentiu o calor no corpo da amiga e a abraçou. Entretanto, Ivy estava perplexa, com os olhos arregalados e cenho franzido.

— O que é isso? — Perguntou Ivy, levantando a mão de Sabrina, que mal tinha força para impedi-la. Da ponta dos dedos em direção ao braço, marcas negras cresciam e avançavam, como um veneno indo em busca do coração da vítima.

— Animancia tem um preço, Ivy.

— Cale a sua boca — disse ela, nervosa. Sabrina pôde sentir seu corpo esquentar ainda mais. — Venha descansar... E comer algo.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde histórias criam vida. Descubra agora