Capítulo VI - Episódio 22

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Após deixar o galpão vazio, a Vala e Borya com os soldados no quartel, Derris andou em direção a sua casa. Parou em uma das diversas praças da Cidade Alta e descansou. Com as mãos tapando seu rosto, milhões de pensamentos vieram à sua cabeça.

Tentou calcular o tamanho do estrago que o extravio das armas poderia causar. Elas eram boas contra os soldados da cidade, pois segundo os testes que fizeram, usando espantalhos cobertos com armaduras, notaram que os disparos com a pólvora penetravam com facilidade o ferro e só com o uso de espadas, os guardas teriam poucas chances de se defender.

Se as armas tivessem caído nas mãos dos Terras-Ruins da Vala, considerando a crise atual e a fuga de Shidra Muhhab, eles poderiam se rebelar mais uma vez e desta vez com muito mais chances de sucesso que no passado. Naquela época, imaginavam que eles estavam acumulando armas normais para uma rebelião. Desta vez, poderiam estar com equipamentos muito mais poderosos do que qualquer um pudesse ter.

Tudo isso trouxe à tona um assunto crítico: se, por acaso, os investigadores da guarda e da Torre de Pedra descobrissem algo, poderiam saber de onde as armas foram roubadas e, por consequência, quem as produziu.

Isso colocaria tudo a perder. A confiança de seu pai cairia por água abaixo e todo seu plano estaria arruinado. Isso se o próprio Ronald não se complicasse com essa situação.

Havia dois caminhos prudentes para seguir. Caminhos aos quais Derris não tinha coragem de dar continuidade, como contar ao seu pai a verdade, que estava produzindo armas, ou mentir que os "canos" tinham sido roubados.

Outra ação segura seria notificar a guarda do acontecido, mas isso também resultaria em seu pai saber a verdade em algum momento.

Mas o ponto principal dessa história era: se houvesse uma rebelião agora, sobraria algo? Sobraria a Cidade Alta? Sua casa e sua família estariam seguros? Suas ferrarias ainda existiriam depois de um conflito utilizando a destrutiva pólvora?

Nervoso, seguiu para sua casa. Queria muito conversar com Anita e pedir ajuda, mas já havia passado no quartel e ela não estava lá.

Em vez de entrar pela porta da frente, usou a entrada secreta por trás da casa, fazia um bom tempo que não a usava. Entrou, subiu a escada espiral e respirou fundo. Só precisaria atravessar a cortina e chegar ao seu quarto sem que ninguém o visse. Lá poderia tomar um trago e relaxar. Talvez uma ideia surgisse.

Elas sempre surgem!

Seu plano falhou logo quando atravessou a cortina da entrada secreta. Ali, petrificado, encontrou seu pai, que o olhava aflito.

— Derris, você está branco! — Disse o pai espantado.

— Eu... eu...

— Andou levando uma surra nos treinos de novo — disse o pai e depois gargalhou.

— E está dando resultado — disse mãe surgindo pelo gigantesco salão principal da casa, com o salto estalando sobre o parquete. — Veja como você está magro! E fortinho! — Disse ela, apalpando o tríceps do filho.

Sua mãe, trajada em um longo vestido vermelho e com um coque bem ajeitado, esperou ao lado do pai, sorrindo.

— Eu estive... — gaguejou Derris. — Na Vala. No depósito. Nunca é uma boa viagem.

— Que maravilha — disse o pai, empolgado e ajeitando o bigode. — Precisava falar com você sobre isso. Venha.

Sem opção, os dois deixaram a mãe para trás e foram até o escritório do pai. Chegando lá, em vez de tomarem o rotineiro chá ou café, Ronald abriu uma garrafa de Vinho Platinado e o serviu em duas taças, uma para ele e uma para o filho.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde histórias criam vida. Descubra agora