Capítulo V - Episódio 20

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Ansiosa, Sabrina procurou Ivy no dia seguinte, usando seu estojo sob seu vestido para realizar o ritual que tinham combinado. Entretanto, ao chegar na casa de Ivy, encontrou-a com sua roupa de viagem e armada.

Ivy lhe explicou que havia conseguido um trabalho de última hora, ao leste, próximo ao Grande Rio. Faria um mapeamento de alguns terrenos, talvez tivesse que cruzá-lo e mapear o outro lado.

Do outro lado do rio, ficava Llanuras Perdidas, um território árido e menos fértil que a Costa Vazia. Llanuras era um país controlado por Llanueres e sob domínio do Imperador do Sol, onde o povo vivia quase sob regime escravo.

Pensar nisso deixava Ivy preocupada. Ela, de pele branca, se fosse pega por lá, poderia correr risco de vida.

— E não insista para eu desistir — disse Ivy aborrecida e um pouco nervosa. — Estou preocupada e com medo, mas você sabe como isso é importante para mim. Em vinte dias estou de volta e podemos prosseguir com o que combinamos. Quem sabe você pensa um pouco sobre o que me deve também.

Sabrina viu Ivy partindo com um peso enorme em seu peito. Não era normal ver Ivy tão insegura e também tão irritada com os amigos. Agora, ela era a única pessoa com que conseguia conviver, já que Luan acabava sempre criando situações desagradáveis.

Com a partida de Ivy, Sabrina voltou à sua reclusão. Passou os dias preocupada e evitando todos. A cada dia que acordava se sentia um lixo. Passava as noites tendo pesadelos com Derris e Anita se beijando e rindo enquanto ela passava por perto. Em outros pesadelos, Anita ordenava que os soldados dessem uma surra nela e a levassem para o Arquiteto por desrespeitar as leis.

Cada vez que acordava, os pesadelos ficavam ali, latentes, flutuando em sua memória e impedindo que ela pensasse em outras coisas. A cada dia, acordava mais cansada que no dia anterior. Se deu conta de que estava em uma péssima situação quando chegou no vigésimo dia, quando encontraria Ivy. Lembrar disso foi como acordar de um eterno sono.

Antes mesmo de o Sol surgir, Sabrina banhava-se em uma banheira de madeira que parecia um barril.

Depois de expulsar tudo de ruim que estava grudado em seu corpo, sentiu-se um pouco melhor. Sabrina sempre dizia que o banho também lavava a alma. Acendeu um incenso, passou seus cremes e suas fragrâncias, vestiu-se e estava pronta para um novo dia. Um pouco mais animada.

Foi então que recebeu uma visita um tanto inesperada. Ouviu duas batidas na porta, e sua mãe entrou sem anunciar.

— Faz tanto tempo que não venho aqui — disse sua mãe, com um sorriso meigo no rosto. — Tudo bem?

O mau humor de Sabrina voltou antes de poder pensar em alguma coisa. Mal conversava com os pais há meses e não lembrava a última vez que conversou com a sua mãe. Além do mais, as últimas conversas tinham sido apenas para incomodá-la com seus estudos e as decisões de sua vida.

— O que você quer? — Sabrina perguntou irritada.

Sabrina ficou observando o lábio trêmulo de sua mãe. Ela tinha engordado desde a última vez observara o rosto dela tão de perto. Sua mãe sempre se arrumava para ficar enfeitada, hoje tinha se preparado um pouco além da conta.

— É que... — Tentou começar a mãe, que estava ficando nervosa. — Eu e seu pai queríamos tomar o café da manhã contigo.

Pronto! E agora? O que vai ser?

Sabrina despachou a mãe e voltou a se arrumar. Não precisava se arrumar mais, mas o nervosismo estava tomando conta e qualquer segundo a ajudaria. Uma convocação dessa só poderia significar que eles tentariam, mais uma vez, fazê-la mudar de ideia.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde histórias criam vida. Descubra agora