Capítulo IX - Episódio 34

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Quando Luan tocou a esfera que chamavam de o Olho, sua alma estremeceu. A quantidade de informação que recebeu através de visões foi maior do que sua mente podia aguentar.

Na primeira leva, enxergou a grande onda que se aproximava e o que estava além dela. Enxergou o que tinha gerado aquela onda. Em algum lugar, o simples sopro de algo, que transcendia a compreensão humana, havia empurrado toda a água do mundo contra o que restou de um povo que tinha contas a pagar.

Somente aquela quantidade de ar com toda a água do mundo seria capaz de fazer a Alma de um Enlouquecido tão poderoso acordar.

E, quando acordou, as visões não só trouxeram o estado atual do presente como trouxeram também o passado e o futuro que se prolongaram em sua memória. Por um ínfimo instante, teve consciência de tudo que aconteceu e de tudo o que aconteceria.

Entretanto, o lapso terminou e sua mente rompeu, incapaz de armazenar tantas informações. As lembranças do que foi visto foram se quebrando e, aos poucos, apenas pequenos fragmentos das visões foram consolidados. Quando abriu os olhos, Luan podia sentir-se oficialmente: o Enlouquecido.

Navegando na teia de estilhaços e restos de memória, Luan encontrou algo que era importante para aquele momento. Assim, como o Olho amplificou as informações que recebeu, também poderia amplificar as energias que enviasse.

Outras duas coisas também estavam latentes na mente de Luan. Uma delas era que, agora, seu estado de alerta era absoluto. Sabia o que estava acontecendo em cada parte da cidade e então entendeu que o verdadeiro inimigo deles não era os Terras-Ruins nem o regime criado pela Torre de Pedra em toda a Costa Vazia. Havia um terceiro interessado nisso tudo e ele se aproveitaria da fraqueza de todos para impor o seu poder.

O segundo conhecimento absoluto que se construiu em sua mente foi que, mesmo nunca tendo estudado Clarividência, Luan pôde se sentir um. Os poderes da visão, da água e dos ventos corriam em sua alma como se tivesse sido treinado desde criança.

Percebeu que, quase sem querer, previu a chegada de um batalhão de Terras-Ruins na Extensão dos Ventos. Eles eram muitos e os magos que os protegiam seriam derrotados facilmente pelos "cospe fogo". Eles se aproximaram, Christie avançou e começou a invocar o poder dos raios.

— São muitos — disse a Incineradora. — Meu arco não será suficiente.

— Será — respondeu Luan e só ela pôde ouvir. — Confie em mim.

Usando seus novos conhecimentos, Luan aproveitou a tempestade em forma de onda que se aproximava e desviou o fluxo dos raios para o corpo de Christie. Em alguns instantes, havia energia suficiente para destruir um batalhão inteiro de soldados.

Quando voltou a si, mesmo sendo impossível dizer que um dia Luan voltaria ao seu estado normal, se deparou com o impasse de seus amigos, Anita, Muhhab e outros rebeldes.

Despachou os demais, sabendo onde eles precisariam estar em alguns instantes e deixou Anita e Muhhab ali, pois sabia que nada os faria desistir do seu objetivo.

Luan descolou os dedos do artefato, para que pudesse reduzir um pouco o fluxo de visões.

— Prontos para a verdade? — Perguntou Luan, com a voz saindo entre o som dos trovões. — Vocês sabem o que fazer.

Respirando fundo, emergiu mais uma vez no poder que o artefato lhe entregava, os eventos que seguiram, Luan pôde presenciar de maneira onipresente.

— Anita — falou Shidra. — Não preciso de magia para saber o que vai acontecer agora.

Anita olhou para os demais soldados. Reconheceu Guido e outro soldado de seu pelotão. Os demais deram um passo ao lado, mostrando lealdade a Shidra.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde histórias criam vida. Descubra agora