Capítulo I - Episódio 6

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Quatro dias depois de sair de Porto das Pedras, Ivy chegou em Salinas. Teria chegado em três dias se não fossem as fortes pancadas de chuva que vieram insistentemente todo início e fim de dia.

No quarto dia, antes do almoço, sentindo-se imunda, Ivy atravessou a cidade até encontrar uma estalagem que havia ouvido falar muito bem. Lá se alimentou e tomou um banho.

O lugar era agradável e Ivy se sentiu confortável. Aproveitou o começo da tarde para descansar, afinal, suas pernas estavam cansadas e a virilha estava doendo devido ao longo tempo montada em cavalos.

No começo da tarde caminhou pela cidade em busca do seu contratante. O trabalho era um pouco curioso e ela poderia ajudar até certo ponto. No fim, o problema seria resolvido na lei. Um processo seria instaurado em Porto das Pedras e a decisão seria dada por um legalista.

O contratante alegou que o seu vizinho havia mudado as cercas de posição e tomado uma boa parte do seu terreno. Então, o trabalho de Ivy era relativamente fácil. Pegar a escritura, medir e apresentar um laudo. Esse documento teria valor legal, uma vez que ela era autorizada pelo governo de Porto das Pedras a realizar o trabalho voltado à agrimensura e ao resgate histórico.

Por outro lado, esses serviços poderiam se tornar um pouco perigosos. Quando um fazendeiro qualquer, de baixa renda, contratava alguém para medir sua terra em um conflito com um fazendeiro rico, geralmente esse profissional era abordado com propina ou com ameaças para abandonar o trabalho.

E era disso que Ivy queria se afastar. Tentar encontrar seu contratante sem ser percebida. Fazer a medição, escrever o laudo, pegar a grana e voltar para casa.

O homem que havia contratado Ivy era um produtor de queijos de cabra da região. Tinha um terreno costeiro com bastante grama onde criava cabras e com o leite produzia os queijos. Depois, ele os vendia no mercado central da cidade.

E era lá que Ivy acreditava que poderia encontrá-lo.

Seguiu para o mercado da cidade e o encontrou bem movimentado, mais do que esperava. Na verdade, reparou que não havia muita gente fazendo compras, mas, sim, parecia que a população havia se reunido para conversar. Em alguns pontos, alguns dos cidadãos estavam agressivos e nervosos.

Ivy chegou em uma banca e fingiu interesse em uma maçã silvestre, enquanto analisava as frutas que eram pequenas e duras, ficou atenta a uma conversa em um grupo próximo a ela.

— Ele empurrou sim — gritava um homem, vermelho de raiva e com o pescoço inchado, parecia querer explodir a qualquer momento. — Eu medi quatro vezes para garantir. Estou com quase trinta metros de terra a menos.

— Mas você viu as marcas? — Perguntou um outro de bigodes, que estava calmo e argumentando. — Digo, se ele arrancou os palanques da cerca, deve haver alguma marca no chão dos palanques antigos.

— Ele não me deixa entrar lá — gritou o homem, nervoso, com a voz rasgando. — Ele colocou os soldados com as suas bestas e setas por toda a cerca. É óbvio que faria isso. Por que ele deixaria nós entrarmos lá?

— Eu também tive problemas — disse um terceiro que não havia se manifestado até então. — Ele tomou quase a mesma quantidade de terra de mim. Aliás, como eu e Herold somos vizinhos, ele empurrou a mesma cerca contra nosso terreno.

A discussão continuou por mais um tempo e Ivy desviou sua atenção.

— De quem eles estão falando? —- perguntou Ivy ao vendedor de frutas.

— Atur Chalor.

O nome entrou como um trovão nos ouvidos de Ivy. Atur Chalor era ninguém mais do que o rei do leite. O maior produtor de queijo e derivados de toda a região. Deveria estar entre os homens que mais possuem terras em todo o mundo.

A saga dos filhos de Ethlon I - Porto das PedrasOnde histórias criam vida. Descubra agora