Capítulo 9

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– Você entrou na casa dele? – Jillian apertava as alças da mochila tão forte que as juntas de seus dedos ficaram brancas. Conforme elas se aproximavam do celeiro, o som do baixo de Jake ia ficando mais alto. Essa seria a parte mais difícil, Elissa sabia. Convencer os outros de que Ryan Jacobsen não era a aberração que eles pensavam. Desfazer essa imagem que tinha sido construída ao longo dos anos.

– Eu acho que ele sofre de TEPT – Elissa explicou. – Transtorno de estresse...

– ...pós-traumático – completou Jillian, arrumando os cabelos ruivos na altura do ombro. – Eu sei o que é. Também assisto aos programas de saúde na TV. Eu só não consigo acreditar que você foi até lá e entrou naquela casa. Foi sorte sua não ter sido transformada no tapete da sala.

– Sai dessa – Elissa respondeu, cutucando levemente a amiga com o cotovelo, depois arrumando o violão que trazia nas costas. – Todo mundo pensa essas coisas do Ryan, mas isso é tão... errado. Ele passou esse tempo todo isolado e parece que não tem mesmo muita autoestima, mas acho que agora ele quer começar a se abrir para as outras pessoas. Quer dizer, ele me deu uma carona, não foi? Deve se sentir sozinho naquela casa. Com certeza.

– Baixa autoestima – Jillian falou baixo. – São sempre esses os caras que fazem as coisas mais esquisitas. Não acho que ele queira ajuda. Me dá calafrios só de imaginar o que ele quer com você de verdade.

Elissa parou de andar e olhou para a amiga, espremendo os olhos. Por que todo mundo tinha que ser assim tão rude? E pior: quem tinha acabado de dizer aquelas besteiras foi a garota que até pouco tempo costumava sair com Tyler Reynolds, a garota que, em dado momento, chegou a considerá-lo seu namorado. Ryan Jacobsen era um santo comparado àquele sujeitinho desprezível. Claro, ele não cabia na imagem que os outros habitantes de Woodshire tinham construído de si mesmos. Mas isso queria dizer que ele era uma pessoa ruim?

Jillian resolveu suavizar o clima da conversa. Olhou para o velho celeiro, escutando a música que vinha lá de dentro.

– Você gosta mesmo do Ryan? Ou só está tentando deixar sua mãe irritada?

Com isso, Elissa finalmente deu risada. Jillian só tinha ido à sua casa uma vez desde que as duas tinham se conhecido, mas, aparentemente, o relacionamento complicado de Elissa e Sarah era fácil de perceber. Provavelmente, graças às respostas atravessadas, de uma única palavra, que Elissa sempre dava a qualquer pergunta que sua mãe fizesse, mesmo que fosse apenas Você quer mais leite?

– Talvez eu queira irritar um pouco a minha mãe, em primeiro lugar – Elissa disse, sorrindo. – Mas não sei bem... é difícil não gostar dele.

A expressão de Jillian mudou e ela ofereceu a Elissa um pequeno sorriso.

– Bom, se você gosta dele, então eu vou, pelo menos, tentar gostar também. Mas sem promessas. – Com o assunto encerrado, as duas entraram no celeiro, onde Jake e Robbie estavam esperando, prontos para receber Elissa em sua banda.

– Você mandou muito bem! – Robbie gritou para Elissa, da janela traseira do Jeep, enquanto ela subia os degraus da entrada de casa. Sozinha por um momento na varanda, Elissa acenou para Jillian, Jake e Robbie que se afastavam. Naquela tarde, tudo tinha corrido surpreendentemente bem. Ao escutar as gravações de Jake e Robbie, ela já tinha notado que eles eram bons, mas não pôde perceber quanto. Os três tocaram juntos por horas, encaixando os ritmos e melodias com naturalidade. Robbie adicionou algumas batidas às melodias que Elissa havia composto e Jake acompanhou no baixo. Ela já costumava usar o laptop para gravar várias melodias diferentes e juntá-las criando suas próprias músicas. Mas, agora, tinha que admitir: uma banda de verdade, tocando ao vivo, era muito melhor.

A última casa da ruaOnde histórias criam vida. Descubra agora