Epílogo

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Duas semanas mais tarde, Elissa estava carregando a caminhonete com as últimas caixas da mudança. O dia estava mais fresco que o normal, o vento atravessava as árvores, fazendo balançar as folhas e galhos. Ela e sua mãe estavam recomeçando... de novo. Iam retornar para Chicago, para um apartamento de dois quartos a três quarteirões do último em que tinham morado. Elissa voltaria para a antiga escola, para Luca e os amigos de sempre. Sarah trabalharia em um hospital na cidade. Mas nada seria como antes – nada jamais poderia ser como antes. No final das contas a avó de Elissa estava errada. Um lugar pode mudar alguém.

Elissa observou sua mãe trancar a casa e caminhar devagar pela varanda, se apoiando no corrimão de madeira, um passo de cada vez. Ela ainda andava com dificuldade, mesmo depois de ter tirado os pontos. Elissa tinha prometido que ia dirigir o caminho todo, durante os dois dias de viagem, mesmo Sarah a tendo proibido de fazer ultrapassagens.

Do outro lado do gramado, a casa dos Jacobsen estava cercada de faixas amarelas e pretas da polícia. Nas últimas semanas aquilo tinha servido como um lembrete de tudo o que havia acontecido ali. Ryan, que tinha sobrevivido apesar dos graves ferimentos, estava internado em uma instituição psiquiátrica. Logo se descobriu que a casa ainda guardava um último segredo da família Jacobsen: fitas de vídeo dos anos seguintes à morte de Carrie Anne, com antigos filmes de família. Neles, Ryan estava vestido com as roupas da irmã. Ele usava uma peruca e lentes de contato azuis. Depois do acidente, seus pais o usaram como um substituto da filha morta, chamando-o apenas pelo nome dela.

Por anos, eles o mantiveram preso no quarto dela, ora celebrando eventos familiares com ele, ora abusando do garoto. Os psiquiatras concluíram que Ryan foi se tornando violento por causa do estresse provocado pelos abusos. Até que um dia, explodiu e matou os dois. Depois disso, voltou ao papel de Ryan, o irmão que tinha sido mandado para longe, mas continuou jogando o jogo de seus pais, sequestrando garotas e as transformando em Carrie Anne. Ele as mantinha no quarto secreto, isoladas do mundo, as tratando da mesma maneira que seus pais o tinham tratado. E assim o ciclo se repetia – e se repetiria por muitos anos mais, se Elissa e Sarah não tivessem descoberto seus segredos.

Mesmo agora, no hospital, sob a influência de medicamentos pesados, Ryan continuava chamando o nome da irmã.

O olhar de Elissa viajou até a árvore às margens do parque estadual – a mesma que ele tinha lhe mostrado semanas antes, sentado ao seu lado, em cima da pedra. Sarah se aproximou e passou o braço ao redor do ombro de Elissa. Era reconfortante sentir sua mãe ali, junto dela. Pela primeira vez, conseguia olhar para Sarah sem pensar no que ela tinha feito ou deixado de fazer – no passado, no divórcio e nos anos tumultuados que se seguiram a ele. Elissa apenas pensava nela como a pessoa que tinha salvado sua vida.

– O que você está olhando? – Sarah tirou alguns fios de cabelo da frente do rosto da filha.

Elissa apontou para onde a árvore estava. Ela piscou os olhos e balançou a cabeça, mas desta vez o rosto não apareceu. Ficou imaginando se ele esteve mesmo lá alguma vez ou se, na presença de Ryan, ela o tinha imaginado de alguma maneira.

– O que você vê?

Sarah ficou em silêncio por alguns segundos.

– Uma árvore?

Elissa sorriu, balançando a mão da mãe.

– É. É isso que eu vejo também.

Sarah franziu as sobrancelhas, como se não tivesse muita certeza do que aquilo significava. Elissa queria dizer que estava arrependida, que sabia o quanto estava errada. Nos últimos dias, essas palavras não conseguiram sair da sua boca, embora se repetissem incessantemente em sua cabeça. O que importava agora, entretanto, Elissa tinha percebido, não era se ela tinha falado ou não. Pela primeira vez em sua vida, ela e sua mãe estavam começando a ver as coisas da mesma forma. E isto ficava claro em tudo que elas faziam – na maneira como elas cozinhavam juntas e como se sentavam toda noite no sofá para ver TV. Agora, Elissa sempre respondia quando Sarah chamava.

– Pronta para partir, Liss? – Sarah perguntou, se encaminhando para o carro.

Elissa não soltou sua mão. Ao invés disso, se deixou ser levada pela mãe, os braços das duas estendidos, mas sem se separarem.

– Nunca estive tão pronta para algo em toda a minha vida.

FIM!!!

Também recomendo o filme que é estrelado por Jennifer Lawrence...

http://www.youtube.com/watch?v=pk5B1p0RTxY&feature=kp

A última casa da ruaOnde histórias criam vida. Descubra agora