Capítulo 13

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Robbie deixou Elissa em frente de casa, amedrontado demais para entrar junto com ela.

– Se cuida, Elissa. E vê se não vai fazer nada idiota, hein. – Alguns minutos atrás, ela tinha lhe implorado uma carona. Assim que a polícia chegou à escola, foi anunciado oficialmente que o festival estava cancelado. Os policiais logo começaram a abordar todo mundo, perguntando sobre a briga. Uma ambulância apareceu, pouco depois. A sirene não parou de tocar nenhum segundo, nem mesmo enquanto os paramédicos socorriam Tyler.

Preocupada e ansiosa, Elissa observou o carro de Robbie desaparecer rua abaixo. Da entrada da garagem, ela viu a caminhonete amarela, estacionada em frente à casa de Ryan. Zak estava botando fogo em um rolo de papel higiênico e o jogou para dentro da casa, por uma janela lateral que estava aberta. Ele estava gritando alguma coisa, mas Elissa não conseguiu distinguir as palavras de onde estava. Alguns dos outros garotos estavam jogando pedras na porta da frente. Nos fundos, dois deles estavam erguendo um enorme vaso de barro, que se partiu em dois quando eles o largaram no chão. Quando as cortinas começaram a pegar fogo e o brilho ficou visível do gramado, todos se amontoaram de novo dentro da caminhonete e deram o fora rapidinho.

Elissa correu na direção da casa, segurando as chaves em uma das mãos. Ryan não parecia estar por ali. Ela subiu correndo as escadas e se apressou a abrir a porta. O cheiro de tecido queimado tinha tomado conta do ar. Dentro da casa, a sala de estar estava silenciosa. O rolo de papel agora era uma bola de fogo, queimando no piso de madeira, atrás do sofá. A parte de baixo das cortinas estava em chamas.

Com um puxão, Elissa as arrancou do trilho de metal e começou a bater com o tecido no chão sem parar, até que a última chama tivesse se dissipado. A esta altura, a sala estava tomada pela fumaça. Elissa pegou os restos queimados e jogou tudo dentro da pia. Foi só depois de ver a água encharcando o tecido que seu coração desacelerou. Finalmente pôde respirar com calma, aliviada por ter conseguido chegar a tempo.

Ryan devia estar vindo pelo meio das árvores, escondido, não querendo que os amigos de Tyler o vissem. Será que ele tinha visto a coisa toda? Seria possível que ele estivesse no topo da colina, no parque estadual, só esperando Elissa sair? Ela olhou para fora pela janela e só o que conseguiu enxergar na escuridão foi o velho balanço no quintal. O sensor de movimento foi acionado por alguma coisa do lado de fora e as luzes do quintal se acenderam.

Com as cortinas molhadas nas mãos, Elissa se virou e abriu a lata de lixo. Estava prestes a jogá-las lá dentro, mas algo chamou sua atenção. Debaixo de algumas latas de sopa, havia uma embalagem de absorventes vazia e um frasco velho de esmalte vermelho. Ao lado deles, ainda estava uma caixa de lentes de contato temporárias. Quando Elissa se abaixou para pegá-la, o telefone tocou em seu bolso, e ela tomou um susto.

– Onde você está? – Era Sarah quem estava perguntando do outro lado da linha.

Elissa olhou pela janela da frente. Sua casa continuava lá, vários metros adiante, quieta e totalmente apagada.

– Em casa, ué – ela mentiu.

– Você não está com o Ryan, está? – Sarah perguntou.

– Não.

– Elissa, Tyler acabou de dar entrada no hospital. Meu Deus do céu! Você viu o que o Ryan fez com a perna dele?

O tempo de espera das luzes do lado de fora se esgotou e elas se apagaram, deixando a cozinha na maior escuridão novamente.

Ele só estava se defendendo, mãe. Tinha uns seis moleques em cima dele.

– Eu quero você em casa, agora – Sarah disse, nervosa. Era como se ela pudesse sentir que a filha estava mentindo. Tanto fazia Elissa ter direcionado as chamadas do telefone de casa para o seu celular. De algum modo, sua mãe simplesmente sabia.

– Estou em casa – ela insistiu. Era tarde demais para admitir a verdade. Além disso, Sarah jamais confiaria nela novamente, se soubesse que Elissa estava na casa de Ryan – se soubesse que, no outro dia, eles tinham passado a tarde juntos, enquanto ela estava no trabalho. – A gente se vê mais tarde.

Elissa desligou o telefone e começou a mexer no lixo, tirando de dentro dele a embalagem de absorventes. Por que Ryan teria absorventes em casa? E o esmalte? Será que ele tinha uma namorada sobre a qual não tinha dito nada? Será que era isso que ele queria confessar? Ela se abaixou novamente, disposta a procurar mais fundo na lata de lixo, quando percebeu uma pancada abafada vindo de algum lugar sob seus pés. Era um barulho fraco e constante – tum, tum, tum –, como se alguém estivesse batendo em uma parede.

Guiada pelo barulho, ela chegou até a porta do outro lado da cozinha. Ao abri-la, se deparou com um lance de escadas estreito que levava ao porão. Sem conseguir enxergar muita coisa, Elissa começou a descer. O barulho foi ficando mais alto. Chegando lá em baixo, ela encontrou um interruptor e acendeu a luz, avistando finalmente, a secadora de roupas no canto da parede. Ela a abriu e o barulho parou devagar. Um par de tênis de Ryan estava lá dentro, junto com algumas peças de roupa molhadas.

Elissa colocou as mãos no rosto, se perguntando se não estava enlouquecendo. O que afinal a estava deixando tão inquieta? Aquilo que tinha dito a Sarah, instantes atrás, era verdade. Ryan estava só se defendendo. Se ele não tivesse quebrado o tornozelo de Ryan, a luta teria continuado e ele levaria a pior. Quem poderia saber quanto tempo aquilo iria durar e o que aqueles garotos teriam feito a ele?

Ainda assim... Havia algo no rosto de Ryan que a tinha deixado assustada. Elissa nunca o tinha visto nervoso daquele jeito – seu sangue borbulhava de raiva. Onde ele estaria agora? E por que estava guardando segredos dela? Elissa apoiou as costas na secadora, encarando a parede, mas sem olhar realmente para nada. Quando seus olhos entraram no foco, ela notou a fina faixa de luz que atravessava o tapete na diagonal. Havia um leve desnível no tecido, como se houvesse alguma coisa embaixo dele.

Elissa se ajoelhou e puxou o tapete para trás. Sua respiração acelerou e seu coração começou a bater mais forte, quando ela se deparou com o alçapão que estava escondido sob o tapete. Uma faixa de luz era visível no vão entre ele e o piso de concreto. Ela olhou e escutou ao redor por alguns segundos antes de abrir, puxando a alça de corda.

O alçapão levava a um pequeno corredor de cimento. Uma lâmpada fraca ficava presa à parede, iluminando o lugar, que não devia ter mais de cinco metros de comprimento por um e meio de largura. Elissa espiou lá embaixo, se assegurando de que não havia mais ninguém por perto.

Então olhou para trás, para a porta do porão, que continuava fechada. Nenhum barulho vinha da cozinha. Devagar, ela desceu pela escada de metal. Chegando lá embaixo, notou a porta no final do corredor. Era parecida com a porta da frente de sua casa, com um pequeno olho mágico no centro.

De repente, Elissa acreditou ter ouvido alguma coisa e se virou, com a adrenalina a mil. Não era nada. Nervosa, ela chacoalhou as mãos, tentando fazer seus dedos pararem de tremer, enquanto alcançava a maçaneta. Antes que percebesse, já a estava virando e abrindo a porta.

O quarto estava vazio, a não ser por alguns móveis básicos. Parecia uma versão um pouco modificada do quarto de Carrie Anne. Havia uma pequena mesa cor-de-rosa no canto, com uma babá eletrônica e alguns brinquedos. As peças de um quebra-cabeça estavam espalhadas pelo chão de cimento. Alguém tinha pendurado um lençol cor-de-rosa no teto do quarto, dando ao lugar um pouco de cor. Segundo o que se dizia na cidade, eles a tinham mantido presa, completamente isolada do mundo por vários anos. Então era naquele quarto que ela passou a viver depois do acidente?

Elissa caminhou no ambiente, observando os bichos de pelúcia amontoados no canto. O quebra-cabeça parecia feito para uma garotinha – um unicórnio era visível em uma das peças jogadas. Quando ela se abaixou para pegá-la, notou o cabo amarrado a um dos pés da cama de solteiro. Ele estava bem esticado. Elissa virou o rosto para trás, para descobrir o que havia na outra ponta. Tudo o que viu foi um vulto, enquanto a garota partia para cima dela, soltando um grito aterrorizante.

A última casa da ruaOnde histórias criam vida. Descubra agora