Capítulo 19

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Elissa correu até a porta entre a garagem e o porão, mas, quando virou a maçaneta, ela não se abriu. Devia estar trancada pelo outro lado. Com a adrenalina a mil, ela tomou fôlego e deu um grito, na esperança de que sua mãe escutasse.

Não suportava nem imaginar o que Ryan faria a ela se abrisse a porta lá em cima. Sem pensar duas vezes, Elissa passou a mão na janela um pouco acima do centro da porta, tentando perceber a grossura do vidro. Era um quadrado de mais ou menos sessenta por sessenta centímetros – grande o bastante para ela passar para o outro lado se conseguisse quebrá-lo. Sua primeira tentativa foi bater com a lanterna contra o vidro, mas ele sequer trincou. Com a lanterna presa ao cinto, Elissa vasculhou a garagem novamente. Desta vez, notou a caixa de ferramentas em uma prateleira, do outro lado da garagem. Dentro dela, encontrou um martelo pequeno, desses que têm uma bola na frente, ao invés da cabeça chata.

Correu até a porta novamente e martelou o vidro sem parar, até que ele finalmente se estilhaçou. Depois ela bateu nas extremidades da janela, onde o vidro se encontrava com a porta, garantindo que haveria espaço suficiente para passar. Agora só faltava encontrar algo em que se apoiar. Logo acima de sua cabeça, havia um cano de metal. Elissa deu um pulo e o agarrou, erguendo as pernas e balançando para trás e para frente, tomando impulso para passar pela janela.

A parte de trás de uma de suas pernas raspou em um pedaço de vidro remanescente e logo o sangue começou a se espalhar pela sua calça jeans. Mas ela não tinha tempo para se preocupar com isso, o que importava é que estava de volta ao porão e que tinha que chegar logo lá em cima. O corpo do policial continuava ali. A máquina de lavar estava caída de lado, longe do alçapão que levava ao quarto subterrâneo. Não havia mais ninguém no porão. Onde está minha mãe? Elissa caminhou rápido em direção à escada, então escutou algo lá em cima. Alguém estava vindo. Ela recuou e se escondeu atrás do aquecedor de água, trazendo ainda em uma das mãos o martelo com que tinha quebrado o vidro.

Ryan começou a descer as escadas, arrastando alguma coisa atrás de si. Com um impulso dele, o corpo deslizou pela escada, aterrissando no piso do porão. Elissa teve que segurar as lágrimas. Sua mãe estava caída no piso de concreto, completamente imóvel, com um dos braços estirados. Havia um ferimento do lado da sua barriga. Sua camisa estava rasgada e ensopada de sangue.

Elissa ficou ali parada, perplexa, observando atentamente o peito de sua mãe, que ainda se movia levemente, a cada respiração. Ela está viva, Elissa pensou Você tem que ajudá-la. Ryan desceu as escadas e arrastou o corpo até a porta da garagem, parando assim que percebeu a janela quebrada. Elissa se espremeu contra a parede e se abaixou, esperando que ele não a visse ali. –

Quero você aqui comigo – Ryan começou a falar, olhando ao redor na escuridão. – Mas eu preciso ter Carrie Anne. Preciso dela de volta. Preciso consertar as coisas, você entende? Se você não puder fazer isso por mim, Elissa, então não vou poder ficar com você.

Elissa escondeu o rosto com as mãos, se enfiando ainda mais no espaço estreito, cercada por canos enferrujados, blocos de concreto e ferramentas velhas. Ela conseguia sentir que havia um quarto pequeno, em algum lugar atrás de si. Ryan largou as pernas de Sarah e começou a caminhar na direção de Elissa, seus passos ecoando no porão.

A única lâmpada do ambiente zumbiu sobre suas cabeças. Elissa estava atenta a cada respiração de Sarah. Ryan continuou caminhando devagar e, por um instante, seus olhares se cruzaram. Imediatamente, ele partiu para cima dela, mas Elissa deu um pulo para trás entre os canos, indo parar em um quartinho estreito, onde ficava o forno do aquecedor. Com muito custo, ela conseguiu manter o equilíbrio e ficar de pé, avistando a arma do policial, que estava ali, a poucos centímetros de distância. Mas agora Ryan também estava atravessando os canos. Quando ele apareceu, Elissa estava mergulhando atrás da arma, seus braços se queimando com o calor do chão de concreto.

Ele a agarrou pela cintura, tentando puxá-la. Mas quando Elissa alcançou a arma e a pegou, ele a soltou. Quando ela se virou, pronta para apertar o gatilho, ele já tinha corrido para o outro lado do porão e estava mexendo na caixa de energia. Antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, Ryan abaixou uma alavanca, afundando o porão inteiro na mais completa escuridão.

Elissa piscou repetidamente, tentando acostumar logo a vista. Imediatamente, se lembrou da lanterna em seu cinto e a acendeu. Ela só iluminava pequenos círculos no escuro – a parede com a caixa de energia, o corpo de sua mãe no chão, a porta quebrada da garagem. Segurando a arma em frente ao corpo com uma das mãos, Elissa imaginou que Ryan tinha fugido para a garagem. Assim que deu o primeiro passo para a direita, ela o viu dar um salto de trás do aquecedor de água, com a faca apontada para o seu pescoço. Sem pensar, deu três tiros, que o acertaram na barriga. Ryan cambaleou para trás, gemendo de dor. Então se curvou, apoiando as costas na parede. Sua cabeça pendeu para frente e ele parou de se mexer.

Elissa correu até sua mãe, iluminando o caminho com a lanterna. Se abaixou ao lado dela e pressionou o ferimento com uma das mãos. O corte era profundo. Ia ser difícil parar o sangramento.

– Você está bem? – Sarah perguntou, engasgando e tocando o rosto de Elissa. Desta vez, ela permitiu que as lágrimas corressem pelas suas bochechas.

– Nós duas estamos.

Elissa deixou a arma de lado e abraçou forte sua mãe, enterrando o rosto em seu pescoço. Sinto muito, ela queria dizer. Você estava certa desde o começo. Mas só o que conseguiu soltar foi um soluço, enquanto o terror que estava sentindo dava lugar ao alívio.

Então olhou para a escadaria, imaginando se conseguiria carregar sua mãe até a cozinha. Foi quando se lembrou de que a porta trancava sozinha.

– Nós vamos precisar da chave – sussurrou para si mesma, voltando o olhar para o corpo de Ryan.

– Não – Sarah gemeu.

– Tudo bem, mãe. – Elissa tirou uma mecha de cabelo da frente da testa dela e caminhou devagar até o corpo de Ryan, vasculhando seus bolsos, atrás da chave.

De repente, ele ergueu a mão e agarrou seu pulso.

Elissa tentou se livrar dele.

– Ryan, pelo amor de Deus, isso tudo tem que acabar.

Ryan olhou em seus olhos, sentindo tanta dor, com tanta emoção, que ela quase sentiu pena.

– Eu não posso – disse simplesmente.

Elissa conseguiu arrancar o pulso da mão de Ryan, mas a força a fez cair para trás. Imediatamente, ele se ergueu acima dela, segurando a faca com a outra mão.

– Vai acabar logo – disse com frieza. – Só feche os olhos.

– Acabou agora – Sarah esbravejou, enquanto se levantava com muito custo ao lado dele. Ela estava segurando o martelo que Elissa tinha derrubado no chão e, sem pensar duas vezes, o usou para salvar sua filha.

Ryan desabou no chão, largando a faca. O sangue se acumulava ao seu redor.

Tudo estava acabado.

A última casa da ruaOnde histórias criam vida. Descubra agora