Capítulo 14

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Elissa colocou as mãos na frente do corpo, tentando afastar Carrie Anne, mas ela a agarrou pela blusa e começou a arranhá-la desesperadamente, até finalmente derrubá-la no chão, derramando sobre ela suas lágrimas. No chão, ela continuou agarrando Elissa, puxando suas roupas e batendo em seus braços com os punhos fechados.

– Carrie Anne! Pare já! – uma voz familiar gritou.

Em poucos segundos, Ryan arrancou a garota de cima de Elissa e a puxou para o lado, envolvendo seu pescoço com o braço. Foi só então que Elissa reparou que ela tinha um lenço amarrado ao redor da mandíbula, que a fazia engasgar quando tentava gritar. A garota começou a apontar algo atrás de Elissa. Ela se virou e viu um suéter rosa sobre a cama. Na frente dele estava escrito: PENN STATE.

Um calafrio subiu pela sua espinha. Ela não sabia direito o que era exatamente, mas tudo em seu corpo estava berrando para ela correr para longe.

– Vá embora agora, Elissa – Ryan gritou. Ele estava segurando a garota com toda força. – Vá lá pra cima. Eu resolvo as coisas por aqui.

Enquanto Elissa caminhava na direção da porta, a garota se debatia ferozmente, chutando e socando Ryan da melhor forma que conseguia. Ele tirou uma pequena seringa do bolso e cravou no braço dela. Alguns segundos depois, a garota já não resistia mais. Assustada, Elissa começou a subir a escada de metal, tentando compreender o que tinha acabado de ver. Então aquela era Carrie Anne? Os olhos azuis brilhantes estavam lá, de fato, só que não parecia ter nada de desajustado ou louco neles – só medo, muito medo.

– Por favor, se acalme, Carrie Anne – Elissa escutou Ryan dizer, baixinho. – Você vai acabar se machucando de novo. – Depois de escalar a escada de metal, ela foi direto para a escadaria que levava para a cozinha. Não parou de correr até chegar lá. Seu corpo inteiro estava tremendo. O que Ryan estava fazendo com Carrie Anne? Por que ela estava trancada lá embaixo? E há quanto tempo?

A cozinha estava silenciosa. Só o que se ouvia era um pássaro cantando ao longe. Elissa olhou para sua casa pela janela, desejando, pela primeira vez, não ter mentido para sua mãe. Desejando que Sarah estivesse lá agora, com a luz da sala acesa, enquanto assistia TV, estirada no sofá. O estômago de Elissa se revirava todo, dando a sensação de que ela poderia vomitar a qualquer momento. Aquele não era o Ryan que ela conhecia. Perturbada, ela abriu a torneira e ficou observando e escutando a água cair, escoando pelo ralo da pia.

Quando finalmente estendeu o braço para tocar a fina corrente de água, percebeu que havia um pedaço de plástico grudado nele. Arrancou o plástico do braço e o ergueu em frente à janela, examinando-o sob a fraca luz da lua. O material era arredondado, liso e flexível, com um círculo azul no centro. Uma lente de contato – das coloridas.

Elissa olhou ao redor, prestando atenção nos desenhos pendurados na geladeira. O desenho de giz de cera que retratava os Jacobsen tinha Carrie Anne à frente, com seus cabelos loiros para trás. Quem quer que tivesse desenhado aquilo, tinha dado a ela grandes olhos azuis, como os que Elissa tinha visto na foto no quarto de Ryan.

Ela se sentiu enjoada, imediatamente. Foi até a lata de lixo, se abaixou e tirou de lá as embalagens vazias que tinha encontrado mais cedo. A caixa de lentes de contato continuava ali, logo abaixo da embalagem de absorventes. O rótulo dizia: Lentes de Contato Coloridas – Azul Brilhante. Elissa se levantou, decidida a ir embora, quando algo no fundo da lixeira chamou sua atenção.

Era uma carteira de couro rosa, com um coração metálico na frente. Ela a pegou, já pressentindo do que se tratava, antes mesmo de abri-la. Dentro dela, encontrou em uma das abas de plástico uma carteira de motorista. A data de nascimento dizia que a dona tinha dezenove anos. REBECCA OLIVER era o nome dela. CABELO LOIRO; OLHOS CASTANHOS. Em outra aba, havia uma foto de Rebecca e uma amiga – suas bochechas coladas enquanto elas sorriam para câmera dentro da cabine.

Elissa ficou paralisada. Oh, meu Deus. Era essa garota – Rebecca – que estava presa no porão. Sabe-se lá desde quando Ryan a mantinha lá embaixo, fingindo que ela era sua irmã. Ele a tinha raptado. Os pontos foram se conectando devagar, mas o corpo de Elissa estava pronto para dar o fora dali, quando ela escutou o som de pegadas pesadas vindo do porão. Antes que pudesse chegar até a porta, Ryan estava ao seu lado, arrancando a carteira de Rebecca de suas mãos.

– Passa isso pra cá – ele gritou.

Elissa deu um passo para trás, tentando ficar calma. Deu um sorriso amarelo, na esperança de que ele pudesse acreditar que ela não estava entendendo nada – que não tinha a menor ideia do que tinha acabado de ver. Mas ele se aproximou novamente, com uma expressão sombria no rosto.

– Você vai ter que me prometer que não vai contar sobre Carrie Anne a ninguém – disse, com frieza. – Prometa, Elissa.

– Pode ficar tranquilo, eu não vou contar. Prometo. – Elissa se afastou, em direção à porta. Faltavam poucos metros para ela chegar à varanda. Se, ao menos, conseguisse convencê-lo de que guardaria seu segredo... Se conseguisse fazê-lo ter certeza disso, então, talvez, pudesse sair dessa viva.

Enquanto caminhava devagar, Elissa tirou o celular do bolso e o abriu. Tudo que sua mãe tinha lhe dito nos últimos dias passou pela sua cabeça. Ela conseguia ver tão claramente agora – não tinha como não haver nada de errado com esse garoto que vivia sozinho, na casa onde seus pais haviam sido assassinados. Por que eu tinha que ser tão cabeça dura? Por que não escutei? Este pensamento fez as lágrimas brotarem em seus olhos. Elissa as segurou, tentando não parecer fraca.

– Eu preciso ir – disse, calmamente, percorrendo sua lista de contatos até o número de Sarah. – Minha mãe me ligou.

Assim que alcançou a porta, apertou send, no aparelho. Mas, antes que pudesse abri-la, Ryan entrou em sua frente. Sem dizer mais nada, ele a agarrou pela nuca e bateu sua cabeça na parede, bem ao lado do batente da porta. Elissa viu um clarão e sentiu sua cabeça latejando. Sua visão ficou borrada. Ao tentar colocar a mão na testa, derrubou o telefone no chão. Então sentiu uma forte tontura.

A última coisa de que pôde se lembrar foram as mãos de Ryan sob seus braços, a puxando para trás. Um fino fio de sangue escorria pela sua testa. Sem reação, ela observou a porta da frente se afastando mais e mais, o telefone celular aberto caído no chão, enquanto ele a arrastava para dentro da casa.

A última casa da ruaOnde histórias criam vida. Descubra agora