"Vizinha"

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Ponto de vista da Abigail

Acabo de chegar em frente ao meu novo apartamento. A carrinha das mundanças já está estacionada em frente ao prédio e o funcionário da empresa de mudanças que consegui contratar está encostado na carrinha a fumar um cigarro.

"Não queria ter demorado mais?" Foi a forma como me recebeu.

"Desculpe, eu vim de transportes, tentei chegar o mais rápido possível." Desculpei-me.

"Tem aí as chaves, pode descarregar, mas depressa." Com isto atirou-me as chaves, virou-me as costas, atravessou a rua e continuou a andar.

Abri a parte de trás da carrinha. Não tem muita coisa para eu descarregar, mas acho que o melhor é começar pelo mais difícil... o colchão. Subi para dentro da carrinha e agarrei o colchão o melhor que pude. Porque é que o homem nem colocou a rampa para eu conseguir descer daqui com as coisas? Encostei o colchão à lateral do lado de dentro da carrinha, já com metade de fora. Desci e respirei fundo para ganhar coragem de o puxar, sabendo que existe uma forte possibilidade de ele me cair em cima. Um... dois... três... e...

Ponto de vista do Zain

Acabo de sair do prédio e páro perante a visão que se apresenta diante dos meus olhos... a minha testa fica franzida ao olhar para aquela cena... ela acha mesmo que aquilo vai correr bem? Vejo que se prepara para puxar o colchão com toda a sua força e corro na sua direção. Consegui segurar o colchão apenas milésimos de segundo antes de ele lhe cair em cima e ela ainda olha confusa para o colchão a centímetros da sua cabeça sem perceber porque é que não a atingiu e só depois repara em mim.

"Obrigada..." Sussurra, ainda um pouco sem fôlego do susto que acabou de apanhar.

"De nada... não devias tentar carregar um colchão deste tamanho sozinha..." Ri-me.

"Tudo bem... eu já consegui carregá-lo para cima da carrinha." Encolheu os ombros.

"Queres ajuda com isto?" Pergunto enquanto apoio o colchão no chão, apenas numa das laterais estreitas.

"Acho que consigo daqui para a frente, mas obrigada." Sorriu, pela primeira vez.

"Tens a certeza?" Franzi a testa de novo. Será que ela sabe que o prédio não tem elevador. "Vais mudar-te aqui para o prédio?"

"Aham..." Responde a tentar empurrar o colchão, no entanto eu seguro-o, impedido-a de avançar.

"E tu sabes que o prédio não tem elevador?"

"Não tem?" Pergunta de olhos esbugalhados e eu apenas abano a cabeça negativamente e ela suspira.

"Anda lá... eu posso ajudar-te com isto." Acenei com a cabeça e peguei numa das pontas do colchão. "Qual é o andar?"

"Terceiro." Respondeu, enquanto pega com dificuldade na outra ponta.

"E o homem das mudanças? Não devia estar a fazer isto por ti?"

"Não paguei o suficiente à empresa para ter direito à mão-de-obra... só paguei pela carrinha e pela viagem..."

"Mas ele podia ajudar... nem que fosse por cortesia." Ouvi uma risada, enquanto sobe as escadas atrás de mim.

"Digamos que ele não é muito cortesão." Ri-me também, mas achei melhor parar de falar para não gastar o fôlego porque ainda vamos só no primeiro andar e ela já quase não tem ar.

Chegámos ao terceiro andar. Ela tirou a chave e olhou para a etiqueta no porta-chaves, de seguida olhou em volta à procura da letra nas portas dos apartamentos e acabou por se dirigir para uma das portas e abriu-a.

VizinhançaWhere stories live. Discover now