Ponto de vista do Zain
Meia-noite e meia. Essa foi a hora em que ouvi bater na porta... mas não na minha.
Oh não... outra vez não.
"Vai-te embora!" Ouvi a sua voz. "Tens de aprender o que quer dizer não!"
"Eu não vou a lado nenhum, Abigail! Ganha juízo e abre a porta. Temos de falar."
"Já falámos o suficiente ontem à noite. Eu não te quero mais aqui!"
"Abre e vamos falar."
"Eu não vou abrir. Vai-te embora. Vais acordar os vizinhos."
"Eu já disse isto ontem e volto a dizer! Eu mando esta porta abaixo!" Comecei a ouvir batidas mais fortes na madeira da porta.
"Está bem! Está bem! Pára! Eu abro." Suspirei, deitado de costas na cama. Cá vamos nós outra vez. Ouvi o trinco da porta a abrir e depois a porta a fechar.
"Ouve-me... por favor. Eu vou melhorar... juro que vou. Aquelas coisas não vão acontecer mais. Eu prometo. Vai voltar tudo a ser como era no início... lembras-te de como era no início? De como estávamos apaixonadas e de como prometemos que nada nos ia separar?"
"Isso foi antes do que tu fizeste... Por favor... deixa-me viver a minha vida. Deixa-me seguir em frente e faz o mesmo. O que tu queres não vai acontecer. Eu não vou voltar contigo para lado nenhum. Eu já não sinto nada por ti... nem mesmo raiva. Eu não me lembro que existes a maior parte do tempo... por isso, por favor, pára de aparecer à minha porta bêbado a estas horas da madrugada... eu trabalho cedo."
"Eu estou-me pouco fodendo para a o teu sono de beleza! E eu vou vir aqui quantas vezes me apetecer e eu vou fazer o que bem me apetecer, Abi! Eu fiz demasiado por ti para agora simplesmente deixar ir, sem mais nem menos."
"Acho que já estive tempo suficiente contigo contra a minha vontade para pagar a dívida. Eu fiz de tudo para fazer-nos resultar... mas não resulta. Não pode resultar quando eu não sinto nada por ti... e não posso obrigar-me a sentir."
"Mas eu posso!" Depois, apenas silêncio durante alguns segundos e finalmente um estalo que suponho ser proveniente de uma chapada... e bem merecida.
"LARGA-ME! Larga-me, Nate! Nunca mais tenhas o atrevimento de fazer isso!"
"O quê? Beijar a minha namorada?" Engoli em seco, quando me apercebi que o de facto aconteceu foi que ele a beijou contra vontade.
"Eu não sou tua namorada! Mete isso na tua cabeça! Eu só quero distância de ti!" Levantou a voz. "Eu tenho nojo de ti! Eu tenho de mim por alguma vez ter estado contigo." Ouvi uma gargalhada perversa.
"Eu vou-me embora, por hoje! Mas eu vou voltar! Tu nunca te vais livrar de mim..."
"Tu és louco!"
"E ainda não viste nada. Eu vou destruir a tua vida até não te restar nada, Abi. Eu vou tirar-te tudo o que tens até não teres nada nem ninguém... até teres que rastejar de volta para mim." E depois um estrondo da porta a fechar. Alguns minutos de silêncio.
Eu espero que isto não vire um hábito... eu gastei demasiado dinheiro em terapia para controlar a minha raiva para agora vir um estupor como aquele Nate e estragar tudo...
Esfrego os dedos uns nos outros para tentar acalmar esta sensação de formigueiro nas cabeças dos dedos. Respiro fundo... já acabou. Não é nada comigo... está tudo bem. E mesmo quando me estava a conseguir acalmar o mesmo som de soluços de ontem e os meus punhos cerraram, enquanto faço força em todos os músculos do meu corpo para me manter deitado e não me levantar para fazer algum disparate. Fecho os olhos e engulo em seco enquanto o som dos soluços de choro intermináveis penetram na minha cabeça.
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Vizinhança
Short StoryTudo começa quando Abigail chega ao seu novo apartamento, prestes a recomeçar toda a sua vida com pouco mais do que o essencial para viver. Mas algo tenta impedí-la de deixar o passado para trás das costas e viver um futuro mais brilhante.