Aquela última frase que disse antes de entrar em casa de manhã ficou a andar-me às voltas na cabeça o resto do dia... passei o resto do dia com um sorriso estúpido na cara até achar que seriam horas normais de ir ter com alguém para o jantar... Honestamente, se fosse por vontade apenas minha eu tinha ido assim que acabei de tomar banho e de me vestir... mas não seria aceitável, então fiz-me ser uma pessoa normal e esperar até às 18:30... e eu sei que ainda é cedo, mas foi o máximo que consegui manter-me em casa, depois de ela dizer que posso bater-lhe à porta a qualquer hora.
Saí de casa e bati-lhe à porta, ao mesmo tempo a que a Mrs. Robin descia as escadas e passava pelo hall do nosso andar... mas esta mulher tem uma pontaria.
"Boa noite, Mrs. Robin..." Cumprimentei e ela respondeu-me a olhar fixamente para a porta, à espera que a Abi abra, mas sem nunca para de andar. Ouvi a porta abrir e ela viu-me a mim e à mulherzinha bisbilhoteira logo a seguir.
"Boa noite, Mrs. Robin..." Ela cumprimentou também. A Mrs. Robin não respondeu a nenhum dos cumprimentos, em vez disso balbuciou alguma coisa do género: Assim nem compensa pagarem duas rendas. "Simpática..." A Abi comentou, entre dentes e puxou-me para dentro. "Tens alguma alergia alimentar?" Perguntou, já a dirigir-se à cozinha.
"Que eu saiba não..."
"Então, fondue é na boa?"
"Hmm... fondue de quê?"
"Carne e quejo. Eu já não como há anos e esta semana encontrei um conjunto de fazer fondue barato e comprei, queria experimentá-lo."
"Eu só aviso que sou um desastre e correr o risco de eu me queimar, ou de te queimar a ti, e definitavemente vou sujar tudo de queijo."
"Eu de sujares até nem me importo, mas tenta não nos queimar..." Riu-se. "Eu ainda não tenho nada feito... mas até fiquei com receio de te pedir ajuda... não sei se é aconselhável um desastre tão grande estar na minha cozinha."
"Acho que consigo controlar-me para te ajudar... o que é que precisas?"
"Corta a carne... está em cima da bancada."
Ajudei-a a fazer o jantar e depois levámos tudo para o chão da sala, em cima da manta que faz de sofá e sentámos um de cada lado a ouvir alguma música aleatória que me pediu para escolher no seu portátil.
"Amanhã queres boleia?" Introduzi um assunto qualquer, só para não estarmos calados.
"Se puderes, eu agradecia."
"Claro que posso..." Sorri.
"Obrigada..."
"Então... o Nate tem tentado comunicar contigo? De alguma forma?"
"Não... eu mudei de número quando mudei de casa, então mesmo que ele tente, o número que ele tem de mim está desativado."
"O que é que estás a pensar fazer quanto a ele?"
"Como assim o que estou a pensar fazer?" Levou um dedo à boca que tinha sujado com queijo e isso desconcentrou-me.
"Não vais fazer nada? Sei lá... tipo queixa à polícia?"
"A polícia não faz nada e se ele soubesse que tinha ido à polícia ainda fazia pior... eu conheço-o, ele vai acabar por se aborrecer e esquecer."
"E enquanto não esquecer? Vai andar a fazer-te a vida num inferno sempre que lhe apetece? Vai vir aqui cada vez que quer e deixar-te noites inteiras a chorar por causa das baboseiras dele?"
"Não... eu não vou chorar." Sorriu.
"Como não choraste das outras vezes?"
"Agora é diferente... ele ameaçava-me destruir tudo o que eu tinha e a minha vida inteira e isso assustava-me porque realmente o pouco que eu tinha era destruível... da maneira certa dava para fazer cair tudo por terra... bastava lixar-me o emprego e puff... estragava o resto. Mas a diferença é que eu estava sozinha... e agora eu já não sinto que esteja." Senti um quentinho invadir-me o peito quando percebi ao que se referia. "E sei que existe alguma coisa que ele não vai conseguir destruir."
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Vizinhança
Cerita PendekTudo começa quando Abigail chega ao seu novo apartamento, prestes a recomeçar toda a sua vida com pouco mais do que o essencial para viver. Mas algo tenta impedí-la de deixar o passado para trás das costas e viver um futuro mais brilhante.