Ponto de vista do Zain
Regressei ao quarto e não sei se ela está mesmo a dormir ou apenas quieta. Sentei-me no colchão ao seu lado e desviei o cabelo da sua cara e vi a sua expressão calma enquanto dorme encolhida e enrolada no lençol. Não consegui evitar sorrir. Não quero acordá-la, mas também não me parece bem ir embora sem dizer nada.
"Abi..." Sussurrei o seu nome para tentar acordá-la o mais suavemente possível. Ela abriu os olhos devagar. "Eu vou para casa... se precisares de alguma coisa bate na parede, ok?" Apenas assentiu, com os olhos só meio abertos. Inclinei-me e beijei os seus lábios... só mais uma vez não vai doer, não é? "Espero por ti no hall amanhã." Já não respondeu e eu apaguei a luz do quarto antes de sair.
Deito-me na minha cama com um sorriso na cara. Sinto um calor do peito e suspiro sempre que me lembro do nosso momento... será que significou o mesmo para ela que significou para mim? Como é que vai ser daqui para a frente? Quer dizer... como é que vamos tratar-nos agora? Como se nada tivesse acontecido? Ou será que consegui conquistar mais algumas liberdades?
Saí de casa e esperei no corredor. Ela saiu e sorriu ao olhar para mim e isso fez-me abrir um sorriso ainda maior do que sei que já tinha.
"Bom dia..." Cumprimentou e consegui perceber a maneira como desviou o olhar e mordeu o lábio discretamente.
Alcancei a sua mão com a minha e puxei-a para mais perto de mim. Beijei-a rapidamente com medo de qual poderia ser a sua reação. Ela não me rejeitou, mas também não pareceu particularmente feliz com o meu gesto e larguei a sua mão.
Não falou muito pelo caminho. Combinei de nos encontrarmos no mesmo sítio, à mesma hora de os outros dias. Eu não acredito que aconteceu o que aconteceu ontem e que agora parece que nem a posso beijar... assim ainda é pior. Antes, pelo menos, não sabia o que estava a perder.
Hoje não precisei de esperar por ela porque quando cheguei ao local combinado ela já lá estava. Entrou no carro e não tentou aproximar-se de mim mais do que o normal. Tentei ser eu a aproximar-me dela mas ela afastou a cara e eu percebi a mensagem.
"Como foi o trabalho?" Sorriu enquanto coloca o cinto.
"Foi normal... e o teu?"
"Foi pior que o costume... a bruxa júnior ainda cá está."
Fiquei em silêncio uns minutos, sem saber exatamente o que dizer, até ganhar coragem de abrir a boca.
"Então, agora vai ser assim?" Engoli em seco de arrependimento assim que acabei de falar.
"Como assim?"
"Não posso nem beijar-te? Quer dizer... eu não esperei que nos casasemos depois de ontem nem nada do género, mas achei que não ia haver stress se te beijasse..."
"E não há stress se o fizeres... só preferia que não o fizesses. Pelo menos não na rua."
"E porquê? Tens vergonha de mim ou alguma coisa do género?"
"É claro que não... tu sabes que não é isso."
"Eu não sei de nada... só sei o que aconteceu ontem e agora acabaste de me virar a cara quando tentei beijar-te... se me dizes que te posso beijar mas só em casa, eu presumo que não queres ser vista comigo, e se não queres ser vista comigo então suponho que tenhas vergonha."
"Não é vergonha." Abanou a cabeça negativamente. "É para o teu próprio bem, acredita." Suspirou.
"O que é que isso quer dizer?" Franzi a testa sem perceber.
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Vizinhança
Short StoryTudo começa quando Abigail chega ao seu novo apartamento, prestes a recomeçar toda a sua vida com pouco mais do que o essencial para viver. Mas algo tenta impedí-la de deixar o passado para trás das costas e viver um futuro mais brilhante.