"Instintos"

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 Engoliu em seco e só depois conseguiu descolar o olhar do chão e fixar os seus olhos nos meus. Abanou a cabeça negativamente e suspirou. O que é que isso quer dizer? Se é negativo porque é que não está feliz?

"Negativo?" Perguntei, com o coração aos pulos e a respiração até um pouco acelerada.

"Negativo..." Confirmou e soltou um suspiro. Um sorriso começou a formar-se na sua cara e eu libertei uma expiração que tinha presa na garganta.

"Eu disse-te!" Libertei uma risada pequena. "Meu deus... que susto!" Sentei-me no sofá a sorrir.

"Então, não estavas tão calmo como parecia?" Sentou-se ao meu lado.

"Claro que não! Eu só queria que tu ficasses calma porque estavas trinta vezes pior que eu!"

"É... eu estava." Soltou uma risada. "Se calhar é mesmo o que tu disseste... estou tão impaciente para que o período venha que ele não vem..."

"Só pode ser isso... Meu Deus... fizeste-me relembrar daquela noite mil vezes e chegar a duvidar do que tinha feito..."

"Já passou..." Suspirou e encostou-se no sofá. "Ao menos temos o dia de folga..." Sorriu. "Sabes... sempre pensei que te fosses passar quando eu te contasse."

"Passar-me?" Franzi a testa. "Porque havia de passar-me?"

"Sei lá... aquilo que disseste, de teres problemas de temperamento... eu achei que ias explodir ou assim."

"Explodir com o quê? Contigo?"

"Não sei..." Encolheu os ombros. "Talvez."

"Eu já te disse que nunca vou explodir contigo... e que não tens razão para te preocupares com os meus problemas de temperamento."

"Tu escondes alguma coisa de mim?"

"O quê?" Franzi a testa. "De onde é que isso veio agora, assim do nada?"

"Tu contaste do teu problema de temperamento, mas sempre que estou contigo tu estás calmo, relaxado... tens sempre os pés na terra, tens sempre a solução para tudo... eu nunca te vi ficar passado com nada, então achei que talvez te passes quandos estás sozinho em casa." 

"Eu não passo só porque sim... a vida tem-me corrido bem desde que vieste para cá. Não tenho razões para não estar calmo e relaxado. Pela primeira vez tenho alguém que se preocupa contigo, que quer o meu bem, que me faz companhia... eu não tenho razões nenhumas para me passar... estou bem. Estou feliz."

"Ainda bem que estás feliz... eu fico feliz por estares feliz. Nunca pensei que ia ganhar tanto quando me mudei para cá."

"Tanto, tipo... eu?" Arrisquei-me a perguntar. 

"Sim..." Soltou uma risada. 

Este dia mudou tudo. Aproximou-nos de uma maneira que eu não consigo sequer transpôr para palavras. Talvez porque percebemos que não seria tão mau se tivessemos de ficar juntos para sempre... talvez porque ela se apercebeu de eu não vou a lado nenhum e de que estou na sua vida para ficar... talvez porque se tenha apercebido que se a prespetiva de um filho com ela não me assuntou, então nada o pode fazer. 

Aproveitamos a nossa folga da melhor forma possível e ficámos no meu sofá a ver filmes e a comer porcarias o dia inteiro. A noite caiu, fizemos o jantar juntos em minha casa e comemos no sofá... outra vez. A madrugada chegou e nós continuamos no mesmo lugar, apenas numa posição um pouco diferente. Ela já se aconchegou em mim e está a dormir, enquanto eu me esforço para manter os olhos abertos e acabar de ver o filme, que deve ser no mínimo o sétimo de hoje. Começaram a passar os créditos e embora contra a minha vontade eu acordei-a... foi bom tê-la nos meus braços enquanto durou.

VizinhançaWhere stories live. Discover now