"Não tenhas medo"

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Acabámos de comer com conversas mais ligeiras do que as que tivemos no início. Afinal os nossos planos eram divertirmo-nos e acabámos mesmo por nos divertir, entre fazer palhaçadas com as palhinhas e com as batatas fritas, até tentarmos usar uma jukebox que viemos a descobrir que era apenas uma imitação para decoração.

 Só chegámos a casa quase à meia noite. Procurámos as nossas chaves durante mais tempo do que era necessário para as encontrar. Demorei mais tempo até a acertar com a chave na fechadura por não conseguir tirar os olhos de cima dela, enquanto vasculhava na mala com o lábio inferior preso entre os dentes. 

"Achei!" Respirou fundo em alívio enquanto faz tintilar as chaves no ar. "Até amanhã." Sorriu. 

"Até amanhã..." Entrou em casa e só depois disso consegui concentrar-me o suficiente para acertar com a chave e entrar também. 

Ponto de vista da Abi

Só depois de entrar em casa me apercebi de que ainda estava com o casaco que me emprestou quando saímos do bar e coloquei-o nas costas de uma cadeira da cozinha para não me esquecer de lho devolver quando o visse. 

Tinha acabado de entrar na casa-de-banho apra tomar um bem merecido banho quando ouvi bater à porta. Deve ser ele... deve ter-se dado conta da falta do casaco. Bateu novamente. 

"Já vai... só um segundo." Passei pela cozinha para apanhar o casaco e abri a porta sem pensar duas vezes para me deparar com o Nate.

"Já vi que hoje estás com bastante mais vontade de me deixar entrar." Troçou e deu-me um encontrão para entrar em casa. "Estás com bom aspeto, Abi..." Sorriu de uma maneira que me fez arrepiar-me. "Oh... mas o que é isto?" Tirou o casaco do meu braço... "Hmm então foi por isso que estavas tão animada para me receber... e ias abrir a porta a outro gajo qualquer nessa figura?" Franziu a testa. "De facto... já faz tempo que não te via assim... sabes que sempre adorei ver-te com os teus pijaminhas curtinhos... fazem-me lembrar boas noites que passámos." Passou a língua pelos lábios.

"O que é que queres hoje?" Tirei-lhe o casaco que ele tinha tirado do meu braço e vesti-o para me sentir menos vulnerável. Cruzei os braços para lhe mostrar que não tenho medo.

"Dar-te uma última oportunidade de fazeres o que está certo antes de te começar a foder com a tua vida inteira."

"Tu não tens o poder que achas que tens, Nate! Tu não vais foder com merda nenhuma... tu não passas de um narcisista estúpido e insignificante." 

Deu dois passos na minha direção e aproximou a sua boca do meu ouvido. 

"Posso sim..." Sussurrou. "E posso começar já pelo rapazinho da porta ao lado..." Piscou-me o olho. 

"Tu não lhe podes fazer nada... mesmo que tentes não vais ser capaz. Mais provável tu saíres mal tratado." 

"Isso é o que tu pensas." Sorriu e dirigiu-se à porta. 

Não sei o que passou pela minha cabeça mas quando dei por isso estava a segurá-lo pelo braço e ele olhou para mim com um meio sorriso nojento. 

"Ele não, Nate..." Falei baixo e sem conseguir olhá-lo nos olhos. 

"E porque não?"

"Porque eu estou a pedir... destrói o que quiseres, mas deixa-o de fora."

"Vou pensar no teu caso." Soltou o braço, saiu e bateu com a porta.

Ponto de vista do Zain

Outra vez... outra vez não... Não hoje. Estava tão bem disposta. Principalmente depois de hoje, e de como falámos de forma aberta, custa-me não lhe dizer que sei o que está acontecer e que oiço sempre que ele vai a casa dela. 

VizinhançaWhere stories live. Discover now