Laço

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Entrámos no prédio, assim que chegámos ao nosso andar e começou a mexer na mala à procura das chaves, evitando o contacto visual comigo. 

"Então... até amanhã?" Perguntei, meio sem saber o que fazer... ela dá-me sinais demasiado confusos. 

Ela ia meter a chave a porta, mas parou, respirou fundo e olhou para mim.

"Olha... se não te importasses, eu gostava que as coisas ficassem como antes... tu sabes, com antes de ontem à noite. Só passarmos tempo juntos, e mais nada... achas que podemos fazer isso?"

"Claro..." Sorri. "Claro que podemos fazer isso. Porque não poderíamos?" 

"Obrigada." Sorriu de volta e entrou em casa. 

~*~ 

Posso dizer que a partir deste momento o tempo que passamos juntos aumentou ainda mais. Nos primeiros dias, logo após esta conversa, ela esteve um pouco mais distante... um pouco mais cautelosa. Por alguma razão ela levantou a guarda por uns tempos, sempre a tentar manter a distância de segurança... Com certeza estive mais de uma semana sem sequer encostar nela, porque percebi que ela queria espaço e dei-lho, para lhe mostrar que respeito o que quer que ela decida e que não vou tentar fazer nada contra a sua vontade... apenas continuei a ser eu próprio, a ser o mais gentil possível, e tentar ao máximo que ela se sentisse confortável, no fundo acho que quis eliminar aquele ambiente constrangedor que estava a começar a acontecer e eventualmente acabei por aperceber-me de que ela tinha razão. O que aconteceu entre nós foi impulsivo... não quer dizer que não tenha sido bom, porque foi, mas não é o tipo de coisa que eu faça, e também dúvido que seja o tipo de coisa que ela faça... o tempo era pouco, e acho que tinha sido um dia difícil e não pensámos muito nos que estavamos a fazer, porque simplesmente estava a saber bem, então deixámo-nos levar pela atração que havia entre nós e acabou como acabou... 

Não vou dizer que já não sinto nada por ela além de amizade, porque estaria a mentir. Eu gosto mais dela a cada dia que passa, mas sou adulto o suficiente para perceber que tenho de respeitar o que ela quer... ou melhor, o que ela não quer. Eu não sou do tipo que as vence pelo cansaço, isso seria apenas nojento. Além disso, eu já imaginava que ela era uma pessoa incrível mas não podia dizer com a total das certezas, como posso agora, quase um mês depois do início da nossa convivência, e se puder, eu acho que fico contente com a nossa amizade. 

A verdade é que ela é daquelas pessoas que está lá quando é preciso... é daquelas pessoas que diz as coisas certas nos momentos certos, que segura na minha mão quando preciso e que sabe exatamente quando o dia foi penoso o suficiente para precisar de um abraço... Sim, porque depois daquela semana de relutância o toque físico deixou de ser aquela especie de tabu que tinha ficado entre nós... nós podemos tocar-nos, abraçar-nos... acho que no fundo podemos quase tudo menos beijar na boca e ir para a cama... não sei exatamente o que é que isso significa ou que tipo de amizade é a nossa, mas gosto, então nem estou preocupado com isso.

"Bom dia." Cumprimentou com o mesmo sorriso de todos os dias de manhã. 

"Bom dia..." Como todos os dias de manhã, colocou-se nos biquinhos dos pés e deixou um beijo na minho bochecha como cumprimento. "Dormiste bem?" 

"Na verdade... não muito." Mordeu o lábio de baixo, e o tempo que passo com ela já me permitiu perceber que isso é um tique nervoso que tem quando algo não está bem. 

"O que é que se passa? Ele voltou a contactar-te?"

"Não... não é isso... é pior." Senti um nó a formar-se no meu estômago. O que poderia ser pior que o ex namorado dela?

"Estás bem? É algum problema no emprego? De saúde?" 

"Bem... mais ou menos."

"Estás a deixar-me nervoso..." Engoli em seco. 

VizinhançaWhere stories live. Discover now