Sexta Feira

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A sexta chegou lentamente. Parece que todos os relógios do mundo resolveram andar mais devagar para me deixar assim. Eu estava angustiada, precisava de Gabriel, precisava da ajuda dele.

A segunda-feira contou com meu mau humor, afinal, quem diabos fica legal numa segunda? Eu estava morrendo.. de tédio. Eu não entendia se estava morta ou não, porque normalmente as almas são torturadas no inferno depois da morte, depois que as levam para lá. Então é meio confuso falar que eu estava morrendo, já que eu mesma duvidava que estivesse viva, e não mais morta. Ser um demônio é uma coisa complicada. Eu podia ler Cas por completo. Mesmo que ele não fosse mais um anjo, eu gostava de chamá-lo de anjinho. Eu sabia que, depois que tiram a graça de um anjo, ele se torna um humano comum, como qualquer outro. Eu sabia que o "anticristo" estava vagando pela Terra há uns anos... quantos ele deveria ter? Eu não me lembrava. Será que ele ajudaria Lúcifer, ou ficaria do seu lado humano? Seria ele mais um como eu? Um rebelde? Poderia ser ele quem cumpriria a profecia e não eu? Não. Ele era apenas uma criança... nunca serviu a Lúcifer, nunca foi nem ao menos seu servo, quem dirá o mais fiel. Era eu. Não tinha como escapar. A resposta estava em meus olhos negros. Bem, dei aulas para os melhores alunos, e os piores até que estavam melhorando... Dei uma checada nas armas contrabandeadas e sorri. Eram lindas. Como eu já disse, eu e Gartt aprendemos a ver beleza nas armas... sua estrutura, seus traços mais brutos e mais simples.

A terça-feira foi um dia idiota. Castiel foi me visitar de manhã enquanto eu dava minhas aulas e observava o desempenho de Jade, a garota que Cas estava "pegando", no momento. Ele foi desabafar comigo, e disse que era uma pena que Anna tivesse ido para o mal, assim, me lembrei dela. Eu não levara nada para ela no dia anterior, e minha terça estava apertada demais para abrir um buraco para ela. Quem sabe deixá-la lá fosse uma forma de tortura ainda melhor que a minha? Não, a minha era melhor. Continuando, Cas disse que estava magoado, pois Lúcifer o queria no exército dele, mas... "Por que?" , foi o que ele me disse. Por que o Deus do inferno iria querer um dos anjos mais fiéis a Deus perto de si? Alguma coisa a mais Lúcifer deveria querer.. como... informações? Talvez. Era uma boa hipótese. Depois de meia hora de conversa mandei ele embora, tinha que me concentrar nos alunos.

Almocei com Dean em minha casa... Demônios não precisavam de comer, mas parece que Anna gostava, e eu gostava mais ainda. Tudo tinha um gosto mais acentuado, e eu gostava de ver a carne queimar sobre o fogo, deixando o sulco pingar. Era uma visão divina.

- Então, você pegou as armas na loja, não é?

Paralisei. Virei a cabeça para trás e vi um sorrido estampado em seu rosto.

- A Gartt entregou o jogo?

- Na verdade foi o Gortt... ele pegou a irmã admirando as facas, sabe? Ele até falou Chris...

- Ok! - Me desesperei. Se ele terminasse a palavra, eu com certeza espirraria, faria uma careta, ou me contorceria e meus olhos ficariam negros, revelando meu verdadeiro eu. - Não... Não precisa terminar. Eu já sei. Aí ela começou a rir e zombou dele por ele achar que ela estava possuída?

- Exatamente. E como eu vi as duas, juntinhas, lá na loja, você também deve ter roubado. Pegou a pistola com entalhes de ouro também?

- Mas é claro! - Suspirei. - Você já viu aqueles traços antes? São lindos. Mas o colt... aah, o colt.. É uma obra prima que eu adoraria por as mãos.

- Fora de questão, mocinha - riu.

Pus a comida sobre a mesa e comemos.

- Bem.. Você tem umas aulas agora à tarde. Então, é, já me vou.

Ele saiu pela porta da frente e eu sai atrás dez minutos depois. Tomamos rumos diferentes, ele para a cabana central, e eu para as masmorras. É, eu arranjei um tempo.

Um anjo em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora