No dia seguinte acordei com a cabeça doendo. Olhei para o teto e relembrei os pensamentos da noite anterior. Estaria eu apaixonada por Cas? Não... aqueles foram apenas momentos especiais. Era meu dever de amiga sentir ciumes, não era? Sim. Eu deveria ser amiga de Castiel, deveria querer tê-lo apenas para mim, afinal, nunca fui de dividir pessoas. Meus olhos ardiam. Pisquei e contemplei meu quarto, tão quieto. Era sábado. Senti meus músculos fracos, senti como se toda a alegria estivesse extinta de meu corpo. Olhei para a janela e vi o sol entrar por ela. De repente ouvi alguém vindo da cozinha.
O barulho de passos se aproximava a cada segundo e eu suei frio. Olhei para meu travesseiro alarmada, e me lembrei que guadava uma arma em baixo. Com as mãos tremendo, e o coração a mil, puxei o revólver de lá. Apontei para a porta e esperei o mais simples dos movimentos.
Quando a porta se abriu, e a pessoa foi revelada, a arma caiu de minhas mãos trêmulas, e eu as levei à cabeça e as passei pelos cabelos embaraçados.
- M-megan?
- Cas...
Comecei a chorar, ainda com as mãos tremendo. Afundei a cabeça em meio aos joelhos e os agarrei. Fui parar em baixo das cobertas enquanto sentia os olhos assustados de Castiel me observando. Ouvi os passos dele se aproximando, senti-o sentando em minha cama e pondo as mãos em minhas costas. Ele acariciou meus cabelos e me descobriu.
- O que aconteceu? - disse com a voz mais serena do mundo.
- O que você está fazendo aqui?
- Dean me mandou para te ver, já que ele chegou hoje de manhã e encontrou seus olhos vermelhos. Além do mais, eu viria mesmo que ele não tivesse mandado.
- O que você quer?
- Falar com você.
- Sobre? - respondi secamente.
- Sobre ontem.
- Fale.
- Olhe, eu não sei se é você a demônia, mas não me importo, Megan. Você é minha melhor amiga e eu não te deixaria nunca, nem que você se tornasse a rainha do inferno. Megan, você é muito importante pra mim e eu gostaria que você não levasse muito a sério as coisas que eu falo. Sim, quero que você esteja lá comigo quando der a hora da transformação. Quero te ajudar, Megan. Quero muito.
- Você ficaria comigo, Cas? Quero dizer, mesmo que eu fosse isso?
- Claro, Megan! Como ousou pensar que eu te abandonaria?
- Eu... eu...
- Não fale nada.
Fitei os olhos azuis. Novamente as ondas de paz me tomaram. Por que era tão lindo? Meu melhor amigo. O homem que eu confiava para tudo, para falar tudo. Eu não disse nenhuma palavra, mas senti meus olhos marejarem. Ele percebeu e me abraçou. Agarrei forte o corpo de Castiel e o trouxe para mim. Senti as lágrimas descerem, enquanto eu gemia de tristeza.
- Tenho medo, Cas! Medo de perder você, de perder Dean, Bobby, Sammy...
- Megan, tenho uma coisa para te contar. Aliás, acho que é por isso que Dean mandou a mim, e não veio por si próprio.
Me desesperei. Será que Dean tinha descoberto? Será que aquilo seria minha despedida? O que acontecera?
- Sam fugiu ontem a noite. Como você mesma sabe, ele queria tentar aquele plano de lutar com Miguel, que está no corpo de Adam, mas não exatamente lutar.
- Ele queria se jogar na jaula.
- Sim. Descobrimos alguns demônios aqui dentro e soubemos que ele bebera o sangue deles. Sam estava se preparando e nós nem fazíamos ideia. Ontem, ele roubou o jipe de Giulia e fugiu para encontrar Lúcifer. Megan, ele fraquejou, e agora, é o novo receptáculo de meu mais temido irmão. Dean está chorando.
- Meu Deus! Preciso ir falar com ele... preciso, preciso, preciso...
Eu tremia dos pés a cabeça e tentei me levantar. Com os olhos vermelhos eu lembrei daquele alce idiota. Comecei a correr e chorar. Castiel tentou me seguir, mas eu corria muito rápido. Meus pés descalços tocavam a terra fofa e eu sentia um vazio enorme por dentro. Eu sabia que ele não ia aguentar... eu sabia! Ninguém além dos instrutores, gerentes e líderes andava por nossas casas, portanto, não havia ninguém à vista. Olhei para trás e vi Castiel correndo em minha direção. Apressei o passo e logo cheguei à cabana de Dean.
Minha tremedeira não cessava. Olhei amedrontada para os lados e abri a porta...
Encontrei Dean na sala, bebendo. Ele estava bêbado, e eu nunca esperei vê-lo daquele jeito. Estava destruído. Os olhos vermelhos, os gemidos de lamento, a sensação de culpa pairando do ar. Por dentro, eu me sentia quase como ele. Eu me tornaria uma demônia, será que ele se culparia assim por mim? Naquele momento decidi não contar nada para ele, decidi que sofreria em silêncio e o abraçaria. A ida de Sam fora um choque para mim também. Ainda tremendo fui ao seu encontro e o abracei.
- Calma p-pai... c-ca-calma...
- Megan! Ooh Megan! É tudo culpa minha! TUDO CULPA MINHA, MEGAN! TUDO! TUDO!
- N-não, pai! CLARO QUE NÃO! Olhe nos meus olhos!
Retirei a garrafa de bebida de sua mão e ele me olhou. Senti como que se seus olhos verdes penetrassem em meu corpo e minha alma. Senti-me vasculhada por dentro, revirada. Ergui a garrafa e bebi um gole muito grande.
- Nada é culpa sua! Você deu o melhor de si por ele e dá o melhor de si por nós! Não vou aceitar meu pai falando assim! O que Jack diria se visse meu novo pai assim? O que ele diria? O QUE JOHN DIRIA? O que ele diria de você, Dean?!
Ele fungou, e eu senti minha alma sendo vasculhada novamente.
- Você tem razão, Megan... me dê a garrafa.
Entreguei a bebida e ele bebeu todo o resto. Depois, olhou para mim. Ouvimos um barulho vindo da porta, era Cas. Dean o censurou com os olhos e ouvi a porta se fechando.
- Não conte a ninguém o que viu aqui, por favor. Faça com que Castiel fique calado nem que tenha que atirar nele por isso! É seu dom - ele sorriu com o rosto molhado. - Agora vá. Eu fico bem.. É sábado.
- Estou indo. Mas lembre-se, Dean, você é um grande homem.
Senti uma dor queimar minhas entranhas, era a dor da culpa. Eu não queria contar nada a ele. Não contaria. Não o decepcionaria, mas mataria Sam. Mesmo que matasse meu tio, mataria Lúcifer. A alma de Sam iria para o céu, e a minha para o inferno, já que eu seria uma demônia. Faria tudo possível para que ele encontrasse uma esposa, faria com que tivesse filhos, nem que tivesse que obrigar o rei das encruzilhadas a isso.
- Já vou.
Levantei-me e o deixei. Minha tremedeira estava forte e eu lembrei que estava de camisola. Vi Cas na entrada, sentado na terra.
- Castiel?
- Sim?
- Nada. Me leva pra casa?
- Claro.
Ele se levantou e me pegou no colo. Monha tremedeira continuou e eu repousei a cabeça em seu peito. Chorei agarrada a ele enquanto era levada para casa. Meus pensamentos se concentraram em Gabriel, e na lâmina do arcanjo que um dia Morte mencionara.
Senti que Castiel me deitara em minha cama. Ele me observava atentamente, como se tentasse penetrar em minha alma com os olhos, como fez Dean.
- Você quer mesmo estar comigo quando tudo acontecer? Você vai ficar do meu lado? Você vai me ajudar?
- Irei, Meg. Receio que meu apelido seja seu verdadeiro nome. Meg, eu ficarei do seu lado. Eu prometo.
- Promete mesmo?
- Eu juro.
- Que bom.
***
Aquele dia passou lentamente. Eu não sai da cama para mais nada, e senti que Castiel queria ficar ali até que eu dormisse. Dito e feito. Às nove da noite, meus olhos se fecharam e eu adormeci sob o olhar cuidadoso e preocupado do meu anjo.
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Um anjo em minha vida
RandomMeu nome é Megan e eu vivia em meio ao apocalipse croatoan. Meu pai morreu quando eu era bem nova, afetado pelo vírus, e eu fugi para um campo na cidade. Crescemos com o passar dos anos, e aos meus 15, eu conheci um homem que mudaria minha vida para...