Burn, burn, burn...

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Era domingo de manhã e por mais que eu estivesse acostumada com saltos, ter ficado toda a festa neles fez com que acordasse com uma dor de matar nos meus pés. Marina já não estava na cama, o que era estranho, olhei para o relógio e havia passado a pouco das nove da manhã. Após tomar banho e me vestir segui o som alto do programa favorito da Sophia na tv, um desses muito coloridos e muito musicais, sabe? Irritante pra gente, legais pra eles.

Ela estava vidrada na televisão em pé entre as pernas da Marina, que estava sentada assistindo, cantarolando e rindo enquanto ela dançava agarrada à boneca que por acaso era também do mesmo desenho e havia ganhado na festa. O chão repleto de brinquedos e os sofás também, presentes de seu aniversário.

Ambas estavam de costas pra mim e distraídas. Eu me aproximei, sentei ao lado da Marina e dei-lhe um beijo de bom dia no rosto. Ela sorrindo me deu um nos lábios e a Sophia rapidamente se virou e se jogou em mim toda sorridente, deixando cair seu brinquedo. Eu a recebi com muitos beijos e mordidas enquanto dava a ela "bom dia". Marina abaixou a tv mas a Sophia rapidamente imprensou seus olhinhos na sua olhada mortal de criança raivosa e ela rindo e pedindo desculpa aumentou de novo. Ela voltou sua atenção para a tv mas sentou em meu colo toda esparramada e nós tivemos que falar no ouvido uma da outra para escutar.

– Seu chefe concordou com as suas férias? – Marina perguntou?

– Ele disse que ''tudo bem tirar esse mês''. – Eu disse sorrindo.

– Ótimo! – Marina sorriu e meu Deus, será que eu nunca vou me acostumar?

– Será que a Sophia vai gostar de Londres?

– Eu acho que ela irá amar. – Ela pegou a minha mão e beijou carinhosamente. – Vamos ficar quanto tempo?

– Acho que vou comprar somente a ida, quero ver como ela irá se adaptar. – Ela disse e apertou a coxa da Sophia, que sem desviar o olhar da tv, chutou a perna tentando se livrar do aperto enquanto balbuciava algo em seu idioma particular.

– Ela tá muito viciada nisso, não acha? – Falei vendo a Sophia tão concentrada na tv.

– Eu estava pensando se a Vanessa não poderia ir com a gente. – Ela disse distraída e eu olhei pra ele com meus olhos bem abertos, sobrancelhas arqueadas e eu acho que meu queixo estava perto de chegar ao chão. – Ela poderia olhar a Sophia e ao mesmo tempo me ajudar com algumas sessões.

– Não! – Eu gritei por cima da tv e a Sophia me olhou assustada.

– O que foi? – Ela esticou as mãozinhas até tocar no meu rosto olhando para mim ainda deitada entre as minhas pernas.

– Nada meu amor, - Respondi e dei um beijo demorado em sua testa e ela continuou com as mãozinhas ali, mas logo voltou a assistir o desenho.

– Marina, não! – Eu disse agora pra ela. – A menina precisa de férias também, ela fica com a Sophia mais do que a gente, nós precisamos de um tempo com ela. Só nós duas. Você não pensa nisso? – Eu disse sem respirar e quando terminei fechei meus olhos e respirei fundo.

– Calma, meu Deus! Você é tão egoísta. – Ela respondeu irritada e olhou para o outro lado, para uma enorme janela panorâmica que dava visão para o quintal e a rua.

– Eu? – Eu ri por que não sabia como agir diante daquela palavra. – Não sou egoísta. Ela não é babá.

– Eu já havia comentado com ela. Na verdade, ela também quer viajar por que nos temos amigos lá, crescemos em Londres, Clara. Não podemos proibir ela disso. Eu disse que falaria com você, mas você tem esse pé atrás com a garota. – Ela disse com aquele jeito dela, calmo, mas com a voz dura.

Almost FamilyWhere stories live. Discover now