(...)
– Clara, cuidado!!!– Gritei enquanto via os faróis de um caminhão vindo em nossa direção em uma curva acentuada na serra. O desespero era perturbador. Alguns segundos depois e eu não sabia onde eu estava. Olhei ao redor, a chuva molhava todo o meu corpo e então me dei conta de que fui jogada para fora do carro, estava chovendo muito. Eu não conseguia levantar, meu corpo não reagia.
– Clara?! - Gritei desesperadamente. Quase sem forças.
Movi meu corpo com os cotovelos para ver o nosso carro capotado. Os faróis do caminhão banhando a pista de luz.
– Moça, me desculpa, eu perdi o controle. Estou ligando para a ambulância.
Eu tinha certeza de que ele estava falando meu idioma, mas por algum motivo eu não estava entendendo o que ele queria dizer.
– Clara. - Eu sussurrei em direção ao carro.
– Desculpa, moça. Eu estive lá a procura de alguém, mas quem estava dirigindo não está vivo. Eu procurei pelo pulso para ver se conseguia ajudar.
– O QUE? NÃO!!!!!! - E então caí em um choro desesperado.
– Marina?! - O som doce da voz da Clara roubou a minha atenção. Ela não estava morta? Eu também estava?
– Marina, acorda! - E então eu abri os olhos.
Para dar de cara com os olhos curiosos da Clara.
– Meu amor, você estava em um pesadelo terrível? Porque o seu corpo estava inquieto e o seu rosto meio que, - Ela gesticulava e tentava imitar - em desespero. - Ela sorriu e isso fez meu coração pular uma batida.
– Não foi nada. - Eu me sentei rapidamente na cama e a puxei em minha direção, beijando-a docemente. - Bom dia!
Clara sorriu ainda com os lábios nos meus. Seu perfume era tão gostoso, seu humor rapidamente contagiou o quarto, fazendo-me esquecer meus pesadelos horríveis.
– Vamos, você precisa comer algo antes da consulta.
Sorri e pulei da cama em direção ao banheiro para me arrumar.Clara's pov.
– Hum, então pelo que estamos vendo aqui está sim tudo bem com o bebê de vocês. - A doutora sorria docemente olhando para mim e para a Marina, que segurava na mão de uma Sophia muito sorridente.
Muito em breve ela completaria oito anos, e quando lhe contamos do bebê, este se tornou seu presente de aniversário.
– Mas é menino ou menina? - Ela disse, sem tirar os olhos da telinha que mostrava um pequenininho bebê em sua plena formação.
A doutora olhou para mim, pedindo permisão. Eu rapidamente afirmei, queríamos saber.
– Parabéns pela irmãzinha, Sophia.
Ela deu alguns pulinhos e abraçou a Marina com o seu rostinho todo vermelho, contendo lágrimas.
A Marina se aproximou e me beijou, sorrindo, suas lágrimas molharam um pouco o meu rosto. Não sei exatamente em que ponto eu mesma comecei a chorar, mas aquele era realmente um momento feliz para nós duas. Estávamos escrevendo, pouco a pouco, a nossa própria história. Já não éramos mais aquelas duas, meia-irmãs, desconhecidas que subtamente precisaram criar uma irmã compartilhada.
Éramos Clara e Marina, recém-casadas e esperando o nosso primeiro bebê. Aquele era realmente um momento a ser comemorado.
– Eu vou dar privacidade a vocês, fiquem a vontade. - A Doutora disse e saiu, deixando com a Marina a primeira foto da nossa filha.
– Ela pode se chamar Tainá? Eu amo esse nome. - Sophia disse, passando a mão na minha barriga, ainda gelada.
Eu particularmente amei a ideia, mas olhei para a Marina em busca da aprovação.
Ela estava com os olhos fixos na pequena foto em sua mão.
– Tainá. - Ela sussurrou para si mesma. - Eu amei a ideia, e você amor?
– Eu também! - Disse sem exitar.
– Tainá! - A Sophia disse e beijou a minha barriga. - É a minha irmã e sobrinha.
Ela disse rindo, não conseguindo conter o rosto de felicidade. Nós rimos junto com ela.
A Doutora retornou e continuou fazendo algumas anotações. Em pouco tempo estávamos liberadas para comemorar.
***– Marina!!! - Gritei do topo da escada apoiando-me na parede, respirando fundo. Com a barriga enorme eu mal conseguia levantar, parecia haver cinco crianças ali dentro. Então quase não descia as escadas. - Marinaaaa!!!
– Oi, to indo. - Eu escutei a voz abafada dela. Provavelmente estava no banheiro, fiscalizando se a Sophia estava cuidando da roupa do balé, já que elas haviam acabado de chegar de uma das aulas semanais da Sophia.
Depois de alguns segundos ela apareceu, sua câmera pendurada em seu pescoço, de óculos... Maravilhosamente linda. Ela subiu as escadas correndo e rapidamente estava de frente para mim, jogando os braços em meus ombros e enchendo o meu rosto de beijo, fazendo me sorrir.
– O que foi meu amor? - Ela enfim disse.
Eu respirei fundo.
– Está na hora. Eu já peguei a bolsa, tá em cima da cama junto com os documentos, tudo pronto. - Respirei fundo e soltei o ar. Eu estava calma. Ao menos tentando. As contrações começaram há algum tempo, mas isso era normal, eu havia me preparado para esse momento.
– AI MEU DEUS! - A Marina mudou totalmente da expressão calma para uma desesperada. Ela se afastou como se tivesse medo de que eu me partisse em vários pedacinhos e isso me fez rir. - Por que você não me ligou? Está com muita dor? Ai, meu Deus!!! Vamos. - Sophiaaaa!!!
– Hey! Calma. - Eu a segurei, olhando-a bem nos olhos. Mas não deu muito certo a tentativa de acalmá-la, porque uma contração forte veio bem na hora em que a Sophia estava subindo as escadas.
Eu gritei com a dor escruciante que parecia me rasgar inteira. Quando eu me sileciei, percebi que meu grito não estava tão alto como pensei, mas sim o da Marina e da Sophia, gritando desesperadas. Eu não conseguia rir, mas daria tudo se pudesse.
– Sophia, corre no quarto e pega tudo o que está em cima da cama e trás para o carro... - Quando ela não se mexeu eu reforcei. Vai meu amor. A Tainá está chegando. - Bastou isso para ela correr pelo corredor.
Pedi a mão da Marina para descermos a escada, ela parecia estar colocando em prática a lição de respiração que aprendemos nas aulas práticas para casais esperando bebês. Mas ela estava louca para gritar, seu corpo todo dizia isso.
Chegamos no carro com a Sophia bem atrás da gente, entramos rapidamente e a Marina dirigiu o mais rápido que pode até a clínica.
Mais alguns minutos e a nossa bebê nasceria no carro, ela já estava louca para chegar a esse mundo.
Marina não sabia se filmava, tirava fotos ou segurava a minha mão. Ela se dividiu um pouco para cada coisa, mas quando eu precisei fazer força mesmo, ela estava bem ali do lado, sorrindo e me apoiando. Até que ela deu a mais gostosa gargalhada ao ver o rostinho da nossa menina, que enchia a sala com o seu choro alto e agudo.
– Clara, ela é linda. É perfeita. - Ela dizia com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Intercalando com beijos no meu rosto.
– Parabéns, mamãe. - A Doutora disse. - Mamães. - Ela sorriu e se corrigiu. - Segure ela um pouco antes de a levarmos para alguns testes.
E então ela me entregou aquela bonequinha de porcelana enrolada em uma toalha verde, a coisa mais linda que eu poderia imaginar, não chegaria nem perto da beleza da nossa filha.
Marina tirou algumas fotos e então beijou novamente a minha testa.
– É a nossa filha, Clara. - Ela dizia, como se precisasse disso para acreditar no que realmente estava acontecendo.
– Sim, é a nossa filha. - Eu repeti, sorrindo.
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Almost Family
FanfictionClara, no auge dos seus vinte e três anos, achava que nada poderia lhe surpreender mais, mas o destino estava disposto a mostrar que ela poderia estar errada. Quando sua mãe lhe diz estar grávida do noivo, seu mundo todo é virado de cabeça para baix...