Nightmares and violent shapes...

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Eu mal conseguia me concentrar no simples ato de ficar acordada tamanha era a dor que sentia, no corpo e na alma. O meu refúgio era quando eu simplesmente fechava os olhos e pensava na minha família, era como se uma forte anestesia se espalhasse imediatamente. Porem, a dor forte no meu estômago fazia questão de me acordar para lembrar a real situação.

Eu escutava a risada da Vanessa no andar de cima e muitos passos. Era perturbador não conseguir se mexer por que eu estava toda amarrada e ela havia passado uma fita adesiva em minha boca após ligar para a Marina. A grossa camada de poeira no chão e a escuridão do que eu havia notado ser um porão já não me incomodava mais e o chão gelado agora servia como um analgésico para as minhas diversas dores pelo corpo. Eu a escutei falando com a minha noiva e eu gritei por socorro, não sei se ela ouviu, mas foi minha última chance por que agora não sei se tenho forças sequer para abrir os olhos.

***

Como eu vim parar nesse parque onde as árvores e a grama são de um verde tão vivo e o céu é apaixonante de tão azul?

Espere. Aquela é a minha menina? - Pensei.

"Sophia..." Eu gritei por ela e ela olhou em minha direção, me deu um sorriso que iluminou ainda mais aquele dia ensolarado. Ela começou a correr em minha direção e ela estava de mãos dadas a alguém. "Clara!", ela gritou de volta do outro lado do extenso gramado e começou a correr, meus olhos passaram pelos braços dela e para quem estava com ela. Era o tipo de beleza máxima que o ser humano podia alcançar, eu tinha certeza. A mulher que fazia o meu coração se acelerar e acreditar que o tempo e a distância não podem destruir o que é verdadeiro. A minha Marina sorria acompanhando a Sophia. Eu sorria e corria de encontro à elas com os braços abertos esperando que todo o vazio fosse preenchido quando finalmente atravessássemos a clareira. Mas...

– Acorda. – Vanessa gritou, arrancando-me do único lugar onde eu gostaria de estar.

Eu despertei com uma pontada de dor em meu peito, Vanessa estava acima de mim e agora a luz que iluminava como uma poça amarelada fosca estava acesa novamente. Ela sorria e aquele sorriso era o que eu estava acostumada a ver quando chegava do trabalho e ela estava lá em casa com a Marina, e ainda se despedia com um "até amanhã". Eu não tentei gritar, sentia como se não houvesse mais nada a ser feito, apenas sentir dor.

– Ah, Clarinha... Você está com fome?

Ela se sentou na cadeira atrás dela, apenas com as botas sob a luz, eu não me dei o trabalho de olhar por que sabia que não conseguiria ver seu rosto.

– Aposto que sim. Mas para que comer se irá morrer de qualquer forma. Seria um desperdício. – Ela riu. – Eu não deveria te contar, mas daqui há algumas horas, eu e o meu amiguinho iremos fazer você sumir. Simples assim, Bum! – Outra risada. Um arrepio atravessou todo o meu corpo. – Não se preocupe, você não irá sentir dor.

Ela se levantou, rindo como se houvesse compartilhando uma piada incrivelmente boa e ao apagar a luz, deixou o porão.

Após ficar sozinha e digerir tudo o que ela havia dito, eu lutei para voltar ao meu sonho de antes, mas não conseguia. Fiquei mexendo minhas mãos que doíam demais sob as finas cordas de nylon que a amarravam junto aos meus pés agora. Eu estava em uma posição tão limitada que era ridículo, e isso havia sido ideia da Vanessa. Ela e o rapaz que eu não conheço, mas que está sempre aqui me verificando discutiram quando ela lhe deu ordens para que me imobilizasse por inteira. Eu me lembro dele gritar com ela: "A garota é indefesa, ela não tentou nem se desamarrar." Mas ela respondeu: "Ela é esperta, faça." E eu não sei que tipo de relação eles dois tem, que mesmo reclamando, ele fez.

A cada vez que adormecia, sem sonhos ou pensamentos coerentes, era como se meu corpo estivesse usando suas últimas fontes de energia e me desligando por completo. Eu mal conseguia raciocinar sobre o motivo de estar ali, largada em um chão frio e sujo. Não sabia se era dia ou noite, se já havia passado uma hora ou dez. Pensei estar sonhando quando ouvi muitos passos no andar de cima, diferente dos passos leves e distantes de antes, estes eram pesados e apressados. Muito barulho. Tudo isso de uma vez, e gritos também. Deve ser o meu medo refletido em sonhos, pesadelos ou seja lá o que isso for. Eu queria ver novamente o rostinho da minha Sophia, da Marina...Eu não quero morrer. Disse a mim mesma em meio àquele pesadelo de barulhos e passos pesados. A porta se abriu com o barulho de um trovão e eu me assustei abrindo os olhos.

Almost FamilyWhere stories live. Discover now