Caitlin sabia que em algum momento entre sua saída do avião e a chegada até a casa de sua avó, ela teria que contar a Barry sobre um pequeno detalhe que envolvia sua família. Os gregos tem um certo problema com barulho, o lema de sua família era “quanto mais alto, melhor”. Elas eram surdos, na opinião dela.Lembrava-se muito bem do dia de sua formatura, a faixa “você não fez mais do que sua obrigação” escrita pelos seus primos e o cartaz “princesinha da vovó” de Sofia, ela poderia muito bem esquecer aquela humilhação, mas a memória sempre voltava para lhe assombrar. Clarissa havia ficado com vergonha por ela e no momento em que Caitlin pisou o pé fora do palco foi puxada para longe de sua família louca.
Quando era menor de idade e havia ido morar com os Stein depois da morte dos pais, ela ia quase todo final de ano passar o natal com seus avós. Sua memória de infância favorita era o cheiro Baklava que tomava a casa toda vez que sua avó se arriscava na cozinha, também se lembrava de seu avô gritando para os gatos da rua pararem de mexer em suas latas de lixo e no fim do dia quando todos se reuniam no quintal para assar marshmallows na fogueira improvisada. Guardava essas lembranças como se fossem pedras preciosas, elas eram seu refúgio em certos momentos.
-Tem certeza que sua avó não vai se importar de você estar levando a gente? - Gypsy indagou novamente pela terceira vez enquanto táxi rodava a cidade.
-Claro. Ela ama pessoas novas, principalmente quando pode força-las a ouvir suas histórias antigas, já que nenhum neto não suporta mais ouvi-las. Dobre a direita. - pediu ao motorista, então olhou pela janela para ver se o táxi de Barry e Cisco ainda estava perto. Lucas bateu a mãozinha contra a janela espantando a mosca parada ali.
-Não seria melhor se ficássemos em um hotel?
-Até seria, mas isso acabaria com toda a sua experiência grego-americana. - disse e se virou para ela. - Gypsy, vovó vai amar ter vocês lá. Ela ama pessoas novas e tenho certeza que vai adorar entupir vocês de comidas.
-Cisco vai se fartar. - ela falou um pouco mais calma, os ombros já não estavam tão tensos e ela não mexia mais involuntariamente na alça da bolsa.
-Barry principalmente. Já que o metabolismo dele requer mais energia, ou seja, mais comida. Acho que minha avó vai amar ele.
-Espero que sim, já que ainda ele é seu marido, não é?
-É, mas sobre isso. Por favor não mencione nada a ninguém sobre eu estar casada com Barry. - pediu olhoando para Gypsy um tanto receosa, sua amiga abriu a boca e balançou a cabeça como se não pudesse acreditar naquilo.
-Você não contou nada para a sua família também?
-Eles não precisão saber. Não vão precisar agora.
-Deus, Caitlin. Você é um desastre natural ambulante.
Ela cruzou os braços ofendida com aquilo, mas Gyspy apenas se virou para a janela, Caitlin queria fazer o mesmo, mas estava sentada no meio entre a morena emburrada e a cadeirinha de Lucas. Então apenas se virou para frente e encarou a estrada.
-Você pode parar naquela casa bem ali que parece a bandeira da Grécia. - pediu apontando para uma das últimas casas da rua. O motorista assentiu e dirigiu parando no outro lado da pista. Caitlin a porta se abrir e pelo menos umas três pessoas saírem, duas mulheres muito parecidas de cabelos acobreados, mas uma delas era mais nova, e um homem que tinha mais ou mesmo a sua idade de cabelo preto. Todos pareciam animados. Ela respirou fundo. - E lá vamos nós.
Caitlin retirou Lucas da cadeirinha antes de descer do táxi, ele seria seu escudo de proteção naquele momento. Sofia se aproximou já com os braços erguidos para abraçá-la, sua avó era meio baixinha e rechonchuda por isso ela teve que se inclinar para abraçá-la.
-Quem é vivo sempre aparece. - Raul disse abraçando-a.
-É bom ver você também, primo. - murmurou se afastando dele, Barry e Cisco já se aproximavam com as suas malas, que na verdade era apenas mochilas, Caitlin às vezes invejava como os homens não precisavam de tantas coisas quanto as mulheres. Caitlin então o puxou pelo braço o fazendo ficar frente a frente com Sofia. - Vó, tia Elisa, Raul, lhe apresento, Barry Allen, o pai do Lucas.
Os olhos de Sofia brilhavam como dois raros diamantes, ela então sorriu para Barry e bateu palma o puxando para um abraço apertado.
-É tão bom finalmente conhece-lo. - ela disse apertando a bochecha dele até ficar vermelha. Caitlin riu da cara de dor que Barry reprimia. - E esse outros?
-Francisco Ramon, mas podem me chamar apenas de Cisco, sou amigo de Caitlin. - ele disse estendendo a mão para Sofia apertar, mas Caitlin sabia que sua avó era mais adepta de abraços apertados.
Quando Sofia finalmente soltou Cisco, ela se virou para Gypsy que parecia tentada a entrar no táxi e pedir para ele dirigir para bem longe dali.
-Cynthia Reynolds. - ela falou um tanto insegura e Caitlin sorriu ouvindo pela primeira vez o nome real dela, Cisco segurava a risada enquanto abraçava Elisa.
-Que nome encantador. - Sofia disse, cada letra que saía de sua boca parecia uma nota cantada. - Vamos entrar e descansar, a viagem deve ter sido longa.
-Não tanto assim. - Barry falou e assim se encerrou a conversa, Raul ajudou com as malas e as levou até o andar de cima da casa. Caitlin se lembrava de cada detalhe que tinha ali, desde do carpete solto na entrada até a tábua que rangia no banheiro de cima, a maçaneta da porta da cozinha não funcionava e o quintal tinha uma infestação de formigas vermelhas e joaninhas todo o outono. Havia fotos espalhadas pelas as paredes de todos os parentes conhecidos e desconhecidos, Caitlin gostava de contar quantas vezes tio Reno aparecia como intruso nas fotos.
-Como vai o tio Charles, tia? - indagou, a mulher bufou como se o assunto lhe desagradasse, mas Caitlin sabia que aquele era o seu assunto favorito.
-Chato, resmungão, irritante, enjoado e brigão. Não sei como ainda o suporto dentro da minha casa. - ela falou, o sotaque inglês ainda estava claro em suas palavras, poderiam se passar anos, mas ele ainda estaria ali.
-Porque você o ama e nunca o deixaria, mesmo ameaçando se divorciar desde de que eu nasci. - Raul argumentou fazendo sua mãe bufar e o ignorar. Ele então se virou para Barry que estava alguns passos atrás e disse em voz baixa. - Mamãe e papai vivem em pé de guerra desde de que casaram, ameaçam se separar, mas isso nunca aconteceu.
-E nunca vai. - acrescentou fazendo os mais novos rirem e as duas mulheres resmungarem algo.
Sofia parou no meio do corredor fazendo todos pararem com ela.
-Pronto, temos dois quartos vagos. - ela falou e então se virou para Gypsy e Cisco. - Caitlin disse que vocês estão juntos, então poderão ficar com este. - Sofia apontou para uma das portas de madeira pintadas de branco. - E Caitlin e Barry ficaram com o outro.
-Obrigada. - Barry agradeceu puxando a mala dela para dentro do quarto vago, Caitlin o seguiu e assim que entrou colocou Lucas no chão. Havia uma cama de casal centralizada, uma poltrona, um guarda-roupa e uma janela ampla com cortinas brancas.
-Acho que nós três cabemos nesta cama. - disse deixando a bolsa em cima da poltrona.
-Três? - Sofia indagou confusa e então balançou a cabeça em negação. - Não querida. Este quarto é apenas para você e Barry, Lucas dormirá comigo, estou precisando de companhia masculina.
-Vovó! - Raul exclamou do lado de fora do quarto.
-Todos precisamos de companhia em certos momentos, eu só ainda não procurei alguém porque estou ocupada demais tratando de assuntos importantes.
-E também porque está velha demais. - Raul disse novamente e o barulho de um tapa foi ouvido. Caitlin revirou os olhos. - Aí mãe!
-Lucas ficará comigo e vocês dois ficaram aqui. - Sofia disse estendo a mão para o pequeno, que aceitou e a seguiu.
-Traidor. - murmurou enquanto a porta se fechava.
-Sua avó é um amor de pessoa. - Barry disse, Caitlin girou os calcanhares na direção dele, sabia que sua avó planejava algo grandioso, mas apenas não sabia o que era. Mas conhecendo Sofia como conhecia, já devia se preparar para o pior.
-Você não faz ideia.
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Nodus tollens (Revisão)
Fiksi PenggemarBarry Allen sempre teve um certo controle de sua vida, ele sabia que era impossível ter total controle sobre tudo o que acontecia, não podia controlar o tempo ou os ataques a cidade. Mas ele sabia que a única coisa que não tinha controle era sobre C...