Ela não era a sua Callie.

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Enquanto Arizona estava no Lobby, houve momentos em que ficou convencida de que Callie se lembrou dela. Mas esses momentos eram fugazes e etéreos, e desapareceram como teias de aranha levadas pelo vento. Então, Arizona, que era uma jovem inocente, começou a duvidar de si mesma.

Talvez seu primeiro encontro com Callie tinha sido um sonho.

Talvez ela tivesse se apaixonado pela sua fotografia e imaginou os eventos que ocorreram após April e Jackson fugir. Talvez tenha adormecido no pomar sozinha e a triste ilusão surgiu do desespero e da solidão de uma menina oriunda de um lar desfeito que nunca se sentiu amada antes.

Era possível.

Quando todo mundo acredita numa coisa e você é o único que acredita noutra, é muito tentador imaginar coisas. Tudo que Arizona teria que fazer seria esquecer, negar, suprimir. Então, ela seria como qualquer outra pessoa.

Mas Arizona era mais forte do que isso. Não, ela não estava preparada para ligar para Callie e falar abertamente sobre sua virgindade, pois isso seria dar atenção a mais para um fato que a deixava parcialmente envergonhada. E não, ela estava relutante em forçá-la a lhe reconhecer ou a noite que compartilharam, porque Arizona tinha um coração puro e não gostava de obrigar ninguém a fazer nada.

Quando viu a confusão no rosto de Callie, enquanto estavam dançando, e percebeu que sua mente a impedia de se lembrar, ela se retirou. Estava preocupada com o que uma súbita e forte percepção poderia fazer com ela e com medo de que sua mente pudesse quebrar, como a mesa de vidro de Karen. Optou por não fazer nada.

Arizona era uma boa pessoa. E às vezes a bondade não diz tudo o que sabe. Às vezes a bondade espera o momento oportuno e faz o melhor que pode.

A Professora Torres não era a mulher por quem tinha se apaixonado no pomar. Na verdade, Arizona concluiu que havia algo seriamente errado com a Professora. Ela não era apenas obscura ou deprimida, era perturbada. E temia que ela tivesse tendências alcoólicas, familiarizada como estava com o alcoolismo, por causa de sua mãe. Mas porque era boa, não iria destroçá-la do jeito que ela havia sido destroçada, forçando-a a ver algo que ela não queria.

Arizona teria feito qualquer coisa por Callie, a mulher com quem ela passou a noite em uma floresta, se ela tivesse dado a ela um único indício de que a queria. Ela teria descido ao inferno e procurado por ela, procuraria até que a encontrasse. Teria arrebentado os portões e a arrastaria de volta. Ela teria sido o Sam para o seu Frodo e a seguiria até as entranhas da Montanha da Perdição.

Mas ela não era a sua Callie. Sua Callie estava morta. Tinha ido embora. Deixou para trás somente vestígios dela no corpo de uma clone forte e atormentada. Callie quase quebrou o coração de Arizona uma vez. Ela estava determinada a não deixá-la quebrar uma segunda vez.

Antes de April deixar Toronto e voltar para Jackson e a distopia que era sua família, insistiu em ver o apartamento de Arizona. Arizona tinha tentado durante dias fazê-la desistir, e a própria Callie havia desencorajado sua irmã de sequer aparecer sem aviso prévio. Ela sabia que logo que visse onde sua amiga estava vivendo ela pessoalmente embalaria Arizona e a obrigaria a se mudar para um lugar mais agradável, de preferência o quarto de hóspedes de Callie.

Então, no domingo à tarde, April chegou à porta de Arizona para tomar chá e dizer adeus antes de Callie levá-la para o aeroporto.

Arizona estava nervosa. Teve a virtude cardeal da fortaleza, como uma santa medieval teimosa, e assim seria improvável se incomodar com desconfortos ou desfeitas. Consequentemente, ela não tinha pensado que o seu pequeno buraco do coelho fosse realmente assim tão mal quando assinou o contrato de aluguel. Era seguro, estava limpo e podia pagar. Mas acreditar nisso e mostrar seu apartamento para April eram duas coisas diferentes.

My Sweet RedemptionWhere stories live. Discover now