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Quarta-feira. O dia em que eu iria novamente a casa de Amélia para mais uma aula particular. Para ser sincero eu não me sentia preparado, toda aquela confusão mental estava me deixando distraído, completamente perdido. Só de pensar em passar duas horas sozinho com a fonte de todos esses efeitos colaterais eu sentia minhas pernas amolecerem.

Dei dois toques em sua porta e em menos de dez segundos sua mãe abriu a porta me recebendo com um sorriso estridente e um abraço.

-Maxon, como você tá?

-Bem. - menti. - Cadê a Amélia? - perguntei automaticamente e Marta sorriu.

-Ela tá no quarto dela, já vai descer.

Nisso me deixou na sala a espera de sua filha. O cheiro amadeirado se mantinha, mas algo estava diferente. Havia notado que Marta estava um tanto mais arrumada naquela quarta-feira, com uma roupa social e um tanto aflita.

-Oi, professor. - fui tirado de meus pensamentos pela voz suave de Amélia.

-Oi, Amélia. - ela usava uma calça branca e um casaquinho com listras claras verdes e brancas junto com um lacinho no rabo de cavalo, dando-a um ar de inocência.

-Então, crianças, eu vou sair um pouco. Houve uma emergência no meu trabalho e eu preciso ir. Mas não pense em encostar um dedo na minha filha, há olhos em todos os lugares por aqui. - Marta disse próxima a mim e eu apenas concordei com a cabeça.

Assim que a mais velha saiu pela porta eu sentei à mesa com Amélia. Ela estava estranha, quieta, não havia feito nenhuma piada ou dado uma risada. Abriu seus livros em silêncio enquanto esperava que eu começasse a aula.

-O que aconteceu? - perguntei.

-Não sei, me diga você.

-Como assim? - estava realmente confuso, não fazia ideia do porquê dela estar daquele jeito.

-Por que não respondeu minhas mensagens na sexta? - suspirei aliviado.

-Eu já te disse, fiquei ocupado e esqueci de responder. É isso que te perturba? - ela abaixou o olhar.

-Não, não é isso. É que... deixa. Vamos estudar, as provas tão chegando.

Resolvi ignorar e dar continuidade a aula. Conversamos sobre muitos assuntos, o tempo parecia passar rapidamente e tudo estava fluindo perfeitamente. Como sempre gostei de fazer, a deixei fazendo alguns exercícios enquanto eu começava a planejar algumas aulas da semana seguinte.

Estava completamente focado em meu trabalho, tanto que havia esquecido completamente que a menina ao lado havia tirado meu sono por certos dias. Por um momento fiquei feliz, pois significava que realmente havia sido algo passageiro.

Em meus anos como professor eu nunca havia tido nenhum pensamento anti profissional sobre nenhuma aluna. Não era do meu feitio. Sempre fui o "nerd", o certinho do grupo, enquanto outros professores, como Leo, não só olhavam como xavecavam alunas alheias. Eu apenas observava e continuava focado em minha função.

Senti um olhar pesando sobre meu corpo, me virei apenas para encontrar Amélia com o lápis entre os lábios me olhando e, pela primeira vez no dia, fui afetado pelos seus olhos azuis. Ela virou rápido como quem é pega de surpresa.

-Gosta do que vê? - perguntei, do mesmo jeito que ela havia me perguntado na outra semana, ela riu.

-Gosto. - me encarou.

Ficamos em silêncio e todas as certezas sobre aquela paixonite ser algo passageiro pareciam sair lentamente do meu corpo. Involuntariamente inclinei meu corpo, até que pude sentir o seu cheiro de morango, me deixando anestesiado. Ela passou a língua pelos lábios, me atraindo ainda mais para lá.

-Você precisa corrigir os exercícios. - ela sussurrou.

Acordei de meu transe, sentindo meu coração disparado. Ouvi Amélia dar uma risadinha e pigarreei.

-Isso é errado.

-O que? - ela perguntou.

-O que? - respondi, sem entender.

-O que é errado?

Merda. Falei em voz alta o que era pra ter ficado em minha cabeça.

-N-nada. Esquece, vamos corrigir os exercícios.

Já havia notado uma grande melhora de Amélia em relação às matérias, o que era algo excelente, ela era uma meninas esforçada e estava sempre se mostrando disposta a aprender e melhorar. Mostrei um erro em uma questão e ela logo correu para refazê-la.

Ela mostrou uma pequena dificuldade naquela questão mas não se abalou, continuou tentando e se negava a receber o gabarito antes que acertasse.

-Você não desiste mesmo, não é? - brinquei e ela riu.

-Eu sou mulher, professor. Eu luto, eu caio, eu sangro mas nunca desisto.

-Muito bem, então. Continue assim. - ela sorriu e continuou a fazer a questão.

-Vê aqui. - me entregou o caderno em expectativa.

-Acertou! - levantou rapidamente e se sentou de novo passando a mão nos cabelos.

-Eu gostaria de agradecer a minha mãe que não está aqui. - fingiu estar recebendo um prêmio e eu gargalhei. - Também meu pai que apesar de um cuzão paga a minha escola então eu devo esse privilégio a ele. - ri novamente, junto com ela.

-Seus pais são divorciados? Bom, se me permite perguntar.

-São. E para de ser tão formal comigo, somos amigos. - ela disse me dando um tapinha no ombro.

-É mesmo? Amigos contam uns aos outros o porquê deles estarem chateados. - disse me referindo a mais cedo.

-Ah, é que...

Meu telefone tocou avisando que o tempo de aula havia acabado. Nos olhamos por um breve momento, um esperando o outro falar alguma coisa. Ela viu ali uma oportunidade para se livrar da minha pergunta e começou a guardar seus materiais, fiz o mesmo.

Amélia me levou em silêncio até a porta, onde estendeu a mão como um último cumprimento. Apertei sua mão e a puxei para um abraço, não queria que perdêssemos esse hábito apesar de tudo o que se passava dentro de mim. Ela apertou minha cintura e eu a puxei, sem ao menos perceber, para mais perto do meu corpo.

Acho que ambos precisávamos disso, pois ficamos algum tempinho juntos. Mais do que poderia. Mais do que devia.

-Até semana que vem, professor.

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oii gente, tudo bem? espero que tenham gostado do capitulo de hoje!

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beijos no core e até semana que vem! <3

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