➷ Uma Parte de Mim ➷

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Encaro o pequeno copo de plástico na minha mão, a água está balançando, graças ao tremor do meu corpo. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu simplesmente não posso acreditar, Elena se foi, minha mãe se matou. Eu não posso acreditar, eu nunca poderia imaginar isso, ela era uma mulher tão cheia de vida.

— Você se sente bem para isso?

Levanto a cabeça e encaro meu pai e o delegado Clarck ao seu lado. Eu estou com eles em uma sala de interrogatório, mas não estou sendo interrogada, pelo que entendi minha mãe deixou um testamento e um vídeo que eu devo ver.

Encaro meu pai e balanço a cabeça, isso o faz suspirar, eu sei que ele não quer que eu sofra por isso, mas eu preciso ver, eu quero ouvir tudo o que ela tem a me dizer. Meu pai se endireita na cadeira e liga a televisão, viro a cabeça em direção a ela e me apavoro com a imagem que tenho.

Mamãe está sentada em uma poltrona, mas é como se não fosse ela, ela está magra, está com os cabelos bagunçados e já não se parece nada com a mulher cheia de vida que eu conhecia.

— Oi. — Ela diz e sua voz faz as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. — Eu nunca imaginei que estaria aqui, mas eu estou, graças a você. Eu não te odeio por isso, pelo contrário, eu sei que estraguei a sua vida e você é quem deveria me odiar por isso. Eu nunca te contei como o império começou, mas eu vou te contar, eu vou te contar tudo agora porque eu sei que nós nunca nos veremos novamente.

Fecho meus olhos sem conseguir encarar a sua imagem tão acabada dessa forma, fico apenas ouvindo-a.

— Meu pai não era um bom homem. — Ela sussurra e meu coração se aperta. — Ela sempre me batia, eu era só uma garotinha, como você. Mamãe era uma mulher fraca, ela fazia tudo o que ele queria, e ele era um monstro, ele a obrigava a transar com ele, se ela dissesse não, ele batia nela até ela ficar inconsciente e ele poder abusar dela.

Meu coração se apertar e isso só tornar as lágrimas mais fortes, eu não posso acreditar em tudo isso.

— Quando eu tinha 13 anos... ele a matou, depois te tanto dizer que ela era um lixo, que não sabia ser mulher, que não prestava nem mesmo para ser comida, ele a matou. — Sua voz é tão amarga e dolorosa, isso está acabando comigo. — Ele prendeu ela numa caixa de vidro, como a Branca de Neve, então ele jogou cinquenta escorpiões dentro, e eu assisti tudo aquilo. Assisti cada picada enquanto mamãe implorava para não morrer... depois eu matei meu pai, no mesmo dia, eu esfaqueie ele enquanto gritava o lixo que ele era.

— Já chega... — Imploro baixinho.

— Eu te amo, Elizabeth.

Abro meus olhos e encaro minha mãe na TV, sem ter certeza se ouvi isso mesmo.

— Eu te amei quando você nasceu, eu sempre te amei, mas o mundo era cruel demais para você e eu fui tola, eu achei que estava te protegendo, mas eu estraguei a sua vida, eu sinto tanto, querida.

— Papai, já chega. — Imploro encarando meu pai. — Eu não quero mais ver isso, desligue.

— Tudo bem. — Rapidamente ele desliga a TV e me encara. — Eu sinto muito.

— Você sabia disso?

— Não, eu não sabia.

— Eu... preciso ir embora...

— Ana, você precisa esperar, só um pouco.

— Por quê?

— Sua mãe, ela deixou tudo para você. — Papai diz suspirando.

— Eu não quero o dinheiro sujo dela. — Grito explodindo. — Eu não quero nada disso.

— O dinheiro era da sua... avó.

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