Especial de Natal

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2018, 25 de Dezembro

Respiro fundo e solto um grito, sufocado pela raiva e o desespero, então encaro Lilly e ela se joga para trás, caindo da cama para o chão e nem isso a impede de continuar rindo do meu desespero. Fecho os olhos por alguns segundos e quando os abro, encaro a mulher pálida e desesperada na frente do espelho, tentando entrar no vestido. Isso não pode estar acontecendo outra vez.

— Eu nunca vou me cansar disso — Lilly murmura tranquilamente, agora sentada no chão. — Por que o desespero, Ana?

— Lilly!

Quero xingá-la, mas Maggie me fez prometer que eu não diria coisas obscenas na frente da minha querida irmãzinha, mesmo ela já tendo 17 anos! E me enchendo a paciência sempre! Como ela pôde rir do meu desespero dessa forma? Eu prometi a Christian que usaria o vestido que ele comprou e eu o provei tantas vezes, para ele não entrar agora, malditos seios!

— Você sabe o que isso significa — ela diz, sentando-se na cama.

— Não, não diga...

— Bebê — me interrompe, e eu fecho os olhos. — Ana, para, minhas sobrinhas já estão com 13 e 9 anos, nós podemos ter mais bebês.

— Então por que você não tem um?

Lilly me olha chocada e gargalha, balançando a cabeça e eu acabo rindo, caindo em mim, não acredito que disse isso, mesmo estando tão desesperada. Lilly tem razão, eu sei bem o que isso quer dizer, os enjoos, o vestido apertado, os seios maiores... Judith me causou o mesmo problema, mas depois de tantos anos, não sei se estou preparada. Estava tudo indo tão bem, o trabalho, as meninas, Christian e agora... um bebê. Eu vou ficar louca!

— Vamos lá, Ana — Lilly pede animada, levantando-se da cama. — Vamos até a farmácia.

— Lilly, é véspera de Natal, nós deveríamos estar ajudando Gail com os preparativos, a mamãe vai chegar a qualquer momento, assim como o resto da família.

— Ah, para, eles vão demorar, tenho quase certeza e, o Christian nem chegou ainda, qual a chance de ele chegar a tempo da viagem?

— Eu espero que ele chegue — sussurro, um pouco receosa. — Senão, eu vou matar ele. Christian não tinha que viajar com as nossas filhas um dia antes da véspera de Natal!

— É, fala isso para a sua princesinha que sempre ganha o que quer!

— Não me lembre disso — murmuro, suspirando.

Encaro-me no espelho e desisto, desisto do vestido vermelho de seda que Christian comprou! Tiro-o e fico apenas em peças intimas, encarando a minha imagem no espelho, com pavor, levo as mãos até a barriga e suspiro baixinho. Lilly para atrás de mim e envolve o braço ao redor do meu ombro, rindo.

— Vamos lá, vai ser legal.

— Eu estou apavorada, garotinha!

— Eu sei — fala rindo, com tranquilidade. — Por isso é tão engraçado e...

Lilly caminha até meu closet e sai minutos depois, carregando um cabide com um vestido igual ao que Christian me deu.

— Mamãe e eu já suspeitávamos, e nós compramos um pouquinho maior.

— Ah, meu Deus, Lilly!

— Veste, Ana, vamos ver como você fica.

Balanço a cabeça, sem conseguir conter a emoção que estou sentindo, pego o vestido e o visto, suspirando de alívio ao ver que ele entra e fecha perfeitamente. Encaro-me no espelho, estonteante. O vestido vermelho é de seda, todo esvoaçante, com um grande decote e alças finas, é lindo, e eu não entendo porque Christian insistiu tanto que eu usasse, ele deixa minha tatuagem completamente amostra.

— Você está linda — Lilly fala com empolgação. — Agora, vamos?

— Lilly, eu não posso fazer isso, não estou preparada.

— Eu imaginei que fosse dizer isso — fala calmamente, então tira algo de trás das costas, um teste! — Por isso comprei isso mais cedo.

— Lilly! Meu Deus, menina!

Lilly ri e levanta a caixinha com o teste, estendendo-me, mesmo apavorada com o resultado, eu aceito e vou até o banheiro. Meu coração permanece acelerado, o tempo todo, e quando as duas listras aparecem eu não me sinto mais calma, sinto-me pior, enjoada, desesperada! Saio do banheiro com as mãos tremulas e ainda segurando o teste, mas quando procuro pelo quarto, Lilly não está aqui, tudo o que encontro é a figura do belo homem de terno parado a porta do quarto, com um sorriso idiota no rosto.

— E então? Vamos ter um bebê?

— Você sabia?

Christian dá um pequeno sorriso de canto e balança a cabeça levemente, deixando-me sem folego.

— Você realmente acreditou na pestinha?

— Isso tudo... foi você?

— Sim, Ana, querida, todos nós já suspeitávamos.

— Você não está bravo com isso?

Ele inclina a cabeça para o lado e sorri, aproxima-se e passa as pontas dos dedos pelo meu rosto, então leva as mãos até a minha barriga e dá um largo sorriso.

— Claro que não, nossas filhas estão tão grandes e vai ser ótimo poder segurar alguém tão pequenininho de novo.

— Ah, Christian — bato em seu peito e ele ri, puxa-me para um abraço apertado e eu fecho os olhos. — Obrigada, Christian, eu amo tanto você.

— E eu amo você, querida.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Claro...

Christian se afasta e eu observo seu rosto por alguns segundos, então respiro fundo e digo:

— Por que esse vestido? Por que a tatuagem?

— Eu sei que ainda te incomoda — fala, faz uma pausa por alguns segundos e sorri. — Mas essa é você, Ana, a garota pela qual me apaixonei e eu amo cada parte de você, inclusive a tatuagem. Você é a minha garota de tantas fases, a pessoa mais forte que conheço. Quando você exibe essa tatuagem, é apenas nisso que consigo pensar e enquanto eu te amo.

— Ah, Christian!

Volto aos seus braços, com as lágrimas escorrendo por todo meu rosto e quero apenas apertá-lo e dizer o quanto o amo, mas sou impedida quando começo a ouvir os fogos de artifício vindos lá de fora, anunciando que o natal chegou.

— Feliz Natal — sussurro olhando o relógio, que já marca meia-noite.

— Feliz Natal, minha menina da lua.

— Eu te amo, Christian.

— E eu te amo, garota fogosa! 

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