➷ Um Pouco de Fé ➷

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Encaro a xícara de chá nas minhas mãos enquanto mamãe me encara severamente, além de mim, ela é a única pessoa que mais odeia quando Christian e eu brigamos, e ela sempre tenta dar um jeito de resolver isso. Eu só queria que ela se colocasse no meu lugar agora, e entendesse o quanto é ruim me sentir presa.

— Ele não quer que eu trabalhe. — Murmuro sem encará-la, suspirando em seguida, tomo folego e continuo. — Mas eu quero fazer isso, eu quero muito. Desde que eu estou com ele, eu quase não trabalhei, eu passei os últimos quatro anos cuidando de coisas da casa e as crianças, é ridículo, mamãe.

— Você já tentou falar como se sente? — Mamãe segura meu queixo e eu lhe encaro. — Conversou com ele abertamente ou simplesmente pegou as meninas e saiu?

— É claro que eu falei, mas ele não me escuta, ele não confia em mim. Christian acha que sua palavra é sempre a última que vale, ele acha que pode me proibir das coisas.

— Querida, você sabe que ele é complicado.

— Sim, mas ele não pode usar isso como desculpa sempre, se ele quer ficar comigo, ele tem que tentar me entender.

— Olha. — Mamãe suspira e se levanta tomando a xicara da minha mão. — Eu acho que enquanto vocês não conversarem direito, nada vai se resolver.

— Conversar é o problema, Christian não está pronto para me ouvir.

Levanto-me e suspiro, encaro as meninas no sofá brincando com Celi. Nery me olha com preocupação e eu acabo sorrindo, quando foi que ela se tornou tão parecida com ele?

— Nós vamos voltar para casa? — Nery pergunta e eu balanço a cabeça. — Vamos ficar aqui?

— Por um tempo. — Sussurro me aproximando, abaixo em sua frente e encaro seus olhos azuis. — As coisas vão ficar bem logo, ok?

— Eu não gosto quando o papai não está...

— Eu sei, mas serão só alguns dias, é como quando ele viaja.

— Está bem.

Dou um beijo em sua testa e me levanto encarando as três, eu ainda me impressiono em como elas cresceram, principalmente Celi. Tanto tempo se passou, tantas coisas aconteceram, e aqui estou eu, bem ao lado da minha família, vivendo de um jeito que jamais acreditei que fosse capaz.

— Vem, Celi, vamos para a cama. — Mamãe diz me distraindo.

Encaro Celi e ela sorri para mim, ela se levanta e vem me dar um beijo.

— Boa noite, Ana. Eu te amo.

— Eu também te amo, docinho, boa noite. — Murmuro, ela sorri e vai para os braços da nossa mãe.

— Pense no que eu disse. — Mamãe pede e eu balanço a cabeça.

Ela sai com Celi deixando-me sozinha na grande sala com minhas filhas. Está tudo meio escuro aqui, apenas uma luz acesa, minhas filhas deveriam estar na cama, mas estão brincando no Ipad, Christian com certeza daria uma bronca nelas em mim se soubesse.

Sento-me no sofá e esfrego meu rosto completamente exasperada, eu me sinto mais cansada do que o comum, Christian tem exigido tanto de mim que as vezes eu chego a me questionar se isso ainda é amor. Era tão diferente no começo, mas hoje... ele parece querer controlar tudo o que eu faço, isso me enlouquece, eu já nem sei se sou capaz de ser a mesma Ana por ele.

Sinto um corpinho pequeno se enfiando entre meus braços e sorrio para a pequena menina de olhos cinza, Judith sobe em cima das minhas pernas e segura meu rosto. Eu odeio quando ela faz isso, quando ela me olha esperando que eu diga algo, eu nunca sei o que ela quer ouvir... somente Christian sabe, ele a conhece tão bem.

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