Capítulo 5 - Agora

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O tempo deveria passar mais rápido, é sério. A dúvida cresce dentro do estômago e me sufoca. Eu não sei ao certo, mas acho que vou desmaiar. Se eu vomitar mais uma vez, tenho certeza de que não restará mais nada que me mantenha ligada.

Não seja ridícula, Erin, você não tem escolha.

Um rapaz entra e diz que precisa colher minhas digitais. É necessário, diz ele. Eu sei que é, entretanto, me esforço ao máximo para manter minhas mãos escondidas, dentro da manga do moletom. Eu sou Mary-Kate Stone e pronto. Se acham que há alguma coisa errada — o que no caso há — devem se virar e procurar. O plano é não dizer nenhuma palavra até que tragam Reddington até aqui. Então, quer dizer que não posso pedir um copo de água — O que será que fariam com o meu DNA? — e também não posso dizer que estou sentindo dor. Tenho certeza de que as costelas quebradas nunca foram curadas totalmente. Por baixo da pele sinto Erin lutar contra sua oponente desconhecida, procurando sair. A garota nova é quase uma estranha e eu preciso conhece-la antes de deixar que os outros a vejam.

Analiso o rapaz no outro lado da mesa. Ele disse alguma coisa muito séria, a pouco tempo, só que não prestei atenção. Não é necessário, porque Erin está com medo enquanto Mary-Kate debocha da ironia. Mas também não posso evitar em reparar no quanto suas feições irritadas e o cabelo castanho, meio despenteado me fazem lembrar de Seth Whalen. Machuca muito saber que as minhas chances — sendo Erin DeBrassio — em voltar a vê-lo são quase nulas.

Mas eu já sabia que não ia voltar antes de sair de casa. Aliás, agora eu não tenho para onde voltar. Dane-se! Talvez seja melhor deixar Mary-Kate tomar o controle da situação. Ela não tem um passado que a faz chorar, não foi abandonada pela mãe e nunca viu um amigo quase morrer. Na verdade, eu deveria pensar em um passado bem comovente para ela. Um menos trágico, de preferência.

— Eu vou perguntar mais uma vez. E por favor, ajude-nos e terá uma grande chance de podermos conseguir te ajudar.

Uma gargalhada me escapa, provocando dor. Eu não consigo me conter. Ele está mais nervoso que eu, e nós não deveríamos estar aqui.

— Você é novo aqui, não é? — Mary-Kate escapa, com um sorriso de deboche estampado na cara. Ela cruza os braços e se recosta na cadeira — Eles te mandaram aqui por ser jovem, não é. Tipo, nós falamos a mesma língua, não é? Somos inconsequentes e blá, blá,blá. Vocês não vão me fazer falar — espero que ele nao veja que estou com medo e continuo — Mas nós somos muito inteligentes. E você é esperto o suficiente para saber que eu não sou obrigada a falar o que não sei. Eu quero Raymond Reddington.

As pernas frontais da cadeira se desgrudam do chão. É mais fácil ser outra pessoa. As cicatrizes e hematomas adquirem um significado diferente. Um olho roxo pode ter sido causado por qualquer coisa. Com as mãos firmes na mesa, inclino eu corpo para trás. Agora eu sou audaciosa como uma cobra. Uma criança. Posso fingir que não sinto a dor explodir dentro da minha cabeça. Ela não sente dor, ela tem uma família esperando para o jantar. Mary-Kate não fez nada de errado.

— Diga-me quem te mandou aqui e você poderá ir embora. — pergunta o agente, bastante insatisfeito.

—E quem disse que eu quero ir embora? — deixo a cadeira cair para frente, ruidosamente.

Basta! A sensação é boa, mas é arriscado demais. Mais uma vez me torno a Erin cautelosa, e Mary-Kate é trancafiada, onde não pode provocar alguém que sabe usar uma arma. É estranho tentar ser duas pessoas, como estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Fique quietinha até que eu possa contornar a situação.

— Então, já que se recusa a cooperar, teremos que comunicar a Assistência Social.

Não, essa não é uma opção agradável. Seria o meu fim; todo esse trabalho e o sofrimento em vão. Vamos lá, Erin, seja útil e finja que não se importa. Construa uma torre de ódio e mentiras, ou qualquer coisa que funcione. Ele é como um daqueles cães treinados. Pode sentir o cheiro do medo a milhas de distância.

— Pode chamar. Quanto mais gente melhor, sabe? Isso, vamos lá. Chamem os Bombeiros, a Marinha, o Cirque du Soleil! Só assim para fazer Raymond Reddington vir atrás de mim — o esforço e a agitação trás dor ao estômago, mas não me curvo — Só assim para aquele maluco vir aqui. Então, talvez eu deixe de ser rejeitada, pelo menos uma vez na vida.

O agente ficou calado. Parabéns, Erin! Agora respire devagar e não se curve. Não desmaie. Foi o suficiente, não há dúvidas. A amargura da velha Erin o comoveu. Eu não vou morar com a Laurel. Prendo a respiração, temendo sua próxima atitude.

— Minha mãe me disse para procura-lo. E eu o achei. Pronto.

Ele desiste e sai. Deixo o ar escapar pela boca. Algo me diz que se fosse pressionada mais um pouco, não teria tanto sucesso. A partir de agora, não cabe a mim escolher a próxima parada. Tenho que esperar por Deus e pelo sr. Reddington. O engraçado é que nunca conheci nenhum dos dois, mas alguém escreveu que eu deveria procura-los. O tempo passa e o esforço para não entrar em desespero me deteriora. Essa seria uma boa hora para inventar uma vida para Mary-Kate, uma vida nova para mim. Mas não dá, eu não consigo. Mentir para os outros é muito mais fácil do que para si mesmo. E eu tenho um passado, e sem ele sou capaz de enlouquecer.

Mais uma vez o agente volta, porém, equipado com um par de algemas brilhantes. Não precisa dizer nada; fico de pé e estendo os pulsos. Agora não há mais volta.

Erin, você fez tudo errado.

Sinto sua mão em meu braço e sigo em frente. Pisco com força, não posso chorar agora. Não posso cair. Eu tinha que ter pensado melhor. Talvez se eu tivesse inventado uma Mary-Kate mais convincente. Ah, Deus! E agora o que eu vou fazer? Lawrence está à beira da morte; Gwen e Seth não fazem ideia de onde estou e a minha mãe me abandonou.

— Tudo bem, lá eles vão cuidar de você. — o rapaz fala, bem baixinho, enquanto subimos as escadas.

Não está tudo bem. Não vai ficar tudo bem. Não há mais razões para esconder meu pranto. É o fim da linha.

— Fui incumbido a te acompanhar até a sede do Serviço Social. Não vai demorar, okay?

Cale a boca, esse não é o seu trabalho. Não vai melhorar meu lado.

Entramos em uma sala ampla, cheia de computadores. Há um grupo de algumas pessoas perto de uma parede de vidro. Não consigo distinguir suas expressões. Está tudo tão borrado, tão errado. Um deles se vira para nós, suas sobrancelhas se estreitam. Minhas pernas vacilam. O agente para também, ambos sabemos quem nos encara, e pelo visto ele também não confia. Engulo a seco.

— Harold, quando me comunicou sobre ter um parente a minha procura, completamente alterado, você não mencionou que seria uma... — ele tira o chapéu e se mantem em silencio por instante.

Impostora.

— Uma garota. Ela me parece tão inofensiva e malcuidada. Não havia necessidade de algemá-la. Estou decepcionado, Harold. — continua — Pode ter certeza de que não seria assim que eu cuidaria da sua... Claro que não cuidaria assim da sua filha. Por que não perguntaram a ela se estava com fome?

Ninguém fala nada. Eu estou com medo, mas essa não é a questão. Preciso me salvar e nesse momento não me importa como.

— Pois é, pai. — Dou um passo à frente. Eu não tenho outra escolha.

DeBrassioOnde histórias criam vida. Descubra agora