Capítulo 15 - Agora

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"Isso, chega mais perto, sua idiota."

Se alguém me contasse eu não acreditaria. Primeiro. Eu não consigo pensar com Mary-Kate gritando o tempo inteiro. Ok, cale a porra da boca, meu cérebro zumbi não consegue pensar. Coloco a mão, sentindo toda a eletricidade. É fogo lá embaixo, uma saraivada de abelhinhas explosivas. Tudo parece tão perto, parece o quinto andar. O homem do chapéu ri, como Abby — o doce e inocente Abby — assistindo o gato sempre apanhar por causa do rato. Há viaturas de cabeça para baixo, um carro forte também. Ele é sádico e o olhar de Dembe me manda correr. Eu não posso correr, meu senhor. Mas as suas janelas compridas são legais; através posso ver com tanta clareza gente estirada no chão. Acho que perdi a parte fascinante da coisa, porque começo a despencar. Escorrer pelo vidro translúcido feito um pássaro suicida.

— Não vai querer seu iogurte? — ouço já bem de longe. Porque quando ela entra, escoltada por dois humanóides mal encarados, eu só consigo pensar no quanto ela está destruída. Como eu. Nunca pensei que um dia poderíamos combinar; mas agora - Mary-Kate ri e concorda — nossos olhos, agora roxos, complementam uma a outra. Há uma linha grossa de sangue escorrendo da sua cabeça. Eu poderia chorar ao ver o estado que a minha vó está agora; mas ela mesma disse uma vez, uma DeBrassio nunca chora.

"Que eu saiba você só serve para chorar."

Essa coisa começou a ficar toda errada quando ele achou que Marta era a minha mãe.

O macacão de presidiária não combina com o seu tom de pele; o cabelo de Miranda Priestly não funciona desse jeito, a mordaça de silver tape não combina com os olhos de lince, julgando por ser desleixada; meu cabelo de cleopatra cortado de mal jeito, as roupas de segunda mão. Fazendo de tudo para eu me sentir inadequada. Daria para ver seu sofrimento por baixo da máscara dura de queixo erguido. Desvio o olhar. É demais para mim. Entretanto, ver Raymond Reddington a encarando, a pistola nas mãos, não torna o amargo na garganta sufocante.

O mundo começa a ficar mais pesado. Eu sei que sangra de novo, estou cansada de lutar contra o mundo sozinha. Um mundo que eu não conheço. Ela me encara, os olhos cinzentos não estão confusos quanto os meus olhos castanhos. De repente, me sinto com onze anos, envergonhada pela roupa desleixada, as unhas roídas e sujas, o cabelo preto seco mal cortado. Nem quando eu me achava bonita costumava agradá-la. Quero questionar o que está acontecendo, mas não encontro coragem.

Coragem, queria ter coragem.

Eles a obrigam sentar em uma poltrona bonita. Ela veste um macacão laranja de presidiária. Pisco, tentando me concentrar. Até Mary-Kate se cala. O sr. Reddington se acomoda em um sofá maior, ainda com a arma apontada. Desde quando ela apresenta risco para alguém? Dembe não se senta, nem os que trouxeram Marta para o quarto. Permaneço encostada no vidro gelado; consigo ouvir as sirenes do lado de fora, talvez à procura de Marta. Ela deve ter sido presa, afinal.

"Ah, jura que só percebeu agora?"

Cala a boca, Mary-Kate.

Ninguém diz nada. Por que diabos ninguém diz nada? Abro a boca para falar, mas Marta me censura, ela sabe que eu posso piorar a situação. Permaneço em silêncio de qualquer forma.

"AH, por favor, Erin, deixe de ser tão medrosa. Ela é só uma velha e uma velha algemada, não tem nem como fazer algo com você."

É verdade, mas ainda assim... Não tento abrir a boca outra vez. Ela é mesmo uma velha, e olhando daqui parece até indefesa; mas ainda é a avó que sempre desaprovou tudo o que eu tentei fazer. Melhor nem arriscar. Olho para o homem que me trouxe aqui, ele parece se divertir, perfeitamente confortável com o silêncio. Aparentemente o único a se sentir assim.

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