Chapter II - In My Blood

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Concentro-me no som das minhas botas contra o mármore. Algo sólido para ancorar meu medo. Meus punhos estão cerrados dentro das luvas, implorando por um resgate. Mas ele nunca vem. O palácio está estranhamente vazio, uma aura fúnebre instalou-se por suas paredes. Os guardas que acompanham a mim e a Luce desde a estrada tampouco deixam transparecer algum sinal de desconforto, ainda que seus semblantes os denunciem. Portas são fechadas rapidamente, enquanto os criados passam agitados por nós, rápidos e quietos como ratos. Lançam lençóis brancos sobre os móveis e obras de arte, cobrindo-os com estranhos sudários. Poucos guardas, menos nobres. Aqueles por quem passo são diplomatas, quiçá conselheiros. Todos sem exceção reverenciam-me, mas eu não cumprimento-os de volta. Não ainda. Conforme chegamos na ala dos quartos reais, chega a vez de Luce guiar. Os guardas voltam pelo mesmo caminho de onde vieram e saudam-me com uma reverência.

— A família real não iria nos receber? - indago, involuntariamente sentida.

— Iria - murmurou Luce, tentando manter-se calma - Algo está muito, muito errado. É quase como se alguém estivesse...

— Morto - finalizo, sentindo o peso da palavra.

Sem delongas, entramos no quarto designado para a princesa de Ilhures e quando as portas fecharam-se novamente, pude remover minha máscara.

— Luce, eu não sei como me portar diante a tanto luxo, eu sou uma plebéia - sussurrei.

— Alteza, quaisquer deslizes que cometas estará justificado devido ao exílio - afirmou ela, tranquilizando-me - Entretanto, precisamos dar-lhe uma noção de etiqueta, visto que logo mais terá que se apresentar ao seu noivo e, principalmente, ao rei e a rainha.

— E quem são eles, Luce? - questionei, verdadeiramente. Tudo que sabia da família real era que o príncipe tinha uma doença rara, intrínseca.

— O rei Tiberias é um homem bom, apesar de estar em uma idade avançada - disse ela - Vosso pai é considerado um galã comparado ao monarca de Alhures. A rainha Amber, no entanto, é um pouco mais jovem. Ela veio de Alfambres. Dizem por aí que é uma mulher desprezível.

— E o príncipe? - disse, não podendo evitar um sorriso meu e, consequentemente, dela.

— Froy conheceu-a quando ainda eram pequenos, quando foram prometidos - prosseguiu minha dama de companhia - Outrossim, o príncipe sempre foi muito doente. Sua enfermidade, no entanto, me é desconhecida.

— Luce, quero que me conheça um pouco antes de tudo - minha voz soou vacilante, confiável - Meu nome é Catherine.

— Era preferível que não me dissesse, Alteza - resmungou - Não podemos arriscar que esse nome seja proferido no castelo.

— E eu sou uma bruxa.

Com aquilo, Luce se calou. Contar minha história não foi difícil, assim como não foi árduo ouvir a dela. Luce era a primogênita de quatro filhas, todas soleiras e convivendo sob o mesmo teto com a mãe e o pai. Todos necessitavam do trabalho de Luce para manterem-se vivos, e a sua renda não era favorável. Sequer a de Ilhures era. A união de Celeste com o príncipe herdeiro era a chance do reino se reerguer e, naquele momento, o desespero dela fazia sentido.

As aulas de etiqueta foram proveitosas, ainda que o princípio tenha sido desastroso. Luce era uma excelente professora e eu, ao contrário do que minha mãe dizia e meu próprio inconsciente pensava, uma boa aluna. A batida na porta nos trouxe de volta para nossa realidade, mas Luce foi quem atendeu.

— Suas Majestades lamentam a desfeita, Alteza - informa uma criada com vestes semelhantes as que Luce usava - A corte não se encontra em um bom momento.

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