Capítulo 05

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— Tudo bem, porque não?
— Boa! Já agora, eu sou o Pablo e tu és?
— Zara.
— Bonito nome. Podes dar-me o teu contacto ou email para poder contactar-te e até mandar-te as fotos.
— Claro. - dou-lhe o meu email e ele vai embora sorridente.

Nunca fui fã de fotografia, essencialmente ser eu a pessoa fotografada, mas talvez venha a gostar... Quem sabe?
Pego nas minhas coisas e continuo o meu passeio. A verdade é que já não sei onde ando e talvez esteja perdida. A pior parte é que não sei a morada do André para poder chamar um táxi que me leve de volta para casa. Vou ter mesmo que ligar ou mandar mensagem ao André a pedir ajuda e não queria de todo fazê-lo.

— Onde é que tu estás? Porque é que não atendeste as minhas chamadas?
— Porque não queria falar contigo.
— Agora já queres?
— Não, só quero a morada para poder voltar para casa.
— Onde é que estás?
— Não sei.
— Não há aí placas a dizer onde estás, ou o nome de algum café ou restaurante?
— Porque é que não me dizes a morada e chamo um táxi para me levar.
— Porque prefiro ir-te buscar do que vires com um homem que não conheces de lado nenhum. Alguma referência?
— Estou entre dois restaurantes. Em frente ao Casa Lodi, ou lá como se diz.
— Já sei. Não saias daí, em 10 minutos estou aí.
— Está bem.

Arrumo o telemóvel na carteira e fico a observar a rua, para não me vir a esquecer dela. Não me costumo perder assim tão facilmente, mas com o stress de hoje mais o acumulado, ajudou bastante.
Pouco depois ele aparece de carro e estaciona perto de mim, saindo do carro para vir ter comigo. Achava que íamos logo embora.

— Amor, estás bem? - ele diz assim que chega ao pé de mim e abraça-me, mas não consigo corresponder.
— Vamos embora.
— Sim, claro.

Ele deixa um beijo na minha testa e eu simplesmente não reajo. Entramos dentro do carro e enquanto ele conduz até casa, eu vou a observar a rua pela janela.

— Estás mais calma?
— Sim.
— Já podemos falar?
— Não.
— Porquê?
— Porque não quero falar.
— Mas nós temos que falar. Não vamos ficar assim.
— André, já te disse que não quero falar.
— Tudo bem.

Chegamos a casa e vou logo direta para o quarto, depois de me certificar de que a sala estava vazia. Tranco a porta para não ser incomodada e logo depois ouço o André reclamar.

— Zara, nem penses que vais ficar aí trancada. Abre já a porta!
— Deixa-me sozinha porra!

Berro antes de começar a chorar e logo depois deixo de o ouvir, deixo de ouvir as mínimas coisas. A única coisa que ouço é o meu choro, por mais baixo que seja. As lágrimas não param de escorrer pelo meu rosto e já não consigo ver nada. Agarro-me às almofadas e nem dou conta de adormecer.
Acordo com fome, mas antes de sair do quarto ainda vou à casa de banho. Tento não fazer barulho, mas é impossível puxar o autoclismo e não fazer barulho nenhum. Saio do quarto e vejo que o André dorme no sofá. Vou até ao armário e pego num cobertor, para poder tapar o rapaz, visto que aparentava estar com frio.
Preparo umas torradas e uma chávena de leite quente com café. Sento-me à mesa a comer e pouco depois ouço barulho na sala. O André entra na cozinha sem dizer nada e serve um copo com água para beber.

— André?
— Sim. - ele responde antes de beber o copo de água e o colocar no lava loiça.
— Queres comer?
— Não. Não tenho fome.

Assim que ele olha para mim, o meu coração parte-se em mil bocados por ver os seus olhos vermelhos e inchados. Levanto-me da mesa e abraço-o fortemente, podendo notar os seus músculos a descontrair conforme o tempo passa. Os seus braços rodeiam o meu corpo e ficamos assim, agarrados, durante algum tempo.

— Desculpa André, eu sei que não está a ser nada fácil para ti e eu só piorei a situação.
— Não pioraste não, honestamente pensei que fosses reagir pior.
— O que é que esperavas?
— Que acabasses comigo ou algo do género. Até pensei que fosse levar um estalo ou algo do género.
— Eu não faria isso.
— Quem piorou tudo foi o meu pai.
— O que é que ele disse?
— Ele diz que devo de assumir o bebé e casar com ela, porque se não, não sou mais bem vindo a casa dele.
— Como assim? O que é que lhe deu?
— Não sei amor. Ele anda muito estranho. Antes de nós começarmos a dar-nos bem, ele andava sempre a pressionar o Afonso a arranjar uma namorada, sempre a relembra-lo do que se passou com a Andreia e tudo mais. Agora não sei como é que ele anda em relação ao Afonso, mas acho que ele não deve se aguentar mais.
— Não sabia disso.
— Eu sei que não, mas eu não vou deixar-te para ficar com a Sara, nem pensar. Tanta coisa que lhe chamaram antes e agora querem que me case com ela.
— Compreendo o ponto de vista deles, mas estamos no século XXI e isso já não é assim. Temos que estar ao pé de quem nos faz bem e felizes. Tantos casais separados e que estão muito melhor assim. A criança vai nascer e nem sequer vai saber a diferença. A Sara é uma mulher lindíssima e vai arranjar alguém que também a ajude como eu vou estar aqui para te ajudar.
— A sério?
— O quê?
— Que vais estar comigo para me ajudar?
— Sim, a sério. Não te posso julgar por algo que aconteceu antes de nós começarmos a namorar ou a tentar construir a nossa relação. Se o tivesses feitos enquanto estávamos juntos levavas uma sova.
— Bem merecida, apesar que vinda de ti eu até gostava. - ele responde com o seu olhar perverso.
— Tinhas que levar para esses lados.
— Já sabes como é. Olha, o que me dizes de mandarmos vir uma pizza ou algo do género?
— Por mim pode ser. As torradas não me estão a saber grande coisa.
— Então vá, eu vou ligar para lá.
— Está bem.
— Mas antes de ir quero um beijo, ara ter a certeza de que estamos bem.

Sorrio fraco e dou-lhe um beijo, como ele pediu. Depois vai buscar o telemóvel e vem ter comigo a mexer nele.

— O meu irmão ligou-me.
— Então liga-lhe e depois já ligas para a pizzaria.
— Não, vou mandar vir primeiro porque demora muito tempo a espera.
— Está bem.

Ele manda vir a pizza e logo depois liga ao Afonso para saber o porquê de lhe ter ligado. Enquanto isso, sento-me no sofá a ver televisão, com o cobertor por cima das pernas.

— Então o que é que ele disse?
— Não estava nada à espera de ter tanto apoio por parte dele. Parece que esteve a discutir com o meu pai e que tanto ele como a minha mãe estão do meu lado.
— Então é só mesmo o teu pai que está a implicar.
— Sim, ele a mim até me disse para ela abortar.
— O bebé não tem culpa do vosso erro e sinceramente isto é tudo muito mau, a criança vai viver a achar que foi um erro.
— E foi mesmo um erro, mas tenho a certeza de que vai ser o erro mais bonito do mundo e o melhor erro que cometi em toda a minha vida.
— Também acho que sim.
— Obrigada amor, por ficares do meu lado.
— Não agradeça. Estamos juntos em tudo.
— Tens razão. - os seus lábios pousam na minha bochecha - Espera, não te contei a melhor parte.
— O quê?

Between HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora