Capítulo 07

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— Não. Não estou. Eu tenho a primeira consulta agora e ele ficou de vir comigo.
— Pois, mas como vês ele não está. Aliás, ele está a ter treino agora por isso não me parece que ele consiga ir contigo.
— Pelos vistos começa bem. Ouve eu não quero de todo meter-me na vossa relação, eu até lhe disse que se não quisesse tudo bem, mas foi ele quem quis assumir o bebé. Ele ainda é jovem e ainda por cima tem-te a ti. Só que hoje é a primeira consulta e ele não vem, vou ter que ir sozinha, porque a carreira dele está em primeiro lugar. Que merda, se soubesse o que sei agora não me tinha envolvido com ele. Fui tão estúpida!

Não posso dizer que não, porque ambos foram estúpidos e agora carregam com as consequências. Eu é que não sei ter sangue frio para lhe dizer o que quero e sou muito coração mole para não fazer nada.

— Eu vou contigo.
— Acho melhor não, será constrangedor.
— Mais do que já é? Penso que seja impossível.
— Tens razão.
— Entra, vou só trocar de roupa.
— Está bem, obrigada.

Deixo-a entrar e fecho a porta ficando alguns segundos a observar a mesma. Vou até ao quarto para trocar de roupa e fazer uma maquilhagem simples. Lavo os dentes e mando mensagem ao André.

"A Sara apareceu a dizer que tinhas combinado ir com ela a uma consulta, mas como não estás eu vou com ela para ela não ir sozinha. Liga quando saíres, beijo."

Se eu fosse outra, seria tudo tão diferente. Só para começar, eu já estava em Portugal e tinha realmente terminado com ele, como ele temia. Provavelmente tinha espetado um estalo na cara da loira assim que lhe abri a porta e de certeza absoluta que não me oferecia para ir com ela.

— Estou pronta. Vamos?
— Sim, já está a ficar tarde.

Pego na minha carteira e casaco, e saímos de casa.
Durante o caminho e mesmo na consulta, não consegui responder mais do que respostas óbvias. Não sei porque é que disse que vinha com ela, pois não lhe sou nada. Talvez seja pelo pequeno ser que cresce dentro dela, que precisa de carinho apesar de tudo. A criança não tem culpa de nada do que aconteceu.
Ainda não consegui contar à minha mãe ou até falar com a Dya sobre isto, apesar de que ela já deve de saber, o Afonso já lhe deve de ter contado.
A consulta passou bastante devagar e eu só queria que aquilo terminasse rapidamente, para poder voltar para casa. Felizmente, ouço o telemóvel tocar, podendo assim sair do consultório para atender a chamada.

— Estou?
— Ainda estás na consulta com a Sara?
— Infelizmente sim, parece que nunca mais acaba.
— Desculpa não ter dito nada, mas nem eu me lembrei por causa do treino.
— Não é a mim que tens que pedir desculpa.
— Tens razão. A ti tenho que te agradecer por ires por mim. Obrigado amor.
— Tudo bem, mas eu não volto a vir.
— Estás no teu direito, aliás, nem era suposto ires, mas sim eu.
— Verdade, mas não consegui deixá-la vir sozinha à primeira consulta.
— Acredito que sim. Achas que vale a pena ir aí ter?
— Sinceramente não sei. Não faço ideia se falta muito ou pouco tempo para acabar.
— Já aí estás à muito tempo, não deve de faltar muito. Se não te importas, eu vou adiantando o almoço.
— Por mim tudo bem. Até já.
— Até já.

Guardo o telemóvel dentro da carteira, e assim que me levanto, a Sara sai de dentro do consultório e dirije-se ao módulo para pagar a consulta.

— Desculpa Zara, não sabia que a primeira consulta demorava tanto tempo.
— Eu é que quis vir. Também deve de ser normal, é a tua primeira gravidez e têm que te explicar tudo como deve de ser, para além da ecografia.
— Sim, é verdade.
— Assim também fico a saber como é, para quando eu e o André quisermos ter um filho.
— Sim, tens razão.

Saímos do hospital e dirijimo-nos a minha casa, pois ela ofereceu-se para me levar, como forma de agradecimento por ir com ela, e eu não recusei.
A viagem é feita em silêncio, ela não parece estar muito bem, pois não é normal ela ficar tão calada, para além de que o seu rosto mostra que ela não está realmente bem.

— Passa-se alguma coisa?
— Porquê?
— Estás muito calada e a tua expressão denuncia-te.
— Passa-se muita coisa. - ela responde depois de estacionar o carro e respirar fundo.
— Eu sei que não somos propriamente amigas, mas podes falar comigo.
— Obrigada Zara. Eu estou a começar a mentalizar-me de que vou mesmo ser mãe e a minha vida já está a mudar por completo. Os meus pais não apoiam a gravidez visto que não estou com o André e isso tem-me deitado muito a baixo, levando-me a pensar em abortar, coisa que não quero de todo fazer.
— Não sabia disso. Isso é uma decisão que deve de ser tomada por ti e pelo André. Honestamente, acho que este bebé vai complicar a vida de todos nós, mas ele não tem culpa e sei que vocês o vão amar mais que tudo. Vais ver que depois de conhecerem o neto, eles também lhe irão dar todo o amor que ele merece.
— Espero bem que sim. Para além disto, como deves de saber, a mídia já sabe, ou seja, os meus patrões souberam e graças a isso fui despedida. Eles dizem que vou ficar gorda para aparecer em revistas. Não sei se já deste conta dos estereótipos perfeitos e o que começa a ser gordo por aqui.
— Não, ainda não.
— Neste momento eu estou bem, mas tu por exemplo, que para mim tens um corpo de sonho, lindo mesmo, eles consideram-te gorda. Se fores comprar umas calças, por exemplo, vês que o preço muda conforme o tamanho, quanto mais vestires mais caro fica.
— Ainda não consegui visitar centros comerciais ou lojas de roupa, mas já notei que aqui as mulheres são muito mais magras do que em Portugal.
— Exatamente. Para melhorar a situação, estou completamente apaixonada por um homem que diz que vai deixar a namorada para ficar comigo porque gosta de mim, mas até agora ainda nada.
— Como assim?
— Ele tem uma namorada e pelos vistos já não sentem o mesmo um pelo outro. Estão juntos pelos benefícios que isso lhes trás e eu, sem saber de tudo isto, enrolei-me com ele já há algum tempo, acabando por me apaixonar por ele. Ele diz que me ama e tudo mais, mas não deixa a namorada, essencialmente depois de saber que estou grávida.
— Realmente isso é muito mau. Tu não sabias que ele tinha namorada?
— Não, de todo. Só depois é que vim a descobrir e nem foi por ele, mas sim por uma amiga minha que conhecia o casal.
— Isso é muito mau. O que é que ele disse sobre a tua gravidez?
— Ele disse que como estou grávida de outro, já não vai deixar a namorada para ficar comigo.
— Como é que ele é capaz? A namorada sabe?
— Não sei.
— Eu acho que devias de te afastar dele. Há muitos homens por aí bem melhores do que esse tipo, e que te conseguem fazer muito mais feliz do que esse cretino.
— Tens toda a razão. Só que há um problema.
— Qual?
— Eu só me apercebi disto durante a consulta, e preciso que não digas nada disto a ninguém. Nem mesmo ao André.
— Podes ficar descansada. O que é que se passa?
— Há uma pequena probabilidade de o filho não ser do André, mas sim deste homem.

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