Capítulo 18

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— Eu amo-te tanto.
— Tu ouviste o que eu disse?
— Sim, e ver como ficaste deixou-me mais apaixonado por ti.
— Porquê?
— Tu não gostas dela, não queres nada que eu seja o pai desta criança, mesmo assim ficaste logo preocupada e numa pilha de nervos por ela poder estar a perder o bebé.
— Sim, tu é que não pareces nada preocupado.
— Eu estou! Mas estou convencido de que aquela criança não é minha.
— E o que tem? É uma criança igual!
— Sim, não estou a dizer que não.
— Já estás pronto?
— Falta calçar os ténis.
— Então despacha-te enquanto vou à casa de banho.

Enquanto ele acaba de se arranjar eu vou à casa de banho fazer as minha necessidades e dar um jeito ao cabelo, para não ir com ar de quem acabou de sair da cama. Saio do quarto e o André encontra-se agarrado ao telemóvel.

— Pronto?
— Sim.

Saímos de casa e dirijimo-nos a casa da loira. Ele pára o carro e desliga-o antes de tirar o cinto.

— Amor, ela pediu para ser só eu a subir.
— Porquê?
— Não sei.
— Tudo bem. Qualquer coisa liga.
— Está bem.

Pego na carteira e coloco o telemóvel lá dentro. Saio do carro e enquanto caminho até à entrada aperto o casaco. Toco à campainha e a porta é logo aberta. Chego à sua porta e noto que a porta está aberta. Entro e encontro a Sara sentada no chão com a cara encostada aos seus joelhos.

— Sara! O que é que se passou? Estás bem?

Assim que ela olha para mim, noto que algo não estava certo. Ela tinha um olho negro, a cara estava inchada e tinha o braço vermelho com alguns arranhões e nódoas negras.

— Como tu estás... O que é que se passou?
— Eu falei com ele.
— Com o tal homem que pode ser o filho do bebé?
— Sim. Eu contei-lhe que estava grávida.
— Mas porque é que estás assim?
— Foi ele.
— Ele bateu-te?
— Sim. Ele disse que eu sou uma puta que devia de morrer por querer destruir a vida dos outros. Disse que eu estava a mentir para ele se separar da mulher. Eu disse que não, que era realmente verdade. Aí ele disse que se era tinha que deixar de ser e aí começou a bater-me, a dar-me murros e pontapés na minha barriga. - ela diz com a cara lavada em lágrimas e entre soluços.
— Temos que te levar ao hospital.
— Não posso. Eles vão perguntar o que aconteceu e não posso contar.
— Podes e tens que o fazer. Tens que ir tratar de ti e ver como está o bebé.
— Tenho a certeza que ele conseguiu o que queria.
— Não podes pensar assim. Onde é que tens a tua carteira? Eu vou buscar.
— Está em cima da cama.

Entro no quarto dela, pego na carteira e no casaco que estava ao lado da carteira para ela vestir.

— Anda, vamos ao hospital.
— Não posso.
— Sara, eu não te quero obrigar aí. Sei que não somos as melhores amigas, mas tu pediste-me ajuda e vim ajudar-te, agora não recuses a minha ajuda.
— Está bem, mas não quero que o André saiba.
— O que é que lhe vais dizer então?
— Não sei.
— Se arranjares uma desculpa até ao carro tu é que sabes. Se não, tens que lhe contar a verdade.
— Está bem.

Ajudo-a a vestir o casaco e transporto a sua carteira para não fazer mais esforços. Fecho a porta e descemos o prédio, caminhando depois até ao carro. Coloco-a à frente, ao lado do André e vou atrás.

— O que é que se passou?
— Fui assaltada.
— Como assim foste assaltada?
— Não. - ela respira fundo - Eu vou dizer a verdade. Fui agredida pelo possível pai do bebé, para além de ti.
— Filho da mãe, vou dar cabo dele!
— Por favor, leva-me apenas ao hospital.
— Sim.

O caminho é feito em silêncio no que toca a mim e ao André, a única coisa que se consegue ouvir é a Sara a queixar-se de dores e a chorar.
Entro com ela nas urgências enquanto o André vai estacionar o carro. Ela é levada para dentro de imediato, pois eu comecei logo aos berros a dizer que ela estava grávida. Levaram-na para dentro e fiquei à espera cá fora, apesar de ela me ter pedido para ir com ela.

— Pensei que entrasses com ela.
— Ela tem que ser observada, não posso entrar. Ela bem que queria, mas não posso e honestamente não quero. Isto é muito para mim André.
— Como assim?
— Não sei, estou confusa.
— Vai para casa e descansa. Eu fico aqui a ver se dão notícias. Leva o carro que eu logo vou de táxi.
— Eu preciso mesmo de descansar sim, mas não te vou deixar aqui sozinho.
— Não te preocupes com isso.
— Preocupo sim. Também não devem de demorar assim tanto tempo. Não estamos em Portugal.

O André ri-se com o que eu disse e eu rio também, por vê-lo a rir. Sento-me ao seu lado e encosto a minha cabeça ao seu ombro. Ele beija o topo da minha cabeça e ficamos assim durante pouco tempo, pois começo a ficar com dores de costas.

— Vou buscar qualquer coisa para comer. Queres vir?
— Eu fico aqui há espera.
— Então o que é que trago para ti.
— Qualquer coisa, sabes o que gosto. Trás também uma água, estou cheia de sede.
— Está bem amor. Até já.
— Até já.

Pego no telemóvel para dar uma espreitadela nas redes sociais e vejo que a relação entre a Andreia e o Afonso está melhor que nunca pelas fotos que agora estão sempre a publicar.

— Foi a menina que veio com a menina Sara?
— Sim, fui.
— A menina Sara chamou por si. Ela disse que é portuguesa e que não entendia italiano, por isso chamaram-me para falar consigo.
— Tudo bem. Como é que ela está?
— Não sei, eu não estou a observá-la. Só me mandaram chamá-la.
— Só a mim?
— Sim.
— Está bem, obrigada.

Mando mensagem ao André a avisar de que vou entrar, enquanto entro para não deixar o médico à espera. Entro no quarto e ela está deitada a olhar para as mãos.

— Então? Como é que estás?
— Eu estou bem. Tenho uma costela partida, vários arranhões e nódoas negras.
— Tens muitas dores?
— Por enquanto não, amanhã talvez.
— E o bebé?

Between HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora