Capítulo 09

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Deixo de ver de novo e o choro torna-se ainda mais intenso. O André não conseguiu dizer nada, mas pela forma como ele olha para mim, parece sentir pena e não é isso que eu quero. Eu quero tanto ser mãe, mas já há alguns anos que sei que não posso.

— Como é que descobriste? 
— Há uns anos atrás, comecei a sentir dores fortes na barriga, mas achei que podia ser do período ou algo do género. As dores não passaram, só aumentavam e por isso fui ao hospital. Ainda pensaram que podia ser inícios de uma apendicite, mas não era. Fui à genécologia e aí viram que algo não estava bem. Já não me recordo, mas sei que a primeira coisa que me disseram foi que com este problema, as hipóteses de eu vir a ser mãe um dia são de uma em cem, é práticamente impossível.
— Mas afinal não é impossível. Há uma hipótese em cem. Nós vamos tentar e sei que vais conseguir. Não agora, mas nós vamos ser pais um dia. Pode não ser realmente nosso, mas não custa tentar.
— Imagina que conseguimos e depois acabo por abortar. Não sei o que será pior para mim. Eu não quero sofrer a perda de um filho.
— Não vai acontecer. Vais tomar todas as precauções que forem necessárias e eu vou estar aqui para te apoiar.
— Obrigada André, mas eu acho mesmo que devias de apostar antes na Sara. Ela já está grávida de um filho que pode ser teu e já sabes que ela pode realmente engravidar de novo.
— Espera lá... Pode ser meu?
— Sim, eu ainda tenho esperança que não seja. - merda.
— Achas que pode não ser?
— Eu não a conheço. Achas que pode? Achas que ela se iria meter na cama com outro gajo ao mesmo tempo que tu?
— Eu acho que não, mas sinceramente não sei. Para ela me vir dizer que é meu, é porque é. Ela não iria mentir.
— Pois.
— Voltando ao assunto anterior. Se queres acabar comigo acaba, mas não arranjes desculpas parvas. Eu não vou deixar de te amar por algo que não tens culpa e havendo soluções.
— Tu amas-me mesmo?
— Amo-te tanto como amo a minha mãe, mas sendo dois amores distintos. Vocês. São as duas mulheres da minha vida e não vos troco por nada.
— Oh - sorrio com o que ele diz e dou-lhe um novo beijo - amo-te muito e também não te trocava por nada.
— Eu sei amor.

Os seus braços rodeiam o meu corpo e os meus rodeiam o seu pescoço. Os seus abraços são do melhor que há, não há braços que me façam sentir mais segura nem ninguém que me faça sentir mais amada.

— Quero ficar aqui para sempre.
— Só há algumas coisas que nos impedem. Como a minha fome.
— Já estás com fome?
— Sim. Que me dizes de mandar-vos vir o jantar? Não me apetece arranjar-me para sair. Podemos mandar vir comida saudável.
— Apetece-me pasta! - respondo fazendo o gesto com a mão que os italianos fazem.
— Nada mal pensado. Vou mandar vir.
— Está bem. Eu vou à casa de banho.

Chego à casa de banho e faço as minhas necessidades. Puxo o autoclismo e olho-me ao espelho, começando a rir-me sozinha.

— Passa-se alguma coisa? - ele pergunta ao abrir a porta muito rápido o que me assusta um pouco.
— Ai credo moço! Já não posso ter um pouco de privacidade?
— Estavas a rir-te sozinha, quis saber porquê. Também me quero rir.
— Já viste bem a minha cara? Pareço um panda!
— Não pareces não amor, eles são bem mais fofos e bonitos.
— Ei! - dou-lhe um murro de leve no braço.
— Estou a brincar amor. És linda de qualquer forma, até toda borrada.
— Estúpido.
— Até a dizer que és linda me chamas estúpido?
— Também te amo amor. Vá agora sai.
— A mandar-me sair da minha casa de banho?
— Sim, quero lavar a cara sossegada, ou não posso? Não ias mandar vir o jantar?
— Podes e sim, ia, mas não sei com o que é que queres o macarrão?
— Com o que tiverem. Sabes mais ou menos o que gosto de comer, portanto.
— Está bem.

Ele sai da casa de banho e eu passo água pela cara, depois de passar um toalhete húmido pelos olhos para me livrar do rimel borrado.
Pego no telemóvel e volto para a sala, onde me sento ao lado do André que termina agora de mandar vir o jantar. Dou uma vista de olhos nas minhas redes sociais, notando que os meus seguidores aumentam cada vez mais e numa nova publicação do Afonso no Instagram.

— Viste a foto que o meu irmão publicou?
— Acabei agora mesmo de ver. Sabias que ele já o ia fazer?
— Não, ele disse que quando achasse que era o melhor momento que fazia o pedido.
— Parece que arranjou um ótimo dia. Vou ligar à Dya para ver o que é que ela diz, como foi e saber o quão feliz ela está por terem começado a namorar.
— Sim, eu também vou ligar ao meu irmão.

Marco o número da loira e ligo para ela enquanto espero que atenda.

— Olá princesa!
— Olá boazona. Como é que andas?
— Com as pernas, querias que andasse com o quê?
— Eu cá ando com as pernas e com os pés.
— Tiveste bem. Acabei de ver uma foto que o Afonso publicou e achei que te devia de ligar. Como é que estás?
— Estou super feliz, não esperava esta surpresa, mas adorei e se pudesse repetia.
— Como é que foi? Conta-me tudo.
— Bem, ele convidou-me para irmos a um parque de diversões e como é óbvio aceitei.
— Mas aí perto?
— Pode-se dizer que sim, nós fomos de carro. Demorámos uns 40 minutos, mas chegamos bem e na boa.
— Conta mais.
— Não fomos só nós os dois, a Catarina e o Zé também foram.
— A sério? Pensei que ia fazer algo mais a dois.
— E era para ser, mas parece que entre eles os dois também vai dar coisa, por isso achámos bem convidá-los para virem connosco. Aliás, ele teve a ideia, mas falou comigo antes de os convidámos e pudemos confirmar que eles gostam um do outro.
— Mas andaram a trocar beijos?
— Sim! Poucos, mas é assim que estão a começar e acho que estão a ir muito bem.
— Agora é só casais. Conta agora como foi com o Afonso.
— Olha, jogámos paintball, zorbing, tiro ao arco, rapel e por fim slide. Quando eu terminei e estavam a tirar as minhas cordas, ele aproximou-se de mim, ajoelhou-se no chão e mostrou-me um anel.
— Como assim um anel?
— O Afonso pediu-me em casamento!

Between HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora