Deixo de ver de novo e o choro torna-se ainda mais intenso. O André não conseguiu dizer nada, mas pela forma como ele olha para mim, parece sentir pena e não é isso que eu quero. Eu quero tanto ser mãe, mas já há alguns anos que sei que não posso.
— Como é que descobriste?
— Há uns anos atrás, comecei a sentir dores fortes na barriga, mas achei que podia ser do período ou algo do género. As dores não passaram, só aumentavam e por isso fui ao hospital. Ainda pensaram que podia ser inícios de uma apendicite, mas não era. Fui à genécologia e aí viram que algo não estava bem. Já não me recordo, mas sei que a primeira coisa que me disseram foi que com este problema, as hipóteses de eu vir a ser mãe um dia são de uma em cem, é práticamente impossível.
— Mas afinal não é impossível. Há uma hipótese em cem. Nós vamos tentar e sei que vais conseguir. Não agora, mas nós vamos ser pais um dia. Pode não ser realmente nosso, mas não custa tentar.
— Imagina que conseguimos e depois acabo por abortar. Não sei o que será pior para mim. Eu não quero sofrer a perda de um filho.
— Não vai acontecer. Vais tomar todas as precauções que forem necessárias e eu vou estar aqui para te apoiar.
— Obrigada André, mas eu acho mesmo que devias de apostar antes na Sara. Ela já está grávida de um filho que pode ser teu e já sabes que ela pode realmente engravidar de novo.
— Espera lá... Pode ser meu?
— Sim, eu ainda tenho esperança que não seja. - merda.
— Achas que pode não ser?
— Eu não a conheço. Achas que pode? Achas que ela se iria meter na cama com outro gajo ao mesmo tempo que tu?
— Eu acho que não, mas sinceramente não sei. Para ela me vir dizer que é meu, é porque é. Ela não iria mentir.
— Pois.
— Voltando ao assunto anterior. Se queres acabar comigo acaba, mas não arranjes desculpas parvas. Eu não vou deixar de te amar por algo que não tens culpa e havendo soluções.
— Tu amas-me mesmo?
— Amo-te tanto como amo a minha mãe, mas sendo dois amores distintos. Vocês. São as duas mulheres da minha vida e não vos troco por nada.
— Oh - sorrio com o que ele diz e dou-lhe um novo beijo - amo-te muito e também não te trocava por nada.
— Eu sei amor.Os seus braços rodeiam o meu corpo e os meus rodeiam o seu pescoço. Os seus abraços são do melhor que há, não há braços que me façam sentir mais segura nem ninguém que me faça sentir mais amada.
— Quero ficar aqui para sempre.
— Só há algumas coisas que nos impedem. Como a minha fome.
— Já estás com fome?
— Sim. Que me dizes de mandar-vos vir o jantar? Não me apetece arranjar-me para sair. Podemos mandar vir comida saudável.
— Apetece-me pasta! - respondo fazendo o gesto com a mão que os italianos fazem.
— Nada mal pensado. Vou mandar vir.
— Está bem. Eu vou à casa de banho.Chego à casa de banho e faço as minhas necessidades. Puxo o autoclismo e olho-me ao espelho, começando a rir-me sozinha.
— Passa-se alguma coisa? - ele pergunta ao abrir a porta muito rápido o que me assusta um pouco.
— Ai credo moço! Já não posso ter um pouco de privacidade?
— Estavas a rir-te sozinha, quis saber porquê. Também me quero rir.
— Já viste bem a minha cara? Pareço um panda!
— Não pareces não amor, eles são bem mais fofos e bonitos.
— Ei! - dou-lhe um murro de leve no braço.
— Estou a brincar amor. És linda de qualquer forma, até toda borrada.
— Estúpido.
— Até a dizer que és linda me chamas estúpido?
— Também te amo amor. Vá agora sai.
— A mandar-me sair da minha casa de banho?
— Sim, quero lavar a cara sossegada, ou não posso? Não ias mandar vir o jantar?
— Podes e sim, ia, mas não sei com o que é que queres o macarrão?
— Com o que tiverem. Sabes mais ou menos o que gosto de comer, portanto.
— Está bem.Ele sai da casa de banho e eu passo água pela cara, depois de passar um toalhete húmido pelos olhos para me livrar do rimel borrado.
Pego no telemóvel e volto para a sala, onde me sento ao lado do André que termina agora de mandar vir o jantar. Dou uma vista de olhos nas minhas redes sociais, notando que os meus seguidores aumentam cada vez mais e numa nova publicação do Afonso no Instagram.— Viste a foto que o meu irmão publicou?
— Acabei agora mesmo de ver. Sabias que ele já o ia fazer?
— Não, ele disse que quando achasse que era o melhor momento que fazia o pedido.
— Parece que arranjou um ótimo dia. Vou ligar à Dya para ver o que é que ela diz, como foi e saber o quão feliz ela está por terem começado a namorar.
— Sim, eu também vou ligar ao meu irmão.Marco o número da loira e ligo para ela enquanto espero que atenda.
— Olá princesa!
— Olá boazona. Como é que andas?
— Com as pernas, querias que andasse com o quê?
— Eu cá ando com as pernas e com os pés.
— Tiveste bem. Acabei de ver uma foto que o Afonso publicou e achei que te devia de ligar. Como é que estás?
— Estou super feliz, não esperava esta surpresa, mas adorei e se pudesse repetia.
— Como é que foi? Conta-me tudo.
— Bem, ele convidou-me para irmos a um parque de diversões e como é óbvio aceitei.
— Mas aí perto?
— Pode-se dizer que sim, nós fomos de carro. Demorámos uns 40 minutos, mas chegamos bem e na boa.
— Conta mais.
— Não fomos só nós os dois, a Catarina e o Zé também foram.
— A sério? Pensei que ia fazer algo mais a dois.
— E era para ser, mas parece que entre eles os dois também vai dar coisa, por isso achámos bem convidá-los para virem connosco. Aliás, ele teve a ideia, mas falou comigo antes de os convidámos e pudemos confirmar que eles gostam um do outro.
— Mas andaram a trocar beijos?
— Sim! Poucos, mas é assim que estão a começar e acho que estão a ir muito bem.
— Agora é só casais. Conta agora como foi com o Afonso.
— Olha, jogámos paintball, zorbing, tiro ao arco, rapel e por fim slide. Quando eu terminei e estavam a tirar as minhas cordas, ele aproximou-se de mim, ajoelhou-se no chão e mostrou-me um anel.
— Como assim um anel?
— O Afonso pediu-me em casamento!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Between Hearts
RomanceEla não esperava esta reviravolta ao mudar de país. Estará ela preparada para todas as mudanças? Sequela de Between Brothers. Contém representações gráficas de violência, sexualidade, linguagem forte, e/ou outros temas maduros. © 2018 | Todos os...