Capítulo 24

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Olho para o André incrédula porque não esperava que isto acontecesse. Ele tem os olhos cheios de lágrimas e por isso puxo-o para mim para o poder abraçar.

– Não sei o que fazer.
– O que é que vocês falaram mais em concreto?
– Eu mal consegui falar. Ela mostrou-me a carta com os resultados e começou a dizer que já esperava que o filho não fosse meu, mas que não queria acreditar assim que teve a certeza. Já estou ligado ao Martim, ele não tem culpa e não quero de todo abandoná-lo. Se eu não ajudar, ele vai crescer sem pai, e não quero que isso aconteça quando tenho possibilidades para ajudar. Entendes?
– Entendo. Se estás à espera que eu dê a minha opinião eu não vou dar. Isto é algo que tens que decidir por ti.
– Mas o que eu decidir irá afetar-te a ti também, por isso podes ajudar.
– Amor, é o teu nome que vai ficar na certidão de nascimento, tu é que tens que decidir.
– Eu vou falar com ela e vou ligar ao treinador a dizer que não posso ir ao treino. Não estou com cabeça neste momento.
– Vai, eu fico aqui à espera.
– Mas eu sou capaz de demorar.
– Então eu vou dar uma volta, depois diz-me algo.
– Está bem, ate já.

Deixa o beijo na minha testa e entra de novo no hospital. Ando às voltas pela cidade à espera que ele me diga alguma coisa, mas desisto e volto para casa.

– Hello!
– Credo! Que susto Daya! O que é que estás aqui a fazer?
– O André esteve a falar com o Afonso sobre o que aconteceu e achamos bem vir até cá para vos animar, vemos um filme, comemos umas pipocas...
– Acho que pode ser. O Afonso?
– Foi às compras enquanto eu dava aqui um jeito na sala para ficarmos mais à vontade.
– Está bem. Olha eu vou só vestir algo mais confortável e já venho aqui ter.
– Cá te espero.

Vou até ao quarto e visto um fato de treino rosa bebé da Nike que o André me ofereceu no mês passado. Passo na casa de banho onde faço as minhas necessidades e passo o rosto por água, acabando por tirar a pouca maquilhagem que tinha.

– Voltei! - volto para a sala onde não encontro a Daya - Onde estás?
– Cozinha.
– Olá Afonso. 
– Olá. Como é que estás?
– Bem e tu?
– Eu estou bem. Tu estás realmente bem? Isto tudo com o André e a Sara também te afeta.
– Sim, mas estou bem.

Ouço barulho na sala e volto para lá, sabendo que é o André a voltar para casa.

– Então?
– Desculpa não te ter dito mais nada, mas fui dar uma volta.
– Não faz mal. Decidiste alguma coisa?
– Sim.
– E o que é que decidiste?
– Decidi que vou assumir a paternidade do Martim. Ele não tem culpa de nada e merece ter uma figura paterna presente.
– Acho que tomaste a decisão certa. - beijo-o.
– Achas que sim?
– Tenho a certeza.
– Concordo com ela. Só acho que mais ninguém precisa de saber que não és o pai biológico, incluído pelo menos o pai e o resto da família. - diz o Afonso que aparece atrás de mim.
– Porque é que dizes isso? - pergunta o André.
– As coisas já não andam famosas com ele e se ele fica a saber que vais assumir uma criança que não é tua não sei não. Sabes perfeitamente que ele não vai concordar com isso.
– Ele não tem que concordar ou deixar de concordar, é a minha vida que está em causa e não a dele, mas tens razão, é preferível ele não saber de nada.
– Fala com a mãe, ela também dará a sua opinião sobre se contar ou não ao pai. Ela saberá melhor o que fazer.
– Sim, logo falo com ela. Agora quero é ver o filme e não pensar nisto.
– Acho bem, as pipocas já estão prontas e eu estou cheia de vontade de as devorar. O que é que querem beber? - diz a Daya aparecendo na sala.
– Cola. - respondem os irmão ao mesmo tempo.
– Eu prefiro leite. - respondo.
– Leite?? - pergunta o André.
– Sim, leite. Prefiro beber leite do que sumos.
– Pronto, tu la sabes.

Solto um sorriso e eles sentam-se no sofá, enquanto vou até à cozinha ajudar a Daya a servir as bebidas e a levar tudo para a sala enquanto eles decidem que filme vamos ver.
Passamos a tarde a ver o filme, menos eu que me deixo dormir a meio do filme encostada ao André. Sinto-me exausta psicológicamente daí ter adormecido assim, até porque não é habitual adormecer a ver filmes que estou a gostar de ver. Eu tento fazer-me de forte essencialmente pelo André, mas não está a ser fácil. Só espero que se encontre uma forma fácil de lidar com isto tudo.
Acordo com o telemóvel a tocar, é a minha mãe. Provavelmente quer saber das novidades.

– Olá mãe. - digo dando conta de que estou no quarto sozinha.
– Olá meu amor. Estavas a dormir?
– Sim, deixei-me dormir no sofá. O André deve de me ter deitado na cama, acordei agora.
– Desculpa, não te queria acordar, mas não me disseste mais nada, não respondias às mensagens então tive que ligar que estava preocupada.
– Não vi as mensagens, e com tudo, sou sincera, não me lembrei de te ligar.
– Tudo bem. Mas então o que é que se passou?
– Saíram hoje os resultados do teste de ADN do Martim.
– Martim? Que nome tão giro! Mas foi positivo?
– Não, foi negativo, mas o André vai assumir o menino na mesma.
– Porque? Depois de tudo o que ela fez ele vai assumir um filho que não é dele?
– Mãe, o garoto não tem culpa de nada. E não contes nada à mãe do André, penso que ainda não sabe de nada e mesmo quando souber tem cuidado, não sei se o pai dele vai ficar a saber ou não.
– Não te preocupes, eu não digo nada. Como é que vai ser com vocês?
– É isso que eu não sei, mãe. Não sei como vai ser, o que vai acontecer, como vamos fazer, não sei. É esperar e ver como corre.
– Tu e o André estão bem?
– Sim.
– Pelo menos isso. Sabes que estou aqui para o que precisarem, não sabes?
– Sei mãe, obrigada.
– Não tens que agradecer, sou tua mãe e é para isso que aqui estou. Bem, eu tenho que ir que estou a fazer o jantar e tenho que tirar a comida do forno. Vai dizendo alguma coisa.
– Está bem, eu digo. Beijinhos.
– Beijinhos.

Desligo a chamada e vejo as várias mensagens que tinha da minha mãe, mas também as do pessoal a combinar tudo para hoje. Já nem me lembrava que tinha combinado ir tomar um copo com eles, perdi a vontade.
Levanto da cama e vou à casa de banho lavar a cara e os dentes. Visto um vestido preto que me dá por cima do joelho, de manga cavada e com um pouco de decote. Calço os saltos e coloco as minhas coisas dentro da carteira. Faço um rabo de cavalo, deixando um fio de cabelo solto de cada lado do rosto e maquilho-me sem exagerar muito.
Saio do quarto e ouço barulho vindo da cozinha, por isso vou até lá.

– Eh laaaaaa! Onde vais assim minha gatona linda?? - diz a Daya assim que me vê e eu rio.
– Realmente, ainda à bocado estavas a dormir e agora estás assim toda sexy? Isso é tudo para mim? - diz o André depois de se levantar da cadeira e se agarrar a mim.
– Não amor, é mesmo para mim. Estou a precisar disto para melhorar a minha autoestima. Vou beber um copo com a malta, eu tinha-te dito.
– É verdade, já nem me lembrava. Até ia contigo, mas tenho que ir buscar a Sara e o Martim ao hospital daqui a pouco.
– Eles já vão ter alta?
– Sim, a Sara já está melhor por isso já a vão mandar para casa. Estou só à espera que ela me confirme a que horas a posso ir buscar.
– Está bem. E vocês querem ir? - pergunto olhando para a Daya e o Afonso.
– Querer quero, mas já viste bem a roupa que trago vestida? Não posso ir assim. - diz a Daya.
– É porque nunca vestiste roupa minha nem nada. - rio.
– Isso pareceu-me uma autorização para o fazer por isso, até já! - ela diz indo na direção do quarto.
– Eu também vou com vocês. O que vale é que não vim de calças de fato de treino e posso ir assim vestido.

Olho para a roupa do Afonso que ainda não tinha reparado como ele vinha vestido visto que mal olhei para ele. Está de calças de ganga, uma t-shirt branca da Nike e uns ténis da mesma marca. Vejo que ele repara que estou a olhar para ele e olho antes para o André.

– Vou ajudar a Daya. Até já!

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⏰ Última atualização: Apr 06, 2021 ⏰

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