Capítulo 19

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— Não, ele não conseguiu o que queria, mas por pouco.
— Boa, fico contente por ouvir isso. Apesar de tudo, esse bebé não tem culpa de nada.
— Não, mas agora o médico aconselhou-me a abortar.
— Como assim?
— Ele diz que a probabilidade de a criança nascer com deficiência é muito elevada, por causa do que aconteceu.
— E por isso quer matá-la? Isso é injusto. Não lhe dar uma oportunidade de viver?
— Eu sei, foi isso que eu disse. Só que honestamente não sei o que fazer. Se ela nasce realmente deficiente, eu não vou conseguir ter tanto tempo para ela como deveria. E não quero isso, não quero que nasça longe da mãe. Eu quero ter a melhor ligação possível com esta criança.
— Isso não pode ser uma opção para ti. Eu sei que é o teu corpo, mas é uma vida que está dentro de ti.
— Eu sei.
— Espero que penses bem nisso e que não cometas nenhuma asneira.
— Qualquer que seja a minha decisão, eu sei que vai ser a certa. Sinto isso.
— Tudo bem.
— O positivo disto é que já se sabe o sexo.
— Já?
— Já.
— E então?
— Então tenho que pensar se vou realmente levar esta gravidez para a frente, pois se não for, não vou querer saber o sexo do bebé, pois fico mais ligada ao saber.
— Sara...
— Eu sei, mas é a minha vida que também está em risco. E se for com a gravidez para a frente, vou querer fazer um baby shower, para descobrirmos o sexo do bebé e quero que sejas tu a tratar disso. Por isso, quero que fiques com esta carta onde diz o sexo. - ela diz entregando-me a carta.
— Eu?
— Sim, tu. Zara, eu quero pedir-te desculpas por tudo. És uma rapariga excelente que não merece nada do que passaste nem o que estás a passar. Também é por ti que penso em não ter este bebé. Já viste se é deficiente e é do André? Ele também vai ter que tomar conta dele e estando com ele, vais ter que ajudar. Se não tiver a criança de todo, ficas com o André só para ti e podes ser a mãe de todos os filhos dele.
— Eu não quero que te preocupes comigo. Esse bebé indefeso não tem culpa do que se passou. Se estás a pensar duas vezes nisso por causa de mim então tens que ter realmente esta criança. Eu não posso ser mãe, então agora há oportunidade de o André ter um filho e não lhe podes tirar isso, porque se não fores tu, não será comigo.
— O quê? Zara, eu não fazia ideia. Envolvi-te nisto tudo e só te devo estar a fazer sofrer mais, por te fazer lembrar isso. Desculpa, eu não queria.
— Como tu própria disseste, não fazias ideia. São poucas as pessoas que sabem disto. O André sabe porque já falámos sobre isto. Agora por exemplo o Afonso, ele não sabe e fomos os melhores amigos durante bastante tempo, e como sabes, chegámos a namorar. Não é algo que me sinta confortável de contar, então prefiro não dizer. Só que tu precisas de o saber pois se isto te fizer mudar de ideias, então vale a pena.
— Tratas da festa?
— Isso quer dizer...?
— Sim, eu vou ter o bebé.
— Fico contente por ouvir isso Sara.
— E sim, eu trato de tudo. Não te preocupes.
— Obrigada. Obrigada por tudo. Se não fosses tu, o mais provável era ter abortado em casa com tudo o que se passou. Zara, tu tens sido realmente incrível comigo. Nunca tive uma amiga que fizesse tanto por mim como tu e tu odeias-me.
— Eu não te odeio. Não és apenas tu a culpada de tudo. Para além de que eu e o André não estávamos juntos nessa altura, e eu estou com ele agora, apesar do que se passou. Então, posso dizer que podes contar comigo. Somos amigas.
— Obrigada Zara!

Ela aproxima-se de mim e abraça-me, sem eu estar à espera, mas eu retribuo.

— Será que estou a alucinar ou vocês estão mesmo a abraçar-se?
— André! Então, deixaram-te entrar.
— Sim, mas não mudes de conversa.
— Está tudo bem. Nós somos amigas agora. Ou não tá certo para ti?
— Para mim está ótimo, só que acho que já são amigas há mais tempo.
— Porquê?
— Porque ela tem-te pedido ajuda sempre a ti. Têm estado bastantes vezes juntas.
— Não gostas, é?
— Gosto sim. Simplesmente, há 4 meses atrás eu diria que isto nunca ia acontecer.
— Pois...
— Olhem, eu preciso de descansar e vocês também. Ide para casa que eu ainda vou passar cá a noite em observação. Mais uma vez, obrigada por tudo. Obrigada André.
— Não tens que agradecer. O que aquele gajo fez não se faz. Bater numa mulher grávida? Onde é que já se viu? Ele ainda vai levar no focinho.
— Podemos falar sobre isso amanhã?
— Sim, claro. Descansa.
— Até amanhã. - digo.

Vamos até ao McDonald's buscar algo para jantar e depois vamos para casa.

— Estás bem?
— Mais ou menos, encontrá-la naquele estado deu-me a volta à cabeça.
— Acredito, ela estava em péssimo estado.
— Sim. Eu nem acredito no que aconteceu. Aquele homem é uma besta.
— Não podia ter arranjado pior.
— Podia ser um junkie. A meu ver, era pior.
— Depende. Não é por ser drogado que vai ser pior que ele. Acredito que há muitos drogados que não tratam assim mulher alguma, quanto mais uma grávida.
— Sim, tens razão.
— Olha, eu vou deitar-me que amanhã tenho que me levantar cedo.
— Está bem amor. Até amanhã.
— Até amanhã.

Os seus lábios pousam nos meus e damos um pequeno beijo. Os meus olhos fixam-se na televisão para continuar a ver a série que ando a ver, You. Adoro ver esta série. Consigo identificar-me com a personagem, Becky. Apesar de não ter um namorado psicopata, acho eu, ou a minha melhor amiga apaixonada por mim, acho eu. A minha vida tem dado voltas de 180° a torto e a direito. Nem sei o que esperar do dia de amanhã.
Fixada na série, ouço a campainha tocar e fico a pensar se abro a porta ou não, pois não é hora de se ir chatear alguém.

Between HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora