O lado que mais pesar

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Ato 1
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O tique-taque do relógio era o único som a ser ouvido durante os jantares. Era a regra, afinal; conversas apenas nos cafés e almoços. A comida farta fumegava entre a família. Ainda que o silêncio fosse habitual, causou estranhamento nos jovens do recinto.

Rachel, a matriarca, não conseguia esconder a expressão pensativa e avoada que a tomava a cada cinco minutos. Vincent, por sua vez, disfarçava um misto de reflexão e preocupação ao brincar com a comida em seu prato.

Algo não estava certo.

"Está tudo bem?", indagou Ciel, o filho mais novo.

"Por que não estaria?", respondeu a mulher de imediato.

Foi o momento no qual Ciel descobriu que algo estava realmente errado. Rachel era péssima com mentiras e, quando interrogada sobre, sempre respondia pergunta com pergunta.

"O que está escondendo de nós, Rachel?" Alois não era bobo, também havia notado. A mãe se sentiria mais pressionada a dizer a verdade se fosse chamada pelo nome.

Truques que se aprende convivendo tanto tempo na mesma casa.

Rachel olhou na direção do marido, como se perguntasse o que deveria fazer em seguida. A afirmação silenciosa foi o que ela precisou para entender que eles não tinham mais escapatória.

"Acho que está na hora de contar algo que guardei por tempo demais", ponderou, largando os talheres sobre a mesa e adquirindo um olhar sério. "Como vocês sabem, a época dos avós de vocês foi marcada por guerras e mais guerras. A fome, a miséria, a dor... Matava a população aos poucos. Ninguém estava a salvo. Até que as supremacias de cada território decidiram criar um acordo. Todos os filhos deles — eu e meus irmãos do reino de cá, e o único herdeiro do reino de lá — já estavam casados, então não havia mais volta."

"Foi quando precisamos fazer uma promessa que mudaria tudo", prosseguiu Vincent. "Unir nossos filhos em matrimônio assim que fizessem 18 anos."

Ciel quase engasgou com a própria saliva, disfarçando a situação com uma tosse. Mas que porra...

Alois não pareceu se importar muito com a situação. Sinceramente, o jovem não tinha muitas perspectivas de vida, tudo o que desejava era ser feliz.

Não que as ambições de Ciel não envolvessem a felicidade, longe disso, ele apenas... Queria algo a mais. Ser um grande estudioso, talvez, ao lado de alguém que amasse realmente caso chegasse a se apaixonar mesmo. Não era uma prioridade.

"Sei que isso pode ser absurdo para vocês, mas, por favor, pensem um pouco. Imaginem o que aconteceria se as guerras voltassem? Quantos seres a mais não sofreriam?"

Muitos. Seres demais para simplesmente ignorar por um desejo, uma perspectiva. Suspirou pesadamente, levando mais uma colher da sopa à boca.

O aniversário de dezoito anos estava próximo, seria em uma semana. Um tempo que passaria voando caso ele aceitasse a proposta velada, mas que poderia ser seguido por muita tensão e desespero caso a negasse.

"Com quem?", indagou, tentando controlar a respiração descompassada.

"Os príncipes do reino infernal."

Se prometer, não case com o DiaboOnde histórias criam vida. Descubra agora