Casualmente

Surpresa

A viagem de volta foi mais longa do que eu gostaria. Eu estava ansiosa para te ver de novo, e isso fazia com que cada hora se arrastasse.

Eu me encolhi no meu assento, incomodada pelo frio do ar condicionado e tentei dormir. Pedro me deixou quieta e nos falamos pouco durante a viagem.

Depois que pousamos, nós chamamos um Uber e fomos para a minha casa. Ele me ajudou a guardar as malas e eu cozinhei um macarrão para almoçarmos. Comemos e ele despediu-se de mim. Parecia triste.

- Vou sentir sua falta.

- Porque tá falando assim?

Ele suspirou

- Os próximos 10 dias serão dele.

- Isso não significa que não poderemos nos ver.

- Bom, esse era o combinado. Eu tive você só pra mim por 17 dias. Duvido que ele vai me deixar furar o acordo.

Eu sorri para ele e lhe dei um beijo suave nos lábios, enlaçando seu pescoço com meus braços.

- A gente dá um jeito.

Ele sorriu, me abraçou forte e me deu um longo beijo na boca, despedindo-se em seguida.

Eu estava cheia de saudades de você e louca para te ver. Já era uma da tarde e eu sabia que você estaria almoçando.

Eu não te disse que estava na cidade. Você me esperava dali a dois dias, então eu quis te fazer uma surpresa. Tomei um banho, coloquei um jeans e camiseta, peguei uma jaqueta e enrolei uma echarpe no pescoço, pois havia esfriado. Prendi o cabelo ressecado pelo sol e pelo mar em um coque, passei uma batom nude e pedi um Uber. Fui até o seu trabalho. Cheguei às 14 horas em ponto.

O porteiro do prédio interfonou e então informou que você ainda não tinha retornado do almoço. Ele me disse que você passaria pela portaria, então eu avisei que esperaria.

Nesse momento, eu me viro para a porta e te vejo entrar. Em um primeiro momento, meu coração dispara de emoção e de alívio por finalmente te ver depois de tantos dias. Mas então ele para de bater por alguns segundos.

Você não está sozinho.

Havia uma mulher com você.

Vocês sorriam um para o outro e se tocavam. Ela colocou a mão no seu braço e você parou, virando-se para ela, então a beijou nos lábios, rápida e discretamente.

Senti meu coração se partindo.

Vocês entraram de mãos dadas e dirigiram-se ao elevador, passando pela portaria e cumprimentando o porteiro rapidamente. Você nem me viu.

Chocada, dirigi-me rapidamente até a porta, para que você não me visse. Eu me detive por alguns instantes para olhar para aquela mulher tão bonita que te acompanhava. Ela era quase tão alta quanto você, que não precisava se curvar para beijá-la, como fazia comigo. Estava bem vestida, maquiada, cabelos impecáveis. A elegância dela fazia frente à sua. Ela era loira, como a sua ex-esposa. E como ela, fazia um par perfeito com você.

Naquela hora, eu pensei que tinha te perdido. E doeu.

Quando você entrou no elevador e olhou para frente, nossos olhos encontraram-se rapidamente, antes da porta se fechar. Eu saí rápido dali e entrei em um táxi.

Estava mais frio e eu tentava conter as lágrimas, não iria chorar na frente de um estranho. Pedi ao motorista que desligasse o ar condicionado. Ele me olhou pelo retrovisor e desligou, depois perguntou se estava tudo bem.

- Sim. Só estou com frio.

Meu telefone apitou e eu o peguei na bolsa. Havia uma mensagem sua.

"Eu não sabia que você já tinha voltado. Passo na sua casa mais tarde para conversarmos."