OB/DREAM, Part 1

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Fui acordada pelo barulho de passos vindo do corredor. Após a adrenalina da noite anterior, meu corpo apagou e eu pude ter algumas horas de sono. Eu estava um pouco mais de meia hora atrasada para o meu turno mas ainda assim precisava me dar o luxo de um banho.

Estou tentando me recuperar enquanto deixo a água lavar todos os acontecimentos ruins que me consumiram nas últimas horas. Eu sei, hoje não vai ser um dia fácil. Minha cabeça dói um pouco, uma aspirina vai resolver isso. Queria que tudo pudesse ser resolvido assim, com um remédio.

Perder um paciente faz parte se você escolhe a medicina como profissão. É algo que aprendemos a lidar desde o primeiro dia de residência. Eles nos ensinam que não podemos criar laços, mas esquecem que somos feitos de carne e temos um coração.

Eu não estava com o melhor dos humores. Isso era fato. Addison Montgomery tinha uma boa parcela de culpa nisso, e eu simplesmente não sabia o porquê. Cristina me disse que eu deveria "superar o passado". Talvez ela esteja certa.

Isso não explica o que eu senti naquela noite em Boston. Nem na manhã seguinte, em que cogitei convidá-la pra um café antes do meu vôo. Ou na vontade de ligar para o número estampado no seu cartão de visitas. Eu não fiz. Eu preferi deixar aquele fim de semana no fundo de alguma gaveta. Mas somos feitos de carne e temos um coração. Não existia gaveta, e Addison ainda estava lá.

Addison agora está aqui, e eu continuo sem a certeza do que me incomoda quando estou com ela. Ela está sendo legal comigo. Nós somos adultas. Eu não espero que isso vire uma amizade, mas o convívio como duas pessoas crescidas é o básico.

Talvez seja tudo sobre Derek. Todos os desacertos, as culpas e pesos na consciência que ficaram intactos ali, escondidos em algum canto de nós duas. Talvez ela só queira ficar bem consigo mesma. E eu por mais que eu queira seguir em frente, será sempre difícil lidar com algo que me traga Derek de volta. Talvez eu tenha que "superar o passado". 

Ou talvez eu seja mesmo uma criança de dez anos.

De banho tomado e com alguma energia recuperada, me visto e planejo não encontrar Bailey pelos corredores. Eu estou realmente atrasada.

Pego um tablet na estação das enfermeiras e começo a verificar minha agenda. Hm, Glasses está comigo hoje, realmente será um teste de paciência. Bipo Glasses e mando ele me encontrar na UTI. Aproveito para atualizar meus horários enquanto espero o elevador.

— Eu não estou chateada.

Levanto minha cabeça e vejo Addison, com um copo de café em cada mão. Ela me entrega um. Eu aceito e ela sorri de um jeito tímido. Sem dizer nada, volta a seguir seu caminho.

— Ei! —  Digo antes que ela se afaste. — Por que está sendo legal comigo?

— Estou grande demais para joguinhos, Grey. — Ela vai embora com a mesma plenitude que veio.

Só percebo que o elevador chegou depois que ouço as portas se fecharem. Suspiro e aperto o botão mais uma vez. Pelo menos agora tenho um café.

• • •

  — Eu soube da Lisa, por que não me bipou? — Jo me pergunta indignada enquanto abre o seu almoço e mexe no celular ao mesmo tempo. — Cadê o Alex?

Grávidas e seus hormônios.  

— Porque você não é mais residente. — Como a minha salada enquanto observo ela colocar pimenta em algo que parece comida mexicana. — O que é isso?

— Guacamole. Ela era minha paciente também! — Agora, ela despeja algumas tortillas ali dentro e eu assisto hipnotizada o espetáculo da comida mexicana. — Cadê o Alex?

Alex entra na sala de atendentes com um pacote na mão.

— Aqui. — Ele beija Jo e entrega o pacote para ela. — O que é isso?

— Guacamole. — Respondo enquanto ela está ocupada demais tirando a sobremesa do pacote.

Alex pega o seu almoço na geladeira e se junta à nós.

— Montgomery está estranha hoje. — Ele começa com a boca cheia.

— Eu não sei do que você está falando. — Mantenho o meu foco no meu almoço.

— Ela ficou preocupada com você. — Paro de comer e presto atenção nele. — Quando você saiu do Joe's. Você atendeu ao chamado bêbada?

— Eu estava bem. 

— Não estava. Você esqueceu a sua bolsa, Mer.— Jo ri e coloca uma tortilla na boca.

— Ei! — Maggie, como sempre feliz demais, entra na sala de atendentes.— Oh, meu Deus, estou faminta. Isso é Guacamole?

Nós três olhamos para Jo ao mesmo tempo.

— O quê? Eu estou grávida!— Wilson exclama.

— Vocês sabem algo sobre a Arizona? — Maggie pergunta, curiosa. 

— Por quê? — Pergunto.

— Carina está aqui. — Todos param de comer e olham para ela. — Ela voltou.

Há dois meses Carina tinha ido embora com Arizona para Nova Iorque.

— Wow. Time OB/GYN está mais para OB/DREAM agora. — Alex diz em tom descarado e Wilson lhe dá um tapa no braço.— O quê?! Eu estou brincando!

— Bom para o hospital. — Digo, acabando de comer e me levantando.— Eu preciso ir. Pode levar as crianças para casa hoje? Eu tenho uma cirurgia mais tarde.

— Sim, sem problemas. — Maggie sempre me salvando.

  • • •  

Olho o relógio. 21h47. Cinco horas de cirurgia, meu corpo pede trégua e uma boa noite de sono. Pedi para Glasses fechar o paciente e vim me preparar para ir embora. O hospital está mais tranquilo que o normal. Hoje foi um dia tranquilo. Preciso deixar com Bailey alguns papéis sobre uma aula que darei em Ohio no mês que vem.

Chego no andar onde ficam os escritórios, mas ela já não está lá. Tento a porta—que felizmente está aberta—e deixo os papéis em cima da mesa junto a um bilhete para serem assinados. Atravessar o prédio até a saída principal não é uma opção, então vou a caminho do elevador mais próximo. Ouço alguém discutindo em um dos escritórios mais a frente. Mais alguns passos e não tenho dúvidas: é a sala de Montgomery. A calmaria do local me permite ouvir algumas palavras e processo que ela está sozinha. Ela está falando ao telefone.

"Esse não foi o combinado. Me escuta! Você pode pelo menos não ser tão egoísta? Eu não estou te deixando, eu não estou deixando meu filho. Eu preciso de um tempo longe de Los Angeles e você deveria entender isso!"

As persianas estão fechadas mas ainda consigo ver Addison de pé. Paro perto da janela, ela não consegue me ver. 

"Você está complicando as coisas, Jake! Eu quero você, eu quero o Henry. Eu te amo! Eu nunca disse que deixaria a minha família, eu nunca faria isso. Considere aceitar o que vai me fazer feliz por um momento. Seattle vai me fazer feliz. Por que você não consegue estar comigo nisso?"  

Por que ela não foi sincera comigo?  

"Você pode estar aqui! Nós discutimos isso! Ok. Ok, Jake. Segunda, 8h. Vou buscar vocês no aeroporto."

Montgomery definitivamente não está bem. Vejo ela desligar o telefone, se sentar e cobrir o rosto com as mãos. Ela está chorando. Droga.

Devo entrar? Bom, ela não foi sincera quando perguntei se estava tudo bem.

Sigo meu caminho, o elevador está no andar. Eu vou, mas pensar nisso é inevitável. Somos feitos de carne e temos um coração.

Not In The CardsOnde histórias criam vida. Descubra agora