Should I Go?

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— Mamãe... Tem alguém na nossa varanda.

Bailey corre assustado até o quarto onde estou terminando de arrumar as mochilas das crianças. Amanhã viajarei cedo para Ohio, onde darei as duas aulas na última turma de medicina da Ohio University. Por alguma força do destino todos desta casa estão de plantão, então Alex se ofereceu para levar as crianças para a escola e pediu para elas passarem a noite com ele e Jo.

— Quem está na nossa varanda? — Pergunto despreocupada, pensando ser algo da sua cabeça. Não é a primeira vez que ele se assusta com alguém chegando.

Ele não responde e abraça minha perna, escondendo o rosto. Me preparo para descer e Zola me ajuda a carregar as bolsas enquanto eu levo Ellis no colo.

Desço as escadas e quando me aproximo da porta de vidro a vejo parada lá fora. Meu coração tropeça por um instante, mas respiro fundo e sigo, sem parecer afetada por sua presença.

Addison está distraída, se virando para me olhar quando escuta os primeiros sinais da fechadura se abrindo. Ela é a última pessoa no mundo que eu esperava ver. Venho evitando Montgomery por algumas semanas e essa foi a decisão mais sábia a se fazer. Encontrar com ela pelos corredores e dividir cirurgias é uma tarefa difícil, mas basta algum tempo e tudo voltará ao seu devido lugar; cada uma no seu canto.

— Posso te ajudar em algo? — Pergunto à ela, dando de ombros, enquanto ela me olha.

— Podemos conversar? — Ela diz, com uma voz rouca e macia que me faz ter leves arrepios.

— Desculpa, Addison. Eu estou de saída. — Tranco a porta e pego a mão de Bailey, que a observa curioso.

— Meredith... Por favor. — Eu olho dentro dos seus olhos, onde há um misto de tristeza e esperança, e me sinto vacilar diante deles.

— Zozo, pode ir abrindo o carro para mim? — Dou a chave à ela. — Querido, vá com ela.

Bailey e Zola vão para o carro e eu permaneço com Ellis no colo.

— Eles são lindos. — Addison diz, os observando e sorrindo timidamente.

— O que você quer? — Minha voz trêmula me denuncia.

— Que você pare de me ignorar. — Ela é direta. — De ignorar isso, Meredith.

— Não existe "isso", Addison. — Meu peito dói com as minhas próprias palavras. — Eu preciso ir. Você deveria ir também. Boa noite.

Desço as escadas da varanda em direção à garagem e fecho os olhos por um segundo, suspirando para engolir o nó que se forma no fundo da minha garganta. Posso quase adivinhar que ela me observa, mas me mantenho segura em não olhar para trás.

— Prontos? — Sorrio para as crianças. Coloco Ellis na cadeirinha e sento ao volante, dando partida no carro.

• • •

O caminho de volta parece mais longo. Addison não sai da minha cabeça. Ligo o rádio em uma tentativa de esquecer o momento de horas atrás, mas By Your Side da Sade começa a tocar, me fazendo apertar o botão de desligar. Parece que nesses momentos o mundo vai contra você, não? Eu só quero chegar em casa, colocar uma roupa bem confortável e tomar uma taça de vinho enquanto faço as malas.

Chove bastante e peço aos céus para que isso não atrase o meu voo. Vou com um dia de antecedência, mas mal vejo a hora de estar longe de Seattle. Pelo menos por três dias.

Finalmente avisto a entrada da minha garagem, e suspiro aliviada ao estacionar. Procuro um guarda-chuva no porta luvas e no banco de trás, mas a sorte não está comigo esta noite. Saio rapidamente do carro, improvisando uma proteção com o meu casaco sobre a minha cabeça. Ando o mais rápido possível com a intenção de não me molhar muito, atenta às poças que já se formam no caminho de pedra até a varanda.

Not In The CardsOnde histórias criam vida. Descubra agora