Prólogo

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Verão. 

Janeiro de 2007

A brisa fresca do mar penetrava o quarto através da janela. Eu estava no Hotel Othon em Copacabana, situado na Avenida Atlântica. Era um hotel requintado, onde costumava me encontrar com alguns clientes. Fechei meus olhos e me deixei sentir a brisa marítima. Quis esquecer por que estava naquele hotel. Às vezes funcionava.

— Dessa vez você se superou!

Senti as mãos experientes daquele homem sádico percorrendo meu pescoço, e me virei no intuito de dizer que a hora já havia acabado.

— Você está aprendendo os caminhos da tortura, e me faz sentir que posso continuar confiando em seus serviços! — disse, dando um risinho malicioso.

Olhei-o. Era um dos meus clientes mais ricos. Bem sucedido, e com manias muito estranhas. Como podia?! Nos seis meses em que me encontrava com ele, sabia que seria bem recompensada, mas teria que dar o melhor de mim, com sessões de sadomasoquismo e humilhações. Ele gostava de chegar ao limite da dor, e, às vezes, me assustava, quando exigia que eu batesse nele cada vez mais. Mas eu acatava suas ordens, pela recompensa. Dava o melhor de mim, com meus golpes com o chicote que ele trazia em sua mala de executivo

— Jorge, eu tenho que ir, sua hora acabou.

Ele fez menção de me beijar, e eu tapei seus lábios gentilmente com minhas astutas mãos de uma profissional que odiava beijar clientes.

— Vou tomar um banho! — disse, ansiando por uma ducha a fim de me revigorar daquela energia desgastante da madrugada e das mentiras diárias que dizia àqueles homens carentes de atenção. Como dizia o poeta Cazuza, mentiras sinceras que interessavam.

— Vou te dar o seu pagamento. Aliás, recompensar — falou, me olhando dos pés à cabeça com malícia e com o olhar de alguém quando gosta de um "produto". Estava apenas de roupa íntima.

Após sair do banho, ele veio com um maço de notas de cem reais, que eram uma visão do paraíso, uma recompensa depois de certos sacrifícios. Ufa! Não via a hora de ir para casa e dormir até cansar. Ele me deu o valor que costumava, mil reais. Tinha maluco para tudo! Dinheiro para ele, não era problema, afinal. "Malucos como esse, são bons de se encontrar" pensei, divertida. Dei um selinho e disse:

— Muito obrigada. Agora preciso ir.

— Você não quer me ajudar a dar um tiro? — ele ofereceu ao se sentar na cama, colocando as mãos "nervosas" em sua companheira inseparável, situada em cima do caixote que ligava o ar condicionado. Estava usando cocaína. Mas, eu não usava drogas.

— Não. Fica à vontade — respondi, ao pegar minha calça jeans situada na poltrona ao lado da cama. Calcei meus scarpins e vesti minha camiseta Lacoste. Gostava de adquirir um ar sério quando saía do hotel.

Ele começou a aspirar o entorpecente, e eu, como não gostava dessas cenas, logo coloquei o dinheiro na bolsa e quis sair dali de imediato.

— Eu já vou indo. Boa noite — ele respondeu, fazendo um gesto com o dedo mindinho enquanto aspirava a droga.

Ao sair pelo corredor e me dirigir até o elevador, pensava em como os homens destruíam sua potência masculina usando esses troços. Mas, parecia que eles não se importavam.

A Flor do PecadoWhere stories live. Discover now