Capítulo 15

4 0 0
                                    

Padre Marcos

— Seu primo está um pouco melhor, mas ainda precisa de atenção. Para ser honesto, ele tem muita dificuldade em aceitar e entender sua bipolaridade. Já se recusou muitas vezes a tomar os tranquilizantes e inibidores de humor. Infelizmente, muitas pessoas que têm esse problema acham que usando algum tipo de droga, como o álcool, cocaína e afins, vão se sentir melhor, mas isso é mais uma ilusão de suas mentes desestabilizadas pelo transtorno — dizia um dos médicos da clínica, enquanto caminhávamos pelo corredor.

— O senhor não tem alguma previsão de melhora?

— É muito relativo, porque cada caso é um caso. Têm pacientes que ficam uma semana e têm outros que ficam meses. Como seu primo ainda está resistente, não sei dizer ao certo. Talvez mais duas semanas. Mas, como nossa clínica possui muitas atividades, isso contribui para a melhora, então, quem sabe, talvez fique por menos tempo. Ele começou a querer ficar mais enturmado, tem conversado, e isso é bom para a recuperação. Não é bom que o paciente se isole. Agora, nesse momento, eu acho que ele está na sala de jogos. Vamos ver, eu acompanho o senhor.

A clínica era vasta e confortável. Havia salas de terapia em grupo, área de lazer, uma grande piscina e a sala de jogos. O médico psiquiatra que cuidava de Fábio era um homem de uns quarenta e poucos anos e um tanto calvo. Me pareceu simpático ao me receber pela segunda vez e sempre pronto a responder minhas dúvidas. Na verdade, eu tinha muitas. Não sabia quase nada desse transtorno, queria saber e ajudar Fábio no que eu pudesse. Era triste ver um rapaz tão jovem com tantos problemas.

— Padre Marcos, eu não sei se o senhor sabe, mas há indícios de que Van Gogh, Beethoven e outros artistas sofriam desse mal, mas, na época, muito pouco se sabia sobre essa doença. Van Gogh cortou a própria orelha e depois, provavelmente em um dos seus delírios, suicidou-se com uma arma. Eu, desde que me formei em psiquiatria há mais de vinte anos, venho lendo muitos desse casos envolvendo artistas. Os bipolares são muito inteligentes e têm uma mente brilhante. Seu primo não é diferente, ele sabe enrolar direitinho quem não o conhece direito. Ele tinha uma maneira de fingir que tomava os remédios, e depois descobri que não estava tomando. Aqui tem câmeras, mas, mesmo assim, ele nos enganou. Temos que ficar muito atentos, sabe, padre? Ele toma remédio com muito custo, tem crises de depressão... Seu primo é esperto, e se não ficarmos atentos, ele nos engana direitinho. — O médico deu uma risadinha e acrescentou: — Parece criança quando não quer tomar remédio. Mas, ultimamente, eu tenho notado uma coisa.

— O quê?

— Tem uma enfermeira daqui que parece estar gostando do seu primo. E acho que é recíproco.

— Mas, como assim? Não é proibido médico e paciente se envolverem?

— É proibido aqui dentro, claro. Eu já até conversei com a moça que quero e preciso que faça seu trabalho de forma séria. Ela tem se afastado, mas, parece que seu primo a conquistou.

— Mas ele tem namorada. Parece que vão até se casar.

— E por que essa moça ainda não veio visitá-lo?

— Ela virá por esses dias. Minha tia a proibiu vim vê-lo. Eu não entendo, isso é possível?

— É possível. Afinal, ela é quem paga e se não quiser que determinada pessoa venha, ela pode fazer isso.

— É uma injustiça. — Suspirei.

Já estávamos no corredor que dava para a sala de jogos, e logo avistei Fábio jogando sinuca com um rapaz. Ele me viu e acenou, pedindo-me para esperar. Eu balancei a cabeça em gesto afirmativo e disse ao doutor:

A Flor do PecadoWhere stories live. Discover now