Capítulo 4

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Gardênia

A boate fervilhava e aos poucos os frequentadores começaram a chegar. Haviam clientes assíduos, outros nem tanto e que apareciam de mês em mês. Haviam alguns que conheciam as meninas mais antigas há muito tempo. Uma delas era a Shaila, muito bem procurada por sinal. Era bem bonita e devia ter uns trinta e dois anos, mas pelo o que eu via, se cuidava muito. Tinha um corpo de menina. Quero chegar aos trinta assim. Aliás, já até havia falado isso para ela e perguntado qual era o segredo para se manter tão bonita. Ela me disse, com humor, que o segredo era dinheiro. Me relatou que parte do valor que ganhava, ela investia em si mesma, porém, guardava a outra parte.

Shaila disse que cuidava da pele, cabelos e malhava. Falou que usava cremes especiais rejuvenescedores e procurava manter os cabelos sempre aos cuidados de seu cabeleireiro, cujo mantinha seu megahair sempre impecável, e era bem caro, diga-se de passagem. Ela trabalhava na noite há muito tempo, desde seus dezesseis anos. Perguntei se ela não se sentia saturada daquilo tudo, e ela respondeu que precisava de mais um tempo para comprar algum flat luxuoso ou uma bela e enorme casa. Fiquei refletindo. Parece que realmente o dinheiro era um antídoto, uma droga estimulante que nos dava prazer e fuga ao mesmo tempo.

Suspeitei que Shaila, qualquer hora, iria casar com esses coroas ricos com quem costumava sair. Nada contra, mas acho que não conseguiria me casar por dinheiro. Já tive muitas propostas, mas sempre recusei. Eu gostava de dinheiro, mas do meu dinheiro. Tinha o sonho de ter meu apartamento requintado, com móveis luxuosos, e ser proprietária de algum negócio rentável. Já até tinha comentado isso com meu gerente, que me instruía com sugestões de investimentos, mas ainda era apenas uma ideia. Precisava pensar com calma a respeito do que faria no futuro. Sentia que não tardaria a chegar. Shaila me relatou que trabalhou um tempo em São Paulo e revelou que lá o ganho era mais alto, porém, tinha mais concorrência, além de ser mais desgastante. Observava-a conversando animadamente com um rapaz, ambos estavam sentados e bebiam drinques, ao que parecia, de iogurte com morango e vodca. Decidi pedir um ao barman, que sorriu e brincou:

— Você tem que beber tequila pra ficar doidona.

— A noite só está começando pra já ficar doidona, Celso — disse, sorrindo.

— E hoje eu quero pegar leve.

Pensei se conseguiria. Havia bebido demais na noite anterior, na tentativa de escapar de minha mágoa de Fábio. Fiz striptease com vontade de seduzir o mundo.

— Você quer forte ou fraco?

— Fraco, por enquanto.

Ao pedir o drinque, senti uma mão em minha cintura e logo me assustei. Olhei para trás e vi que era Mila.

— Oi!

— Oi, Mila.

— Animada pra noite?

— Estou, e você?

— Estou no brilho! — Ela fez um gesto remexendo os dedos, pondo-os para o alto. Parecia estar bem agitada.

Brilho era quando se usava algum entorpecente. Ela ficava bem eufórica quando isso ocorria.

— Quer um tapinha depois, lá fora?

— Não, eu não curto essas coisas.

— Boba. Você vai ficar bem mais animada e trabalhar o triplo. Eu me sinto bem mais sensual e sem vergonha com a minha menininha.

Menininha era a cocaína. Nunca me senti com vontade de experimentar nenhum tipo de droga. Para mim, era o cúmulo, o fim de uma garota de programa.

A Flor do PecadoWhere stories live. Discover now